|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
livros
Máximas da paixão
Poeta, cronista, blogueiro, Fabrício Carpinejar lança
"Diário de um Apaixonado", sua primeira obra para jovens
LUANA VILLAC
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Poeta, cronista, blogueiro. Feio, exótico,
performático. Gaúcho, talentoso, sedutor. Entre os adjetivos que reserva para si mesmo
e aqueles que lhe são atribuídos, Fabrício Carpinejar transita sem se atrapalhar. Mas, antes de qualquer coisa, ele é um
criador de imagens. Sua fala desenha, esculpe, traça contornos. Com a palavra "desejo"
raspada na parte de trás da cabeça e as unhas da mão esquerda pintadas de roxo, ele recebeu o Folhateen para uma entrevista sobre o recém-lançado
volume "Diário de um Apaixonado - Sintomas de um Bem
Incurável", sua primeira incursão na literatura juvenil. Leia:
FOLHA - Por que você resolveu escrever para adolescentes?
FABRÍCIO CARPINEJAR - Acho que
essa fase combina muito com a
paixão. Quem fica apaixonado
fica adolescente, a linguagem
do apaixonado é adolescente:
solta, irreverente e extremista.
FOLHA - O que é a adolescência?
CARPINEJAR - É uma fase que
marca muito mais a vida de
uma pessoa do que a infância.
Nós idealizamos a infância, a
mitificamos, mas é na adolescência que definimos caráter,
predisposição... Sou contra a
tese dos pais que usam a adolescência como bode expiatório
para justificar tudo. Parece que
o adolescente está tomado de
um espírito maligno e que qualquer atitude dele é em razão da
fase pela qual está passando.
Não é assim! É apenas uma freqüência diferente. O adolescente fala sério quando ri.
FOLHA - Como assim?
CARPINEJAR - Esse período é
aquele da autocrítica, quando
se exercita a ironia. E eles vão
exercitar a ironia com quem,
senão com os pais? Só que os
pais têm que ter a sensibilidade
de reagir com humor. Eu notava isso quando conversava com
a minha filha de 14 anos: ela
nunca me elogiava, só me avacalhava. Eu ficava bravo, até
que me dei conta que, se começasse a rir dos comentários dela, se passasse a fazer observações espirituosas sobre suas intervenções, não teria briga.
FOLHA - E mudou a relação?
CARPINEJAR - Mudou tudo. Porque eu me avacalho também. É
importante quando o adolescente nos chama a atenção para
nossos defeitos. O discurso dele
é todo ao contrário. Se ele diz
não, é sim. Porque ele quer a independência e se sente culpado
por isso, então encontra o equilíbrio e a via de escape via risada. Se a minha filha me diz que
estou gordinho, ela está se importando comigo. É um jeito de
ela se importar com o pai sem
parecer piegas.
FOLHA - O adolescente não quer
ser piegas. E você escreve para eles
um livro sobre a paixão, um tema
piegas...
CARPINEJAR - Sim, totalmente.
Esse foi desafio que me estimulou. Como falar da paixão sem
adoçar? Então eu tentei traçar
o retrato cômico do apaixonado. Ele é aquele que vai ter prisão de ventre... Como é difícil
puxar a descarga na hora em
que começa um relacionamento! Parece que vai romper o
mistério, que é um vexame...
FOLHA - O que mais apaixona você
hoje?
CARPINEJAR - Tantas coisas: o
cheiro dos cabelos da mulher
saindo do banho, fantasia de tenista, canetas coloridas, futebol, os cílios do meu filho, os
olhos caídos da minha filha, a
convivência do café da manhã...
E amo escrever. É o momento
em que eu danço.
DIÁRIO DE UM
APAIXONADO
Fabrício Carpinejar
Ed. Mercuryo Jovem
R$ 38 (80 págs.)
Texto Anterior: 02 Neurônio: E-mailfobia Próximo Texto: + Livros Índice
|