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Sem voz, filme fala mais do que todos
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Sergei Eisenstein tinha uma ambição sem fim. Seu sonho era
fazer um filme sobre 1905, para
comemorar o 20º aniversário
do "ensaio geral" para a Revolução
de 1917.
Como não havia maneira de um filme tão complexo ficar pronto em
1925, o jeito foi contentar-se com relatar o episódio do encouraçado Potemkin, quando os marinheiros começaram um motim após descobrirem
que a comida que lhes era servida a
bordo estava podre.
Após jogarem os oficiais ao mar, os
amotinados tomaram o navio e chegaram a Odessa, onde conquistaram
o apoio da população.
Naquele tempo, os cineastas soviéticos buscavam criar uma arte que exprimisse o proletariado, suas aspirações e modo de pensar. Eisenstein suprimiu o tradicional herói, o sujeito
que tudo lidera, que salva a pátria e que
casa com a mocinha no final.
O essencial, em "O Encouraçado Potemkin" é a ação coletiva, de toda a tripulação, a maneira como essa ação rebate na população que adere aos revolucionários, e como reagem a ela as tropas do czar.
Com este filme, Eisenstein realizou
uma das obras-primas do cinema em
todos os tempos. Não acredite quando
alguém disser que é apenas um filme
de propaganda. Em geral, quem diz isso nunca viu os filmes de propaganda
do período. É sabido que Eisenstein foi
um engajado na Revolução e pretendia
servi-la.
Mas o arsenal de invenções formais e
narrativas-para não falar da beleza
de cada um de seus enquadramentos- até hoje servem de inspiração a
cineastas do mundo inteiro. O "Potemkin" não precisa de voz para falar mais
do que quase todos os outros filmes
que se fazem no mundo.
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