São Paulo, segunda-feira, 08 de outubro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

música

Em algum lugar do passado

Com visual e sonoridade retrô, Pipettes revive o pop adolescente da década de 60; em entrevista, vocalista fala sobre influências

LETICIA DE CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Elas parecem ter saído do túnel do tempo com seus vestidos de bolinhas, dancinhas sincronizadas e vocais doces.
Misturando um pouco de atitude riot grrrl e do romantismo dos grupos vocais femininos dos anos 60, as Pipettes terão seu primeiro disco, "We Are the Pipettes", lançado no Brasil em dezembro, com nada menos que um ano e meio de atraso.
Formada em Brighton, na Inglaterra, há quatro anos, a banda se inspirou na sonoridade pop criada pelo produtor Phil Spector na década de 60, que abusava das melodias e das orquestrações, e em grupos vocais femininos daquela época, como The Ronettes, The Crystals (produzidos por Spector) e The Shangri-Las.
"Estamos interessadas na fórmula de três garotas cantando em harmonia, na inocência daquela época, na força das melodias, nos coros. É algo que estava faltando na música pop", diz Rosay, 21, uma das três vocalistas, em entrevista por telefone ao Folhateen.
Esqueça-se, portanto, das referências básicas de qualquer roqueiro que se preze. Na bagagem musical das garotas não entram Beatles nem Elvis Presley. "O rock e o pop são muito dominados pelos homens. Essa música [de Elvis e dos Beatles] realmente não significa muito para nós. Temos um olhar mais abrangente", completa Rosay.

Retrô
Não é a apenas a sonoridade das garotas que remete aos anos 60. Toda a identidade visual da banda (muito bem elaborada, por sinal) segue essa estética: o figurino, o site, os vídeos e as capas de CDs.
Bem produzidos, os vídeos trazem coreografias fofinhas, cenários vintage e um climão de jukebox. "Estar numa banda não é apenas escrever músicas. Achamos importante explorar nossas idéias visualmente. Os figurinos, por exemplo, nos ajudam a criar as personagens. Isso não tem a ver com moda, mas com o conceito da banda em geral. As bolinhas são a nossa representação de um jeito frívolo e divertido", diz Rosay.
Mas não se engane com o romantismo dos vestidos de bolinhas e das dancinhas meigas. A julgar pelas letras das canções, as Pipettes são, no fundo, bem moderninhas.
Em "One Night Stand" (do disco que será lançado por aqui), por exemplo, elas pedem: "Me deixe em paz/ Você é apenas uma transa".
Já em "Why Did You Stay" (do mesmo CD), elas dizem: "Por que você ficou?/ Quando eu te tratei daquela maneira/ Eu fui tão cruel".

Os homens
Isso não significa que elas levantem a bandeira do feminismo. "O que fazemos é relatar a maneira como a maioria das garotas jovens que conhecemos sentem. Não vejo uma abordagem feminista nisso. Queremos que as nossas músicas conquistem algum respeito dos homens", afirma Rosay.
Os homens, é bom destacar, têm um papel fundamental no grupo. Apesar de aparecer pouco, até para manter o bom marketing, a banda The Cassettes, formada por quatro garotos, acompanha o trio em todos os shows, gravações e participa da composição das músicas. "Na verdade, não há Pipettes sem Cassettes", admite a cantora.
Até porque a idéia de montar o grupo feminino inspirado nas "fábricas de hits" dos anos 60 foi de um dos garotos, o baixista Monster Bobby. Ex-DJ em Brighton, foi ele quem convidou as vocalistas e criou o conceito indie retrô das Pipettes.
Se a estética é antiga, as estratégias de divulgação estão totalmente de acordo com o século 21. A banda disponibiliza as suas músicas e vídeos no site e mantém uma página no MySpace (veja abaixo).
Graças a isso, o grupo ganhou notoriedade na Europa. Além de uma concorrida agenda de shows em clubes indies, se apresentou em festivais importantes, como os britânicos Glastonburry e Leeds, e neste mês inicia uma turnê pelos Estados Unidos e Canadá.


Texto Anterior: Rádio on-line só pra elas
Próximo Texto: Puppini Sisters recriam um cabaré dos anos 40
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.