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música
Em algum lugar do passado
Com visual e sonoridade retrô, Pipettes revive o pop adolescente da década de 60; em entrevista, vocalista fala sobre influências
LETICIA DE CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Elas parecem ter saído do túnel do tempo com seus vestidos de bolinhas,
dancinhas sincronizadas e vocais doces.
Misturando um pouco de atitude riot grrrl e do romantismo
dos grupos vocais femininos
dos anos 60, as Pipettes terão
seu primeiro disco, "We Are the
Pipettes", lançado no Brasil em
dezembro, com nada menos
que um ano e meio de atraso.
Formada em Brighton, na Inglaterra, há quatro anos, a banda se inspirou na sonoridade
pop criada pelo produtor Phil
Spector na década de 60, que
abusava das melodias e das orquestrações, e em grupos vocais femininos daquela época,
como The Ronettes, The
Crystals (produzidos por Spector) e The Shangri-Las.
"Estamos interessadas na
fórmula de três garotas cantando em harmonia, na inocência
daquela época, na força das melodias, nos coros. É algo que estava faltando na música pop",
diz Rosay, 21, uma das três vocalistas, em entrevista por telefone ao Folhateen.
Esqueça-se, portanto, das referências básicas de qualquer
roqueiro que se preze. Na bagagem musical das garotas não
entram Beatles nem Elvis
Presley. "O rock e o pop são
muito dominados pelos homens. Essa música [de Elvis e
dos Beatles] realmente não significa muito para nós. Temos
um olhar mais abrangente",
completa Rosay.
Retrô
Não é a apenas a sonoridade
das garotas que remete aos
anos 60. Toda a identidade visual da banda (muito bem elaborada, por sinal) segue essa
estética: o figurino, o site, os vídeos e as capas de CDs.
Bem produzidos, os vídeos
trazem coreografias fofinhas,
cenários vintage e um climão
de jukebox. "Estar numa banda
não é apenas escrever músicas.
Achamos importante explorar
nossas idéias visualmente. Os
figurinos, por exemplo, nos ajudam a criar as personagens. Isso não tem a ver com moda,
mas com o conceito da banda
em geral. As bolinhas são a nossa representação de um jeito
frívolo e divertido", diz Rosay.
Mas não se engane com o romantismo dos vestidos de bolinhas e das dancinhas meigas. A
julgar pelas letras das canções,
as Pipettes são, no fundo, bem
moderninhas.
Em "One Night Stand" (do
disco que será lançado por
aqui), por exemplo, elas pedem:
"Me deixe em paz/ Você é apenas uma transa".
Já em "Why Did You Stay"
(do mesmo CD), elas dizem:
"Por que você ficou?/ Quando
eu te tratei daquela maneira/
Eu fui tão cruel".
Os homens
Isso não significa que elas levantem a bandeira do feminismo. "O que fazemos é relatar a
maneira como a maioria das garotas jovens que conhecemos
sentem. Não vejo uma abordagem feminista nisso. Queremos
que as nossas músicas conquistem algum respeito dos homens", afirma Rosay.
Os homens, é bom destacar,
têm um papel fundamental no
grupo. Apesar de aparecer pouco, até para manter o bom marketing, a banda The Cassettes,
formada por quatro garotos,
acompanha o trio em todos os
shows, gravações e participa da
composição das músicas. "Na
verdade, não há Pipettes sem
Cassettes", admite a cantora.
Até porque a idéia de montar
o grupo feminino inspirado nas
"fábricas de hits" dos anos 60
foi de um dos garotos, o baixista
Monster Bobby. Ex-DJ em
Brighton, foi ele quem convidou as vocalistas e criou o conceito indie retrô das Pipettes.
Se a estética é antiga, as estratégias de divulgação estão
totalmente de acordo com o século 21. A banda disponibiliza
as suas músicas e vídeos no site
e mantém uma página no
MySpace (veja abaixo).
Graças a isso, o grupo ganhou
notoriedade na Europa. Além
de uma concorrida agenda de
shows em clubes indies, se
apresentou em festivais importantes, como os britânicos
Glastonburry e Leeds, e neste
mês inicia uma turnê pelos Estados Unidos e Canadá.
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