São Paulo, segunda-feira, 07 de novembro de 2005

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Sem voz, filme fala mais do que todos

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Sergei Eisenstein tinha uma ambição sem fim. Seu sonho era fazer um filme sobre 1905, para comemorar o 20º aniversário do "ensaio geral" para a Revolução de 1917.
Como não havia maneira de um filme tão complexo ficar pronto em 1925, o jeito foi contentar-se com relatar o episódio do encouraçado Potemkin, quando os marinheiros começaram um motim após descobrirem que a comida que lhes era servida a bordo estava podre.
Após jogarem os oficiais ao mar, os amotinados tomaram o navio e chegaram a Odessa, onde conquistaram o apoio da população.
Naquele tempo, os cineastas soviéticos buscavam criar uma arte que exprimisse o proletariado, suas aspirações e modo de pensar. Eisenstein suprimiu o tradicional herói, o sujeito que tudo lidera, que salva a pátria e que casa com a mocinha no final.
O essencial, em "O Encouraçado Potemkin" é a ação coletiva, de toda a tripulação, a maneira como essa ação rebate na população que adere aos revolucionários, e como reagem a ela as tropas do czar.
Com este filme, Eisenstein realizou uma das obras-primas do cinema em todos os tempos. Não acredite quando alguém disser que é apenas um filme de propaganda. Em geral, quem diz isso nunca viu os filmes de propaganda do período. É sabido que Eisenstein foi um engajado na Revolução e pretendia servi-la.
Mas o arsenal de invenções formais e narrativas-para não falar da beleza de cada um de seus enquadramentos- até hoje servem de inspiração a cineastas do mundo inteiro. O "Potemkin" não precisa de voz para falar mais do que quase todos os outros filmes que se fazem no mundo.

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