São Paulo, segunda-feira, 07 de dezembro de 2009

Próximo Texto | Índice

CIÊNCIA

O caminho do fim

O apocalipse não virá em 2012, dizem cientistas, mas há ameaças para um futuro mais distante

RICARDO MIOTO
DA REPORTAGEM LOCAL

O mundo pode acabar. Mas não entre em pânico, não vai ser agora, nem tão cedo quanto os filmes andam prometendo. E, na verdade, não vai ser bem a Terra que vai acabar. Nós, seres humanos, é que corremos o risco de desaparecer.
Mas qual vai ser a graça disso tudo sem bebês chorando, casais se encontrando e gente dançando a "Macarena"? Esse planeta vai ficar bem mais monótono sem nós.
São várias as maneiras pelas quais o fim pode chegar: ele poderá vir de cima (se um asteroide se chocar conosco), de baixo (se algum supervulcão entrar em erupção) ou de nossas próprias mãos (no caso de uma guerra nuclear, por exemplo).

O perigo vem de fora
Imagine que você está dirigindo em alta velocidade numa estrada, com vários tipos de coisas atravessando a pista bem à sua frente: cachorros, pedestres, motos. Eventualmente, até alguns caminhões. Uma hora isso vai dar errado, não?
Vai. E essa é mais ou menos a situação da Terra. A estrada, no caso, é a órbita do planeta -e estamos viajando a 100 mil quilômetros por hora. É uma velocidade um pouco imprudente, porque um choque pode causar um estrago imenso.
Pequenos objetos vivem colidindo com a Terra sem que a gente perceba. "Durante um dia acontecem centenas, até milhares de colisões", diz Ernesto Vieira Neto, astrônomo da Unesp.
Há mais de 60 milhões de anos, um meteoro com mais de 10 km de diâmetro apareceu no nosso caminho. O que acontece depois de um choque desses?
Vulcões acordam e entram em erupção, tsunamis varrem o planeta e uma nuvem de poeira cobre a Terra por ao menos alguns meses.
Sem a luz do Sol, muitas plantas morrem, e quem precisa comer bastante para sobreviver (como os dinossauros, naquela época) acaba extinto. Não bastasse isso, respirar as cinzas também não é muito saudável.

Choque no mar = tsunami
As consequências de uma colisão dependem do lugar onde o impacto ocorrer. "Como mais de metade da superfície da Terra é água, então é grande a chance de [um objeto] cair no oceano", diz Vieira. "Aí, teríamos alguns tsunamis."
O que poderíamos fazer se um negócio desses estivesse vindo em nossa direção?
"Até o momento, não temos tecnologia suficiente para mudar a trajetória de um objeto [que esteja a caminho]", diz Vieira. "Mas, se ele for grande, é alta a chance de que se saiba previamente que está vindo."
E não vá achando que os pequenos objetos não oferecem perigo. Eles são muito mais difíceis de rastrear e existem aos montes. Objetos do tamanho de um supermercado, por exemplo, nos acertam, em média, a cada mil anos.
O último caiu no meio do nada, em 1908, na Rússia. Você não iria querer estar lá: foi uma explosão mil vez mais forte do que a da bomba de Hiroshima. Acabou com milhões de árvores e causou terremoto.
Se um desses caísse na praça da Sé, destruiria toda a região metropolitana de São Paulo. E, por ele não ser tão grande, provavelmente só o perceberíamos tarde demais para fugir.

O perigo vem de dentro
É difícil saber quando um vulcão vai entrar em erupção. Simplesmente, acontece. Pode ser amanhã, pode ser daqui a milhões de anos, pode não acontecer nunca mais.
A má notícia é que existem alguns vulcões realmente grandes por aí. Um desses entrou em erupção há 70 mil anos, em Toba, na Indonésia. Nossa espécie já existia.
Uma poeira gigantesca foi levantada, espalhou-se pelo mundo e, assim como quando os dinossauros foram extintos, barrou boa parte da luz solar.
O planeta esfriou, começou um período parecido com uma pequena Era do Gelo e se alimentar tornou-se um desafio.
Sobrevivemos por muito pouco. Acredita-se que a humanidade tenha sido reduzida a poucos milhares de indivíduos.
Pode acontecer novamente? Pode. Nos EUA, existe um parque conhecido como Yellowstone, situado sobre um vulcão imenso que já entrou em erupção antes. Ocorre mais ou menos a cada 600 mil anos. A última vez foi há 630 mil.
Ocorreram erupções nas últimas décadas. São as imagens que costumamos ver na televisão. Esses vulcões fazem um estrago enorme ao seu redor, mas a vida no resto do planeta continua normalmente.
Para comparar, imagine que todo o material que um deles expele tivesse o volume de uma ervilha. Vulcões como o de Yellowstone expeliriam, proporcionalmente, um carro cheio de material vulcânico. Ou seja, o efeito seria sentido mesmo por quem estivesse muito longe.
Mas dificilmente todos os seres vivos sumiriam. "A vida na Terra já sobreviveu a muitas erupções. Yellowstone já entrou em erupção pelo menos três vezes. Os seres vivos continuariam por aí", diz Maurizio Battaglia, vulcanólogo da Universidade de Roma.
"Os estudos científicos dizem que, após uma erupção de um vulcão como o Yellowstone, teríamos algo como dez anos de frio. Seria um problema sério e global. Mas, depois disso, o clima voltaria ao normal", diz Stephen Self, vulcanólogo da Open University (Inglaterra).

Falha humana
Há milhares de armas nucleares no planeta. Daria para destruí-lo várias vezes, se sobrasse alguém para continuar apertando o botão de disparo.
Por muito tempo o medo foi de que EUA e União Soviética esquentassem a Guerra Fria e travassem uma guerra nuclear. Felizmente, não rolou.
Ainda assim, países como Índia e Paquistão têm armas nucleares e, para piorar, não gostam muito um do outro. Em alguns anos, talvez Coreia do Norte e Irã -inimigos dos EUA, que têm o principal arsenal nuclear do mundo- também passem a ter essas armas.
Ou seja, mais do que ter medo da natureza incontrolável, devemos nos preocupar com os homens incontroláveis.
Mas também podemos ter um pouco de fé na humanidade. Se ainda não há tecnologias (ou sabedoria) para lidar com essas catástrofes, certamente há tempo para desenvolvê-las.


Próximo Texto: História: Chutando longe
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.