São Paulo, segunda-feira, 05 de maio de 2008

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música

dubstep

Entre no clima sombrio e cinzento desse novo estilo da música eletrônica inglesa

DANIEL SOLYSZKO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O som é esparso, com pouco ou nenhum vocal, e linhas de grave intensas parecem querer destruir as caixas de som.
As batidas possuem uma qualidade cinematográfica: imagens de dias cinzentos, concreto, paisagens urbanas desertas e viagens de ônibus ou de carro tarde da noite logo vêm à cabeça. Esse é o dubstep, estilo de música eletrônica saído do underground de Londres que vem ganhando o mundo.
O termo apareceu pela primeira vez em 2002 na revista norte-americana "XLR8R". A explosão, porém, só viria em 2006, com hits como "Midnight Request Line", de Skream, e álbuns como a estréia homônima de Burial e "Memories of the Future", parceria do DJ Kode 9 com o MC Spaceape.
Os dois últimos saíram pelo selo Hyperdub, considerado um dos melhores do gênero. "O tipo de música que lançamos está sempre no limite do dubstep e incorpora diversas influências, como grime e hip hop", afirma Kode 9, que também comanda a gravadora.
O segundo disco de Burial, "Untrue", lançado em 2007, ajudou a consolidar a popularidade do estilo. Kode 9 falou um pouco sobre o colega, que se recusa a aparecer ou dar entrevistas: "Ele tem feito esse tipo de música há anos, acho que o ponto importante foi quando eu percebi que ela funcionaria melhor no formato álbum. Acho que o tipo de ritmos, paisagens sonoras e atmosferas que ele cria são poderosos".
Um dos melhores discos do ano passado foi "Underwater Dancehall", de Pinch, principal nome da cena em Bristol. A cidade tem uma forte tradição de reggae e dub: "Isso ocorre devido à forte presença jamaicana na cidade. Mas sou influenciado por muitos tipos de música, principalmente jungle, tecno, garage, além de dub. Gosto de pensar que tudo isso é refletido no catálogo da Tectonic", diz, sobre a gravadora que administra e pela qual lança seus discos.
Desde o ano passado o dubstep vem ganhando cada vez mais espaço em Londres. A parceria entre Benga e Coki, do Digital Mystikz, "Night", se tornou um dos grandes hits do ano, tocando em clubes de diversos estilos musicais.
O nível de popularidade na Europa é tão grande que o gênero já está sendo criticado por repetir as mesmas fórmulas. O crítico musical britânico Simon Reynolds, autor de "Energy Flash" (livro que conta a história da música eletrônica), acha que o som está ficando com clichês, embora seja efetivo e agradável. "Sempre mantenho os ouvidos atentos para o que artistas como Kode 9 estão fazendo. É um pós-dubstep".
Um dos representantes do gênero no Brasil é Bruno Belluomini, que toca há mais de três anos. Ele acredita que o dubstep, embora ainda não tenha virado pop, já está chegando ao ponto de saturação.
"O que surpreende são as pessoas que buscam outras formas de reinventar o som, e isso vai continuar existindo. A tendência está sendo algo mais rápido, com influências de tecno, feito para a pista. O half-step e o experimental devem ficar para trás", afirma.
Dubstep ainda é pouco conhecido no Brasil, mas seus climas soturnos fazem perfeito sentido numa cidade como São Paulo. Agora é esperar que alguém traga seus DJs para cá.


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