MANUELA MINNS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LONDRES

Imagine o cara mais sacana do mundo, misógino, que acorda com uma carreira de pó no nariz e dorme bêbado, ao lado de alguma prostituta. Esse é Steven Stelfox, herói, ou anti-herói, de "Kill Your Friends", romance do inglês John Niven, que mostra o mundo e o submundo da indústria da música pop inglesa nos anos 90.
Niven escreve com conhecimento de causa. Assim como Stelfox, ele trabalhou na indústria fonográfica descobrindo e desenvolvendo artistas de massa. "Steven é uma composição de duas ou três pessoas que eu conhecia (não eu, é bom deixar claro)", conta o escritor, que viveu o boom do britpop quando bandas como Oasis e Spice Girls estouraram. E quando as festas de arromba pagas pela empresa eram diárias.
"Quando você coloca um monte de gente jovem e com salários astronômicos juntas inevitavelmente as coisas seguem para essa direção", explica o autor. Mas no caso de Stelfox, que narra o livro em primeira pessoa, as conseqüências vão tomando proporções matadoras. Endividado e sem um single sequer nas paradas, ele está com a carreira e com a conta bancária por um fio.
No início de cada capítulo, Niven dá um resumo do que estava acontecendo na indústria musical e abre o texto com uma frase de alguém do meio, como Elvis Presley, Mariah Carey e até executivos de gravadoras.
À medida que a indústria inglesa bomba, Stelfox entra numa lama de cocaína, dívidas e problemas com a polícia.
Niven diz que no mundo do pop é impossível manter-se limpo. "Não me lembro de ter pago por um drinque em dez anos", diz ele, que largou a indústria musical. "Senti falta do dinheiro mas não das festas nem das celebridades. Uma década disso foi suficiente!"

KILL YOUR FRIENDS
John Niven
William Heinemann Ltd.
Importado (336 págs.)


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