São Paulo, segunda-feira, 06 de março de 2006

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MÚSICA

Bandas brasileiras surgem no mercado indie europeu com teclados que marcaram a sonoridade do pós-punk dos anos 80

Escuridão eletrônica

LEANDRO FORTINO
DA REPORTAGEM LOCAL

Sons sintéticos saem da escuridão em que a música eletrônica nacional se encontra para ganhar luz do outro lado do Atlântico. Duas bandas nacionais que cantam em inglês começam a aparecer no mercado independente europeu com sonoridade inspirada por teclados que foram usados por artistas do pós-punk e do tecnopop inglês no início dos anos 80.
Há mais em comum. Tanto o trio franco-brasileiro de música eletrônica gótica 3 Cold Men quanto o quarteto mineiro de electro Digitaria têm seus discos de estréia lançados por dois selos alemães de música underground.
Formado em São Paulo, em 1999, pelos amigos Maurizio Bonito e Alex Twin e pelo vocalista francês Franck Lopez, o 3 Cold Men lança agora no Brasil seu segundo CD, "Urban RMXS", que traz remixes das faixas do disco de estréia do trio, de 2004, ainda inédito em território nacional.
"A gente sempre teve melhor reação do público lá fora do que aqui. A impressão que passa é que você é mais bem aceito quando faz primeiro um trabalho no exterior. É uma espécie de carta de recomendação", explica Maurizio, responsável pela sonoridade eletrônica do 3 Cold Men.
Ele conta que, hoje, usar a palavra gótico para descrever um estilo musical caiu em desuso: ""Dark wave of romantic" é um termo mais apropriado, pois reúne tudo que é meio underground, como os estilos industrial, EBM e gothic metal".
Segundo Maurizio, a diferença entre electro e a música eletrônica gótica dos anos 80 (o synthpop) "é que o electro é cínico, enquanto o synthpop é romântico".
"Há uma ligação, mas o pessoal da "dark wave of romantic" prefere não incluir o electro no termo, porque o estilo está na mídia e não é mais underground."
Maurizio confessa que o visual gótico exagerado do trio é mais uma adequação ao estilo do que um modo de vida. "Pensamos no pacote completo. Se você faz uma banda para um determinado setor da música, tem que ter a produção coerente."
Já o Digitaria prefere fugir do rótulo gótico, apesar de a sonoridade da banda e o visual dos integrantes terem a ver com o estilo. "O gótico é uma coisa que todos da banda gostam, mas não somos assim como o 3 Cold Men. É uma influência que existe, mas é só uma das influências. Muitas bandas se dizem electro gótico, que é uma coisa bem segmentada, mas não é o nosso caso", explica o tecladista Danihell Albinati, que, com Fabiano Fonseca, montou o quarteto.
"Nos anos 80, a coisa era mais romântica. A música era feita para ouvir em casa. O electro adiciona aos anos 80 uma coisa dos anos 90, a de a música ter de servir para tocar na pista. Traz ainda a filosofia dos anos 00, de juntar todas as coisas."
O Digitaria, que toca no festival Campari Rock, em abril, terá seu disco de estréia lançado neste ano na Europa, pelo selo International Deejay Gigolo, do alemão DJ Hell. O disco já saiu no Brasil e o lançamento europeu coincidirá com a turnê que a banda fará pela Europa em junho.
No mesmo mês, o 3 Cold Men será uma das atrações do festival Wave Gotik Treffen, o mais importante evento gótico do mundo, em Leipzig, na Alemanha.


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