|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
música
dubstep
Entre no clima
sombrio e cinzento desse novo
estilo da música eletrônica inglesa
DANIEL SOLYSZKO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O som é esparso, com
pouco ou nenhum
vocal, e linhas de
grave intensas parecem querer destruir as caixas de som.
As batidas possuem uma qualidade cinematográfica: imagens de dias cinzentos, concreto, paisagens urbanas desertas
e viagens de ônibus ou de carro
tarde da noite logo vêm à cabeça. Esse é o dubstep, estilo de
música eletrônica saído do underground de Londres que vem
ganhando o mundo.
O termo apareceu pela primeira vez em 2002 na revista
norte-americana "XLR8R". A
explosão, porém, só viria em
2006, com hits como "Midnight Request Line", de
Skream, e álbuns como a estréia homônima de Burial e
"Memories of the Future", parceria do DJ Kode 9 com o MC
Spaceape.
Os dois últimos saíram pelo
selo Hyperdub, considerado
um dos melhores do gênero. "O
tipo de música que lançamos
está sempre no limite do dubstep e incorpora diversas influências, como grime e hip
hop", afirma Kode 9, que também comanda a gravadora.
O segundo disco de Burial,
"Untrue", lançado em 2007,
ajudou a consolidar a popularidade do estilo. Kode 9 falou um
pouco sobre o colega, que se recusa a aparecer ou dar entrevistas: "Ele tem feito esse tipo de
música há anos, acho que o
ponto importante foi quando
eu percebi que ela funcionaria
melhor no formato álbum.
Acho que o tipo de ritmos, paisagens sonoras e atmosferas
que ele cria são poderosos".
Um dos melhores discos do
ano passado foi "Underwater
Dancehall", de Pinch, principal
nome da cena em Bristol. A cidade tem uma forte tradição de
reggae e dub: "Isso ocorre devido à forte presença jamaicana
na cidade. Mas sou influenciado por muitos tipos de música,
principalmente jungle, tecno,
garage, além de dub. Gosto de
pensar que tudo isso é refletido
no catálogo da Tectonic", diz,
sobre a gravadora que administra e pela qual lança seus discos.
Desde o ano passado o dubstep vem ganhando cada vez
mais espaço em Londres. A
parceria entre Benga e Coki, do
Digital Mystikz, "Night", se tornou um dos grandes hits do
ano, tocando em clubes de diversos estilos musicais.
O nível de popularidade na
Europa é tão grande que o gênero já está sendo criticado por
repetir as mesmas fórmulas. O
crítico musical britânico Simon
Reynolds, autor de "Energy
Flash" (livro que conta a história da música eletrônica), acha
que o som está ficando com clichês, embora seja efetivo e
agradável. "Sempre mantenho
os ouvidos atentos para o que
artistas como Kode 9 estão fazendo. É um pós-dubstep".
Um dos representantes do
gênero no Brasil é Bruno Belluomini, que toca há mais de
três anos. Ele acredita que o
dubstep, embora ainda não tenha virado pop, já está chegando ao ponto de saturação.
"O que surpreende são as
pessoas que buscam outras formas de reinventar o som, e isso
vai continuar existindo. A tendência está sendo algo mais rápido, com influências de tecno,
feito para a pista. O half-step e o
experimental devem ficar para
trás", afirma.
Dubstep ainda é pouco conhecido no Brasil, mas seus climas soturnos fazem perfeito
sentido numa cidade como São
Paulo. Agora é esperar que alguém traga seus DJs para cá.
Texto Anterior: 02 Neurônio: Benção, mãe! Próximo Texto: Escuta aqui - Álvaro Pereira Júnior: Corra para o mundo de Gnarls Barkley Índice
|