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internet
Os bem-relacionados
Donos das maiores comunidades do Orkut contam como é lidar com a fama e com o assédio de milhões de membros por todo o país
ROBERTA SALOMONE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Eles não foram escalados para a novela
das oito nem costumam dar autógrafos
por aí, mas, na internet, levam vida de celebridade.
Cantadas e recados vindos de
todos os cantos do país chegam,
diariamente, para eles. "Recebo cerca de 60 mensagens por
dia e não posso negar que isso é
gostoso", diz o carioca João
Paulo Mascarenhas, 28, criador
da "Eu odeio acordar cedo", a
maior comunidade do Orkut.
Consultor de uma agência de
viagens de intercâmbio, ele
coordena mais de 3,5 milhões
de integrantes em sua página.
Sem ganhar um tostão. Apenas
pelo prazer de ser famoso e
querido no mundo virtual.
Além de João Paulo, o Folhateen ouviu outros seis donos de
comunidades com mais de 1
milhão de participantes. Juntos, eles conseguiram a proeza
de atrair cerca de 15 milhões de
pessoas (para se ter uma idéia, a
capital mais os 38 municípios
que compõem a Grande São
Paulo reúnem 19 milhões).
E, ao contrário do que muita
gente pensa, não é só criar uma
comunidade e deixar rolar.
Conduzir a empreitada dá trabalho. "Só respondo mensagens que me interessam", garante o gaúcho Fábio Possamai,
27, da "Só mais 5 minutinhos",
que tem mais de 1,6 milhão de
pessoas que adoram enrolar
um pouco mais na cama pela
manhã. "Quem pede coisas como "relacione a minha comunidade" não tem resposta", diz.
Fábio, que já perdeu a conta
de quantos amigos fez, é formado em biologia, estuda filosofia
e ainda tem tempo para gerenciar mais cinco comunidades.
O esforço de Fábio não é incomum. Carolina Meireles, 26,
por exemplo, estava penando
para administrar "Deus me disse: desce e arrasa", que reúne
1,8 milhão de membros que
acham que não vieram ao mundo a passeio, e "Eu abro a geladeira para pensar", com 1,1 milhão. A solução? Elegeu pessoas
para servi-la única e exclusivamente. "Se eu quisesse deixar
as comunidades como gosto,
teria que passar o dia em frente
ao micro. Graças aos mediadores, tenho tudo organizado."
Idealizador de 30 comunidades (a maior, "Eu amo fim de
semana", tem 2,6 milhões de
integrantes), Cláudio Sérgio,
27, fez uma seleção rigorosa antes de definir os seus ajudantes.
"Eles não podem ter perfil falso, têm que ter disponibilidade,
mas não têm o poder de expulsar ninguém. Isso só o dono."
Mesmo com o auxílio de cinco moderadores, Ana (que não
quis dar o sobrenome), 17, gasta
quatro horas por dia para responder todas as mensagens.
Tem duas comunidades e
mais de 600 amigos relacionados ao seu perfil. Os pais sabem
que ela vive na internet, mas
não imaginam a fama da filha.
"Acho que eles não gostariam
de saber. Depois que a minha
maior comunidade (1,2 milhão
de integrantes) ganhou força,
comecei a ser reconhecida por
muita gente", diz a estudante.
Antonio Carlos Júnior, 25,
aproveita a situação para fazer
novos amigos e, principalmente, conhecer pretendentes. A
ajuda vem de sua principal comunidade (ele tem dez), batizada de "Eu quero um amor pra
vida toda" (1,3 milhão). Deu
certo: já arrumou namorada.
Dona de "Sou legal, não tô te
dando mole" e de outras nove
comunidades, Flávia Janot, 27,
curte o assédio, mas não o ciúme do namorado. "Ele está
sempre de olho nas minhas
mensagens", revela a jornalista.
"O Orkut devia repartir um
pouco de seu lucro com os criadores das maiores comunidades. Um real por membro não
seria nada mal, não é?" Nada
mal mesmo. Flávia embolsaria
uma bolada: R$ 1,4 milhão.
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