LUÍS AGUSTO FISCHER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Ele se chama Viktor, é jovem e tem uma serpente enrolada no coração. Sua irmã tem poucos centímetros de altura e vive como bailarina, dentro de uma caixinha de música. Seu pai é uma criatura misteriosa, às vezes tendo a forma humana, noutras a de um rato gigantesco. Bruno, seu amigo, de vez em quando tira o cérebro da cabeça, para descansar. Viktor e Bruno abrem uma livraria-café, onde conhecem gentes tão estranhas quanto eles; entre elas, Falena, uma jovem que vive sozinha numa casa atulhada de badulaques acumulados por gerações e gerações de familiares seus. E ela tem um detalhe físico: seus olhos são incandescentes.
Agora vem cá, leitor: deu pra imaginar tudo isso contado em uma novela? Um protagonista com uma cobra dentro da caixa torácica, que aperta seu coração de vez em quando, deixando seu hospedeiro em situação miserável? E o Bruno? Enxergou, na imaginação, um sujeito que desatarraxa o crânio pra dar um refresco para seu cérebro?
Tudo isso pode acontecer no panorama mental de quem lê a bela novela "Síndrome de Quimera", terceiro livro de Max Mallmann, hoje em dia roteirista da TV Globo, escritor de imaginação rara que conta histórias estranhas com consistência e naturalidade. Pode parecer pouca coisa inventar enredos assim, mas pode crer que não é. Na literatura brasileira, são poucos os escritores com poder criativo tão destravado quanto Max, em qualquer época. Tirando Murilo Rubião, contista mineiro já falecido de obra tão curta quanto sensacional, e Campos de Carvalho, outro gênio narrativo, acho que não há ninguém mais.
O bom é que a novela, além de surpreender pelo inusitado dos tipos que oferece, consegue criar seu mundo na cabeça do leitor, isto é, faz com que o leitor embarque na brincadeira que vai contada -o leitor entra com sua amortecida capacidade criativa e sua experiência, e a novela organiza um mundo impressionante e maravilhoso, em mais de um sentido da palavra.

Síndrome de Quimera
Autor: Max Mallmann
Editora: Rocco
Quanto: R$ 18, em média

E-mail: fischerl@uol.com.br


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