LUÍS AUGUSTO FISCHER
ESPECIAL PARA A FOLHA

O que tem de gente dando entrevista hoje em dia é uma grandeza. Também, o que tem de emissora de rádio e TV, o que tem de publicação, é realmente algo novo. Vai daí, entrevista-se gente a torto e a direito, por qualquer motivo, muitas vezes desprezando até a intimidade do sujeito, sua casa e sua privacidade.
Nem todo mundo é entrevistado, claro, e algumas pessoas são entrevistadas demais. Esses dias me senti num sonho alucinatório: estava zapeando e vi a cara do cantor Daniel em três canais de TV ao mesmo tempo! Era gravado, eu sei, mas é de espantar que tanta gente queira botar o microfone diante dele e levar suas palavras ao ar no mesmo dia. Ele tem mesmo tanto a dizer? Nós queremos ouvi-lo tanto assim? Precisamos disso?
Pior ainda: será que não tem gente mais interessante dando sopa? Gente cheia de história e palpite? Tem sim, evidente. Tanto que alguns jornalistas vão até lá e proporcionam a situação para o relato. Quer exemplo? A magnífica edição chamada "Histórias do Poder", em três volumes, organizados por Alberto Dines, Florestan Fernandes Jr. e Nelma Salomão.
Cada um dos volumes reúne um tipo de gente. No primeiro, militares, padres e intelectuais; no segundo, parlamentares; e, no terceiro, políticos ligados a importantes experiências no Executivo. Há interessantes exceções, como Fernanda Montenegro, atriz, e José Mindlin, ex-empresário e bibliófilo, palpitando sobre o modo de ser dos governos daqui. Ou o poeta Ferreira Gullar e o jornalista Sérgio Cabral contando suas experiências no mundo da cultura brasileira.
Bom de ler, de meditar e de descobrir coisas sobre o passado e o presente de figuras altas da República, como o hoje notório senador Antônio Carlos Magalhães, o atual presidente Fernando Henrique, o ex-presidente Sarney e o secretário das finanças da cidade de São Paulo, João Sayad, todos indivíduos com muita quilometragem rodada, todos dando entrevistas reflexivas, destinadas ao leitor de agora mas também ao do futuro.