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DEPOIS DA QUEDA
Como é a experiência de enfrentar o limite, sobreviver e
ter de se ajustar às perdas?
A vida por um fio
CAROL FREDERICO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Tente imaginar. Num dia, você é uma
pessoa normal, como outra qualquer:
jovem, cheia de sonhos, saúde perfeita.
E, de uma hora para a outra, um acidente
muda sua vida. "Não vou mais andar",
"Não vou mais enxergar". "Meu rosto
não será mais como antes", "Perdi o meu
braço". Mas você está vivo. Colocou-se
na situação? A maioria das pessoas arregala os olhos diante de histórias como essas, dizendo: "Melhor nem pensar!".
Não se pode generalizar, mas a sensação de que a vida acabou é comum. Com
ela, vêm o desânimo, os grilos e as dúvidas de como se pode ter uma vida feliz
sem um braço, sem uma perna ou em
uma cadeira de rodas. A palavra-chave
para essas questões todas é reabilitação.
A vida não acabou, ficou diferente. O
que o trabalho de reabilitação faz é recolocar essa pessoa de volta na sociedade,
de modo que possa viver bem, aceitando
e sabendo lidar com suas limitações. Cada um reage a seu modo. O que se sabe,
porém, é que, quando há boa estrutura
de personalidade e respaldo familiar, o
processo de reabilitação se dá tranquilamente. É importante ainda derrubar o
mito de que paraplégicos -e tetraplégicos- não têm vida sexual ativa. A reabilitação sexual é, aliás, um dos fatores essenciais para a reabilitação global.
Quanto à lesão medular, médicos e psicólogos são unânimes em ressaltar a importância de campanhas preventivas.
Conselhos como não beber antes de dirigir, usar cinto de segurança, não mergulhar em águas rasas ou em lugares desconhecidos são incansavelmente repetidos.
Para ter uma idéia de como alguns desses acidentes são perfeitamente evitáveis,
segundo o Instituto de Ortopedia e Traumatologia da USP, acidentes de carro são
os principais vilões, encabeçando 40%
dos casos. Em segundo lugar, estão os ferimentos com arma de fogo, que representam 27% dos casos. Depois vêm as
quedas e os mergulhos em águas rasas.
No verão, o índice de lesão medular por
mergulho passa para o segundo lugar.
Um dado alarmante reflete o problema
da violência urbana: na cidade de São
Paulo, ferimentos com arma de fogo
quase tomam o primeiro lugar. "Vivemos em guerra civil", compara a dra. Erika Barros, coordenadora do Centro de
Trauma Raquimedular.
No caso das queimaduras, a maioria
das vítimas têm até nove anos. O acompanhamento psicológico, portanto, é
fundamental, e queimados não devem
ser tratados com olhares de espanto. "O
que queimou foi a pele, não os desejos ou
os anseios. E essas pessoas não podem
ser tratadas como coitadas, porque tudo
depende do crivo de quem vai olhá-la",
explica Celeste Gobbi, psicóloga de queimados do Hospital das Clínicas.
Eliana Ormelezi, psicóloga da Laramara, que assiste deficientes visuais, depara-se constantemente com questões como "E agora, como vou ler?", "Como
vou usar o computador?". O desafio de
viver sem a visão e as opções oferecidas
pela tecnologia são, a princípio, desconhecidos. "A experiência é impactante,
mas sempre há uma possibilidade", diz.
O Folhateen ouviu quatro histórias
impressionantes de jovens que caminharam sobre a linha tênue que separa a vida
da morte e sobreviveram. Mais impressionante ainda é que, ao contrário daquilo que muitos dos que estão de fora
crêem, agradecem por estarem vivos.
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