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música
Aos 25 anos de estrada, banda supera desafios, "cano" de produtor, obesidade e até paternidade para detonar o sistema
Artilharia do Ratos de Porão fuzila emocore, Igreja e Lula
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois da bonança, o
caos enfim volta.
Num mundo em
que até as mães
gostam do punk
rock de rádio, "Homem Inimigo do Homem" cai como uma
bênção. Mas, por causa dos filhos, a turnê do Ratos de Porão
terá que ser mais pensada.
"Eu tenho dois pequenos,
não dá para viajar tanto assim",
diz o urrador João Gordo, 42.
A novidade é o ataque ao
emo. "Crossover 2006 at War
Against Emo Shit" é o que se lê
no berço do CD e dá a pista da
faixa "Equivocado": "Good
Charlotte é uma bosta/ Simple
Plan é uma bosta/ Tudo que você ouve é uma bosta". Aplausos.
"Emocore é som conformado, bunda-mole, música de loser que não trepa. Acho uma
bosta", diz Gordo, ao seu estilo
rápido de falar/cantar. No
mais, o primeiro CD pela Deck
é uma cartilha atualizada do
hardcore, com a
metralhadora de
Gordo ao lado do
peso e velocidade
habituais de Jão
(guitarra), Boka
(bateria) e Juninho, novo baixista.
"O tripé somos
eu, Jão e o Boka. Se
sair um, a casa desaba. Mas um novo
integrante sempre
traz idéias", diz
Gordo. Juninho é o
quinto a gravar
com o RDP.
Além das indignações, o disco traz
uma decepção. O
produtor americano Billy Anderson, que já trabalhara com o RDP antes, deu o
cano.
"Depois de combinar tudo,
parou de responder os e-mails.
Botamos o Jello [Biafra,
dos Dead Kennedys] para entrar em contato
com ele. Fomos achá-lo
na Argentina, produzindo o disco de uma banda
stoner, Los Natas. Aí, ele
deu uma de joão-sem-braço: "Pô, vocês sumiram...'"
Resolvido em São Paulo com o dedo de Daniel
Ganjaman, o pé na porta
voa com "Pedofilia Santa", baseada nos abusos
sexuais perpetrados por
padres, e vai até Lula em
"Quem Te Viu".
Mas Gordo diz que não
chegou a se decepcionar
com Lula. "Primeiro porque não votei nele; não voto em
ninguém. E assim que ele botou
de ministro o Gilberto Gil, que
é do reggae e curte um "cigarrinho do diabo", vi que não ia dar
certo. O barato do
Lula é churrasco e
bola."
PCC
Talvez a mais
atual das 12 faixas
seja "PM de Satã",
quase profética: ela
veio antes da represália policial que
matou mais de uma
centena de suspeitos nos ataques do
PCC em SP.
"Eu estava na Europa. Na internet, vi
uma mistura de medo e euforia, nego
achando legal, os
motoboys querendo
ver o circo pegar fogo, boatos. O
objetivo do paulista era voltar
cedo para casa."
Musicalmente, o trabalho
atesta a coerência -a característica mais preciosa no
gênero que fazem- de 25
anos de trash e hardcore,
com frutos como "Crucificados pelo Sistema"
(1983) e "Anarkofobia"
(1991).
A peteca não caiu mesmo ante desafios como
trocas de integrantes, a
cirurgia contra a obesidade mórbida de Gordo
e, não se pode esquecer, o
sono dos filhos.
"Eu curto som porrada. Curto grindcore, curto Krisiun. Isso daí não
muda, então foda-se",
encerra Gordo, cada dia
mais magro e agressivo.
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