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São Paulo, segunda-feira, 08 de setembro de 2003

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EDUCAÇÃO

Estudantes reinvindicam diminuição em passagem de ônibus e participação na política

Jovens de Salvador param a cidade com protestos

RICARDO LISBÔA
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de pegar duas conduções para chegar ao colégio, Antônio soube que as passagens de ônibus ficariam mais caras -o terceiro aumento neste ano. Ele se irritou. Foi para a rua com um grupo de colegas para fazer um protesto ali por perto. A história do estudante Antônio Santiago, 17, foi repetida por milhares de estudantes de Salvador (BA) na semana passada. Sem nenhuma unidade de organização, mas unidos por um objetivo -lutar por seus direitos-, eles saíram às ruas.
"Começou "de pouquinho". No primeiro dia (31/8), éramos só os alunos de escolas públicas do centro. Depois, chegaram os do resto da cidade. No terceiro dia (2/9), já tínhamos apoio dos universitários", lembra Antônio. "Lá em casa, eu e mais três irmãos pegamos quatro ônibus por dia. Com a passagem a R$ 1,50, vamos gastar R$ 12 todo dia [pois eles pagam meia]. Desse jeito, ficaria pesado para nós estudarmos", lamenta.
Os protestos foram tão simples quanto eficientes. Os alunos se deitavam no chão e impediam a frota de ônibus de percorrer seu trajeto, liberavam as vias somente para os carros pequenos, até que a prefeitura os atendesse para uma conversa.
"Foi a primeira vez que os estudantes tomaram a frente das discussões e serviu para aprender que, se a gente não pressionar o poder, vai ser sempre controlado", comemora ele.
No século passado, os estudantes protagonizaram grandes movimentos que acabaram por rearranjar costumes das gerações seguintes. Foi assim em maio de 1968, na França, quando os estudantes montaram barricadas para protestar contra o governo e contra uma montanha de valores por eles considerados ultrapassados. Foi assim em 1992, no Brasil, com os caras pintadas pedindo o impeachment do ex-presidente Fernando Collor.
Dessa vez, as reivindicações eram a diminuição do valor da passagem de ônibus, de R$ 1,50 para R$ 1,30, a validade da meia-passagem também em feriados, sábados, domingos e férias escolares, e colocar um representante com direito a voto no conselho de transportes da cidade.
Os dois últimos pedidos foram aceitos na quarta-feira (3/9), quando mais de 20 mil pessoas estavam nas ruas em protesto, que prometia continuar até que o primeiro pedido fosse acatado.
"Quando a gente passava na rua, as pessoas nas sacadas das casas aplaudiam. Alguns devem ter ficado com raiva, por causa do transtorno, mas isso aumenta a visão da nossa capacidade. Ver o impacto que a gente causou é maravilhoso", diz a estudante do terceiro ano do ensino médio Eneida Trindade, 17, que já se manifestava contra o aumento das passagens desde a sexta-feira retrasada. "E foi tudo muito limpo e sem baderna."
Segundo Eneida, não houve a liderança de partidos políticos nas manifestações. "Eles apareceram depois, quando já havia um monte de gente na rua."
"Olha, só estando aqui para sentir o que aconteceu. Nenhuma mídia vai conseguir passar tudo o que aprendemos nesses dias", define Vinícius Couto, 19, estudante do terceiro ano.



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