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Desarmamento opõe interesses de ONGs e produtores de armas
DA REPORTAGEM LOCAL
Não é apenas nos Estados Unidos que a
polêmica em relação à proibição da
venda de armas de fogo é inflamada, como mostra o documentário "Tiros em
Columbine". No Brasil, a discussão sobre o direito de ter ou não armas de fogo
também é altamente combustível.
De um lado, ONGs como o Instituto
Sou da Paz e a Desarme, do Viva Rio,
pregam o desarmamento da população.
De outro, a idéia da proibição da venda
de armas de fogo enfrenta forte resistência de produtores e amantes de armas,
representados por entidades como a
ANPCA (Associação Nacional dos Proprietários e Comerciantes de Armas).
Mas, antes de entrar nessa polêmica, é
importante entender um pouco como o
país trata a questão das armas de fogo.
Hoje, não é fácil conseguir uma arma
legalmente no país. Em primeiro lugar,
há um controle sobre os tipos de armas
vendidas. Para revólveres, o calibre máximo é 38, já, para pistolas, 380.
Para comprar uma arma é necessário
fazer um registro na polícia, ter mais de
21 anos, não ter antecedentes criminais,
apresentar RG, título de eleitor, CPF,
comprovante de residência e registro de
que está empregado. O processo de registro, segundo o Folhateen apurou, demora cerca de 40 dias. De posse desse registro, a pessoa tem o direito de ter a arma em sua casa ou no trabalho, mas não
pode portá-la.
Para andar armado, é preciso ter um
porte de arma. E, para tirá-lo, é preciso
passar por um exame psicológico e por
um exame que mede a capacidade técnica de uso a arma.
Hoje, há dois projetos para a proibição
da venda de armas de fogo na Câmara e
no Senado. Proposta pelo governo federal em 1999, a proibição está parada na
Câmara, pois não há consenso em nenhum partido sobre a questão, e ela enfrenta o lobby da indústria de armas e
munição. Na Câmara, o projeto inicial
foi alterado e o texto final apenas aumenta as exigências para a comercialização e
o porte fica restrito a policiais, membros
das Forças Armadas e outras autoridades, esportistas e moradores de áreas ermas. No Senado, segue a proposta de
proibição.
Favorável à proibição, o diretor do Instituto Sou da Paz, Denis Mizne, 26, argumenta que a maior parte das armas que
circulam no país, mesmo na mão de bandidos, é feita no Brasil e de calibre permitido. "A maior porta de entrada de armas
é a produção legal brasileira. É preciso
barrar a venda no país, para que quem
tenha sua arma roubada ou perdida não
alimente ainda mais o mercado negro",
diz. "O segundo ponto é controlar o contrabando. Porque a arma sai do Brasil,
vai para o Paraguai e volta contrabandeada. E o terceiro é fiscalizar as empresas de segurança privada e a polícia, pois
há casos de desvios", completa.
Também a favor da proibição, Jessica
Galeria, 26, coordenadora da Desarme,
defende que o excedente de armas
apreendido pela polícia seja destruído
para que essas armas não sejam desviadas para o mercado ilegal. Ela também
chama a atenção para o fato de armas do
Exército argentino terem sido apreendidas no Rio de Janeiro recentemente, uma
evidência de que também há contrabando de armas daquele país. "O Brasil tem
um dos mais altos índices do mundo de
mortes por arma de fogo. A maior parte
desses homicídios são feitos com armas
leves, como pistolas e revólveres, que são
vendidas legalmente no país."
O Folhateen contatou Leonardo Arruda, diretor de relações públicas da ANPCA, e, atendendo a um pedido dele, enviou-lhe perguntas por e-mail tratando
da proibição da venda de armas e de sua
relação com os jovens e não obteve resposta até o fechamento desta edição.
Contudo, suas idéias sobre a questão
do desarmamento estão bastante claras
em artigos disponíveis na internet, no site www.armaria.com.br. Em texto intitulado "O Mito da Sociedade Desarmada
ou a Cartilha da Utopia", Arruda ataca as
justificativas para o desarmamento, dizendo que os argumentos de quem prega
essas idéias são "falaciosos" e que "não
está na abundância das armas a causa da
violência no Brasil".
Arruda afirma que a ANPCA estima
que existam armas em apenas 5% dos lares brasileiros. "Para todos os
efeitos, o Brasil é um país desarmado", escreve.
Por outro lado, estudos da
Unesco dão conta de que o
Brasil é o país onde mais se
mata por arma de fogo no
mundo, e que as principais
vítimas são os jovens. O "Mapa da Violência 3" registra
que 29,5% das mortes juvenis
no ano 2000 foram causadas
por armas de fogo.
(FM e GW)
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