São Paulo, segunda-feira, 08 de dezembro de 2008

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livros

Máximas da paixão

Poeta, cronista, blogueiro, Fabrício Carpinejar lança "Diário de um Apaixonado", sua primeira obra para jovens

LUANA VILLAC
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Poeta, cronista, blogueiro. Feio, exótico, performático. Gaúcho, talentoso, sedutor. Entre os adjetivos que reserva para si mesmo e aqueles que lhe são atribuídos, Fabrício Carpinejar transita sem se atrapalhar. Mas, antes de qualquer coisa, ele é um criador de imagens. Sua fala desenha, esculpe, traça contornos. Com a palavra "desejo" raspada na parte de trás da cabeça e as unhas da mão esquerda pintadas de roxo, ele recebeu o Folhateen para uma entrevista sobre o recém-lançado volume "Diário de um Apaixonado - Sintomas de um Bem Incurável", sua primeira incursão na literatura juvenil. Leia:

 

FOLHA - Por que você resolveu escrever para adolescentes?
FABRÍCIO CARPINEJAR
- Acho que essa fase combina muito com a paixão. Quem fica apaixonado fica adolescente, a linguagem do apaixonado é adolescente: solta, irreverente e extremista.

FOLHA - O que é a adolescência?
CARPINEJAR
- É uma fase que marca muito mais a vida de uma pessoa do que a infância. Nós idealizamos a infância, a mitificamos, mas é na adolescência que definimos caráter, predisposição... Sou contra a tese dos pais que usam a adolescência como bode expiatório para justificar tudo. Parece que o adolescente está tomado de um espírito maligno e que qualquer atitude dele é em razão da fase pela qual está passando. Não é assim! É apenas uma freqüência diferente. O adolescente fala sério quando ri.

FOLHA - Como assim?
CARPINEJAR
- Esse período é aquele da autocrítica, quando se exercita a ironia. E eles vão exercitar a ironia com quem, senão com os pais? Só que os pais têm que ter a sensibilidade de reagir com humor. Eu notava isso quando conversava com a minha filha de 14 anos: ela nunca me elogiava, só me avacalhava. Eu ficava bravo, até que me dei conta que, se começasse a rir dos comentários dela, se passasse a fazer observações espirituosas sobre suas intervenções, não teria briga.

FOLHA - E mudou a relação?
CARPINEJAR
- Mudou tudo. Porque eu me avacalho também. É importante quando o adolescente nos chama a atenção para nossos defeitos. O discurso dele é todo ao contrário. Se ele diz não, é sim. Porque ele quer a independência e se sente culpado por isso, então encontra o equilíbrio e a via de escape via risada. Se a minha filha me diz que estou gordinho, ela está se importando comigo. É um jeito de ela se importar com o pai sem parecer piegas.

FOLHA - O adolescente não quer ser piegas. E você escreve para eles um livro sobre a paixão, um tema piegas...
CARPINEJAR
- Sim, totalmente. Esse foi desafio que me estimulou. Como falar da paixão sem adoçar? Então eu tentei traçar o retrato cômico do apaixonado. Ele é aquele que vai ter prisão de ventre... Como é difícil puxar a descarga na hora em que começa um relacionamento! Parece que vai romper o mistério, que é um vexame...

FOLHA - O que mais apaixona você hoje?
CARPINEJAR
- Tantas coisas: o cheiro dos cabelos da mulher saindo do banho, fantasia de tenista, canetas coloridas, futebol, os cílios do meu filho, os olhos caídos da minha filha, a convivência do café da manhã... E amo escrever. É o momento em que eu danço.

DIÁRIO DE UM APAIXONADO
Fabrício Carpinejar
Ed. Mercuryo Jovem
R$ 38 (80 págs.)


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