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ESCUTA aqui
O "roquismo" odeia o pop
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
Por que o rock de guitarras, de preferência feito
numa garagem, é visto
como mais respeitável do
que o pop comercial de
Christina Aguilera e Nelly?
Por que os críticos adoram gênios
roqueiros solitários, mas desprezam
astros pop, que cantam músicas de
outras pessoas e fazem parte de esquemas de marketing?
Esse contraste entre rock "verdadeiro" e pop está no centro de dois
textos recentes e importantes.
O primeiro, do crítico Kelefa Sanneh, saiu no "New York Times". Ele
pergunta por que a crítica mais tradicional é tão presa ao modelo estabelecido de rock: brancos, em geral
heterossexuais, que fazem um determinado tipo de música, seguindo
regras preestabelecidas. Essa atitude
conservadora dos críticos é chamada por Sanneh de "roquismo". Segundo o jornalista, o "roquismo" seria o responsável, por exemplo, pela
rejeição da crítica à "disco music"
(porque "disco" era coisa de negros
e homossexuais).
O segundo texto é o livro recém-lançado "Quem Tem um Sonho
Não Dança", do brasileiro Guilherme Bryan, sobre o pop rock do Brasil nos anos 80. Um dos destaques é
o confronto entre a crítica paulista e
as bandas alegrinhas do Rio (Blitz,
Kid Abelha). O paralelo com o artigo de Sanneh é total: Guilherme Bryan descreve um panorama em que críticos "roquistas" desprezavam a música solar dos
cariocas.
Na definição de Kelefa Sanneh, o "roquista reduz o rock'n'roll a uma caricatura, depois usa essa caricatura como arma". No caso da crítica paulista dos anos
80 (e dos 90, e do século 21...), a caricatura eram as bandas inglesas de som lúgubre, habitantes de um vazio existencial. Era o som que os grupos da época, em
SP, tentavam copiar. E, como boa parte dos músicos ganhava a vida como críticos de rock, era também o som usado como parâmetro (ou caricatura?) para julgar o rock/pop de outros pontos do Brasil.
Para Kelefa Sanneh, "incontáveis críticos atacam astros pop por não serem suficientemente rock, sem parar para refletir por que ser rock deveria ser o objetivo
de todo mundo". É uma longa discussão, para a qual "Escuta Aqui" não tem veredicto. Aqui, é forte o viés "roquista". Mas busco manter um olho atento ao
mundo pop -até já escolhi o CD da Kelly Key como um dos melhores do ano.
Se isso é certo ou errado, quem julga é você.
E-mail: cby2k@uol.com.br
PLAY - Público inglês
Porta da Brixton Academy, casa de shows
londrina. "Escuta Aqui" fala com o povo na
fila. "Por que vocês estão aqui?". "Porque
essas bandas são jovens, são novas, são diferentes". No Brasil, é o contrário...
PAUSE - "Faded Seaside Glamour", The Delays
"Escuta Aqui" deu uma passada em Londres e trouxe essa novidade, de vocais femininos, guitarras altas, clima etéreo. Ou
seja, cópia idêntica dos velhos Cocteau
Twins!
EJECT - Eleitores americanos
Se alguém tinha dúvida de que os americanos ignoram o que se passa fora dali, a dúvida acabou. Eles tiveram a manha de reeleger
Bush, o político mais odiado do mundo!
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