|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EDUCAÇÃO
Estudantes reinvindicam diminuição em passagem de ônibus e participação na política
Jovens de Salvador param a cidade com protestos
RICARDO LISBÔA
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de pegar duas conduções para
chegar ao colégio, Antônio soube que
as passagens de ônibus ficariam mais caras -o terceiro aumento neste ano. Ele
se irritou. Foi para a rua com um grupo
de colegas para fazer um protesto ali por
perto. A história do estudante Antônio
Santiago, 17, foi repetida por milhares de
estudantes de Salvador (BA) na semana
passada. Sem nenhuma unidade de organização, mas unidos por um objetivo
-lutar por seus direitos-, eles saíram
às ruas.
"Começou "de pouquinho". No primeiro dia (31/8), éramos só os alunos de escolas públicas do centro. Depois, chegaram os do resto da cidade. No terceiro
dia (2/9), já tínhamos apoio dos universitários", lembra Antônio. "Lá em casa, eu
e mais três irmãos pegamos quatro ônibus por dia. Com a passagem a R$ 1,50,
vamos gastar R$ 12 todo dia [pois eles
pagam meia]. Desse jeito, ficaria pesado
para nós estudarmos", lamenta.
Os protestos foram tão simples quanto
eficientes. Os alunos se deitavam no chão
e impediam a frota de ônibus de percorrer seu trajeto, liberavam as vias somente
para os carros pequenos, até que a prefeitura os atendesse para uma conversa.
"Foi a primeira vez que os estudantes
tomaram a frente das discussões e serviu
para aprender que, se a gente não pressionar o poder, vai ser sempre controlado", comemora ele.
No século passado, os estudantes protagonizaram grandes movimentos que
acabaram por rearranjar costumes das
gerações seguintes. Foi assim em maio
de 1968, na França, quando os estudantes montaram barricadas para protestar
contra o governo e contra uma montanha de valores por eles considerados ultrapassados. Foi assim em 1992, no Brasil, com os caras pintadas pedindo o impeachment do ex-presidente Fernando
Collor.
Dessa vez, as reivindicações eram a diminuição do valor da passagem de ônibus, de R$ 1,50 para R$ 1,30, a validade da
meia-passagem também em feriados, sábados, domingos e férias escolares, e colocar um representante com direito a voto no conselho de transportes da cidade.
Os dois últimos pedidos foram aceitos
na quarta-feira (3/9), quando mais de 20
mil pessoas estavam nas ruas em protesto, que prometia continuar até que o primeiro pedido fosse acatado.
"Quando a gente passava na rua, as
pessoas nas sacadas das casas aplaudiam. Alguns devem ter ficado com raiva, por causa do transtorno, mas isso aumenta a visão da nossa capacidade. Ver o
impacto que a gente causou é maravilhoso", diz a estudante do terceiro ano do
ensino médio Eneida Trindade, 17, que já
se manifestava contra o aumento das
passagens desde a sexta-feira retrasada.
"E foi tudo muito limpo e sem baderna."
Segundo Eneida, não houve a liderança
de partidos políticos nas manifestações.
"Eles apareceram depois, quando já havia um monte de gente na rua."
"Olha, só estando aqui para sentir o
que aconteceu. Nenhuma mídia vai conseguir passar tudo o que aprendemos
nesses dias", define Vinícius Couto, 19,
estudante do terceiro ano.
Texto Anterior: Game on: Um estranho jogo que acaba sem vencedor Próximo Texto: Balão: A liga dos espectadores pouco extraordinários Índice
|