São Paulo, segunda-feira, 06 de setembro de 2004

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ESCUTA AQUI

Uma rádio dos sonhos

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR

Trocando uma idéia com "Escuta Aqui", uma lendária figura do rock do Brasil fala de dezenas de assuntos, o principal deles a lastimável situação da música nas rádios brasileiras.
Não quero apresentar soluções prontas (se as tivesse, compraria uma rádio e ganharia rios de dinheiro), mas vale a pena citar pontos da conversa. Afinal, como seria uma rádio superbacana?
Como todo mundo sabe, 99,99% do que toca no seu rádio, hoje, é jabá. Ou seja: as gravadoras pagam para que as estações bombem as faixas "de trabalho" o dia inteiro. Durante séculos, fingia-se que o jabá não existia. Todo mundo ganhava, ninguém assumia. Hoje, fala-se mais abertamente, embora não haja lei sobre o assunto.
Pois então: na rádio superbacana, pode ou não rolar jabá? Será que, para provar que está longe dos trambiques, essa emissora deveria chutar o balde, tocando só o que desse na telha dos programadores?
"Escuta Aqui" e o roqueiro nacional estão de acordo: não dá para transformar a programação em algo aleatório, que não repete músicas só para provar independência.
É preciso ter alguma sistematização, algo a que o ouvinte se acostume. Exemplo dessa linha "independente, porém com rumo" é a sempre elogiada Indie 103, de Los Angeles (www.indie1031fm.com). A linha-mestra é a seguinte: tocar só as melhores faixas de cada disco. E que discos são esses? Basicamente, os dos nomes "indie" que estão bem no momento, mais clássicos alternativos dos anos 80 e 90.
A Indie 103 não torra a paciência apresentando uma mesmo música 80 vezes. Mas também não embarca na piração total de vasculhar o arquivo e tocar, no horário nobre, a faixa 15 de um grupo de rock progressivo siciliano dos anos 70.
Mas, e o jabá? O que fazer com ele no Brasil? Buscar a pureza total, ficando longe disso, ou aceitar a bagunça completa de hoje?
De novo, será que não seria possível um meio termo? Alguma regulamentação clara que explicitasse números e porcentagens, que não deixasse dúvidas sobre quanto e para quem é preciso pagar para que uma música toque? Ou será melhor manter a hipocrisia atual, situação de fato que não encontra respaldo no papel?


Álvaro Pereira Júnior, 41, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo E-mail: cby2k@uol.com.br


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