São Paulo, segunda-feira, 07 de julho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

carreira

Como nossos pais?

Ter como herança o sucesso profissional dos pais pode ser um peso difícil de carregar

Henrique Manreza/Folha Imagem
Rodrigo cunha, 21, quer trabalhar com skate, mas precisa cuidar da padoca da família

DENISE BRITO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Neto de portugueses, Rodrigo Cunha, 21, cresceu ouvindo as histórias da família, verdadeira saga de imigrantes, com direito a detalhes pitorescos como casamento dos avós por procuração, anos de sacrifício e trabalho árduo até a situação confortável dos dias atuais.
Como parte da terceira geração no ramo de padaria, aos dez anos ele acompanhava o pai fazendo entregas; aos 14, dava expediente durante a tarde atendendo no balcão. "Me sentia preso, pois enquanto estava ali, meus amigos estavam fazendo outras coisas". Se rebelar contra a situação era inútil, já que o pai vinha de uma experiência pessoal de ralar atrás do balcão desde os oito anos de idade.
Além de começar cedo, o tratamento diferenciado como filho do dono era duro: "Meu pai é muito bravo e exigia muito mais de mim. Quando eu atrasava, discutia muito, dizia que eu tinha que dar exemplo."
Hoje ele tem um acordo com o pai: trabalha meio período para a família e tem a liberdade de cursar a faculdade que escolheu, desenho industrial.
"Sempre gostei de skate, dos produtos relacionados ao esporte, como roupas e acessórios, e tenho vontade de trabalhar como designer nessa área. Acho legal o trabalho no comércio, mas ao contrário do meu pai, não é algo que me dá prazer. Queria muito fazer um estágio na área de design. Sei que meu pai me apoiaria num primeiro momento, mas acho que ele não põe fé que eu posso ter futuro em outro ramo."

Rebelde
Bruno Rodrigues, 20, teve sua fase "de rebeldia", como ele chama, pelo conflito de herdar o negócio construído pelo pai e pelo avô. Mas aquele momento está ficando para trás.
Ele conta que sempre se sentiu livre para optar por qualquer profissão, mas aos oito anos já queria ser empresário. Aos 17, quis ir trabalhar na empresa de distribuição gráfica da família. Não deu certo.
"Meu pai é muito enérgico, um chefe duro, e comigo não era diferente. Decidi que não queria trabalhar ali e saí para provar que eu não precisava daquela estrutura", conta. Ele, então, abriu seu próprio negócio, uma loja de carros. Um ano depois, estava desiludido.
"O ramo era muito burocrático e era difícil confiar. Pude ver o que meu pai passava e entendi melhor o jeito dele", conta. A relação próxima com o pai, segundo ele, facilitou a iniciativa de procurá-lo, admitir o erro e dizer que preferia trabalhar para ele. "Pelo menos sei que com ele o jogo é limpo. Meu pai sempre foi muito correto e tem mão de ferro nos negócios."

Salão
Desde pequenas, as irmãs Ruchelle e Rafaella Crepaldi, 22 e 21, tinham em casa todas as novidades em itens de beleza. É que os pais são profissionais de cabelo e maquiagem em salões de primeira linha.
"A gente adorava e brincava com tudo, uns bóbis diferentes, presilhas e bigudins coloridos", conta Ruchelle.
Conforme foram aprendendo e se tornando adolescentes, as amigas com quem brincavam de fazer cachinhos e trancinhas passaram a pedir para cortar, tingir, fazer escova progressiva, megahair... E passaram a trazer outras pessoas para se consultar na residência, um verdadeiro minissalão de atendimento gratuito.
Hoje, Rafaella cursa belas artes e trabalha como maquiadora. Já Ruchelle estuda relações públicas e tomou a frente do controle de qualidade no salão da mãe. "Sempre fui muito crítica, e como já passei por todas as atividades do salão, hoje estou mais preocupada com o bem-estar das clientes e dos profissionais."
As duas, no entanto, não pensam em ficar por aí. "Tenho vontade de abrir um café, meio loja de arte, para vender minhas gravuras . E continuar maquiando", planeja Rafa.
Ruchelle também divaga sobre o futuro. "Vejo minhas amigas fazendo estágio e sinto muita vontade de trabalhar numa grande empresa como relações públicas... Não sei ainda."


Texto Anterior: 02 Neurônio: Uma noite e só...
Próximo Texto: É duro ser apenas "o filho do..."
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.