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carreira
Como nossos pais?
Ter como
herança o sucesso profissional dos pais pode ser um peso difícil de carregar
Henrique Manreza/Folha Imagem
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Rodrigo cunha, 21, quer trabalhar com skate, mas precisa cuidar da padoca da família
DENISE BRITO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Neto de portugueses,
Rodrigo Cunha, 21,
cresceu ouvindo as
histórias da família, verdadeira saga
de imigrantes, com direito a detalhes pitorescos como casamento dos avós por procuração, anos de sacrifício e trabalho árduo até a situação confortável dos dias atuais.
Como parte da terceira geração no ramo de padaria, aos dez
anos ele acompanhava o pai fazendo entregas; aos 14, dava expediente durante a tarde atendendo no balcão. "Me sentia
preso, pois enquanto estava ali,
meus amigos estavam fazendo
outras coisas". Se rebelar contra a situação era inútil, já que o
pai vinha de uma experiência
pessoal de ralar atrás do balcão
desde os oito anos de idade.
Além de começar cedo, o tratamento diferenciado como filho do dono era duro: "Meu pai
é muito bravo e exigia muito
mais de mim. Quando eu atrasava, discutia muito, dizia que
eu tinha que dar exemplo."
Hoje ele tem um acordo com
o pai: trabalha meio período
para a família e tem a liberdade
de cursar a faculdade que escolheu, desenho industrial.
"Sempre gostei de skate, dos
produtos relacionados ao esporte, como roupas e acessórios, e tenho vontade de trabalhar como designer nessa área.
Acho legal o trabalho no comércio, mas ao contrário do
meu pai, não é algo que me dá
prazer. Queria muito fazer um
estágio na área de design. Sei
que meu pai me apoiaria num
primeiro momento, mas acho
que ele não põe fé que eu posso
ter futuro em outro ramo."
Rebelde
Bruno Rodrigues, 20, teve
sua fase "de rebeldia", como ele
chama, pelo conflito de herdar
o negócio construído pelo pai e
pelo avô. Mas aquele momento
está ficando para trás.
Ele conta que sempre se sentiu livre para optar por qualquer profissão, mas aos oito
anos já queria ser empresário.
Aos 17, quis ir trabalhar na empresa de distribuição gráfica da
família. Não deu certo.
"Meu pai é muito enérgico,
um chefe duro, e comigo não
era diferente. Decidi que não
queria trabalhar ali e saí para
provar que eu não precisava daquela estrutura", conta. Ele, então, abriu seu próprio negócio,
uma loja de carros. Um ano depois, estava desiludido.
"O ramo era muito burocrático e era difícil confiar. Pude ver
o que meu pai passava e entendi melhor o jeito dele", conta. A
relação próxima com o pai, segundo ele, facilitou a iniciativa
de procurá-lo, admitir o erro e
dizer que preferia trabalhar para ele. "Pelo menos sei que com
ele o jogo é limpo. Meu pai sempre foi muito correto e tem mão
de ferro nos negócios."
Salão
Desde pequenas, as irmãs
Ruchelle e Rafaella Crepaldi,
22 e 21, tinham em casa todas
as novidades em itens de beleza. É que os pais são profissionais de cabelo e maquiagem em
salões de primeira linha.
"A gente adorava e brincava
com tudo, uns bóbis diferentes,
presilhas e bigudins coloridos",
conta Ruchelle.
Conforme foram aprendendo e se tornando adolescentes,
as amigas com quem brincavam de fazer cachinhos e trancinhas passaram a pedir para
cortar, tingir, fazer escova progressiva, megahair... E passaram a trazer outras pessoas para se consultar na residência,
um verdadeiro minissalão de
atendimento gratuito.
Hoje, Rafaella cursa belas artes e trabalha como maquiadora. Já Ruchelle estuda relações
públicas e tomou a frente do
controle de qualidade no salão
da mãe. "Sempre fui muito crítica, e como já passei por todas
as atividades do salão, hoje estou mais preocupada com o
bem-estar das clientes e dos
profissionais."
As duas, no entanto, não pensam em ficar por aí. "Tenho
vontade de abrir um café, meio
loja de arte, para vender minhas gravuras . E continuar
maquiando", planeja Rafa.
Ruchelle também divaga sobre o futuro. "Vejo minhas amigas fazendo estágio e sinto muita vontade de trabalhar numa
grande empresa como relações
públicas... Não sei ainda."
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