São Paulo, segunda-feira, 07 de novembro de 2011

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BARRACAS CONTRA TUDO

ACAMPADOS EM SP, JOVENS NÃO ESCLARECEM QUAL O ALVO DO SEU PROTESTO

ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER

DE SÃO PAULO

Pelo mundo todo, a história se repete: um grupo engrossado por jovens acampa durante semanas, até meses, em frente a prédios de governos, bancos ou grandes corporações.
Pelo mundo todo, cada caso é um caso. Em São Paulo, dezenas de pessoas se revezam em barracas, desde o dia 15 de outubro, sob o viaduto do Chá, na frente da Prefeitura.
Da patricinha de Higienópolis ao morador de rua, pinta de tudo no Ocupa Sampa. É desempregado, ator de filme em cartaz, gente que vem da PUC, USP, de escolas públicas e particulares.
Muitos usam a máscara do filme "V de Vingança", símbolo dos protestos mundiais e do Anonymous, a legião virtual que invade sites de governos e empresas. A inspiração é Guy Fawkes, que tentou explodir o Parlamento inglês em 1605.
Morador de Higienópolis que trabalha com suporte técnico, Led, 20, se diz alérgico a política. Ele quer mandar o atual sistema pelos ares. Com uma frase do filme, incorpora os clichês ideológicos da empreitada: "Ideias são a prova de balas".
No Ocupa Sampa, a crítica é tão sólida quanto gelatina. Os tiros ricocheteiam para todo lado: há cartazes contra a corrupção, as moradias precárias, a usina de Belo Monte e os grandes veículos de imprensa. Exige-se também"democracia direta": maior participação do indivíduo nas decisões nacionais.
O próprio acampamento serve de incubadora para esse modelo de sociedade. O Folhateen contou cerca de cem barracas na semana passada. Sem lideranças e com muitas comissões (de segurança, boas-vindas, arte...), tudo vira votação.
E chegar ao consenso pode ser penoso. Pelo megafone, um rapaz explica que servir salada de frutas "não progrediu porque um não gosta de maçã, outro, de banana...". Depois, separaram as frutas, para cada um montar sua combinação.
Quase toda a comida é doada e preparada numa cozinha improvisada, com menu que vai de pratos vegan a mingau (sabor surpresa). Para o banheiro, um "toalete seco" -sem água, ou seja, esqueça a descarga. De lá saiu o gaiato que atacou, ao vivo, uma repórter da Globo na semana passada - atitude reprovada pela maioria.
O movimento rejeita qualquer vínculo com partidos políticos. Integrante do Anonymous, Marlon (nome fictício), 17, se diz "contra todos os governantes". Com grandes poderes vêm grandes chances de se corromper, argumenta.
Há duas semanas, o governador Geraldo Alckmin foi questionado se conhecia o Ocupa Sampa. "É de tecnologia?"
"Isso é um acampamento de formação política, não a maior rodinha de violão do mundo", diz o documentarista Fabrício Lima, 30.


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