São Paulo, segunda-feira, 09 de maio de 2011

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QUANDO EU TINHA A SUA IDADE
NASI, CANTOR DO EXTINTO IRA!, 49 ANOS


'Eu sentava na fileira da frente'

(...)

Levava até bronca do meu pai, que falava "pô, vai pra rua!". Aí, depois que eu fui, ele se arrependeu


BRUNO MOLINERO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Nada de álcool, cigarros, drogas. Minha adolescência não teve nada a ver com o que sou ou, pelo menos, com o que já fui. Pode não parecer, mas eu era atlético: jogava bola, treinava kung fu, fiz até halterofilismo. Juro. Levantava peso para competir.
Tive também uma fase introspectiva. Não vou falar que eu era nerd. Mas era qualquer coisa parecida com isso. Não brincava muito na rua. Preferia estudar ou ficar lendo no meu quarto, sabe? Levava até bronca do meu pai, que falava "pô, vai pra rua!". Aí, depois que eu fui, ele se arrependeu.
Meus amigos também eram assim. A gente ia ver exposições e peças de teatro. Discutíamos literatura.
Aí surgiu a fissura pela música e minha coleção de discos de rock. O punk inglês se transformou em paixão. Não tinha ninguém fazendo nada parecido aqui no Brasil.
Depois disso, eu mudei da frente da classe para o fundão. E consegui minha primeira namoradinha. Até hoje sinto saudades. Era linda! Namoro sério, ficamos uns quatro anos juntos -na época eu ainda não cantava, né?
O pai da menina me odiava. Quando íamos ao sítio deles, me obrigava a cortar lenha. Era o jeito de me deixar longe dela. Mas eles moravam perto do colégio, então eu passava a tarde toda na casa deles. Era um jeito de filar boia. Mas não só isso, né?
Foi com essa namorada que tive a primeira transa sem ser com uma prostituta, eu tinha de 15 para 16. Demorou mais de um ano para conseguir. Passamos um tempão se beijando, depois se conhecendo, se tocando...
Minha sexualidade surgiu um pouco antes. Eu espiava a empregada tomando banho e trocando de roupa. Até que meu irmão, cinco anos mais novo, me dedurou.
Meu irmão sempre foi folgadinho pra caramba. Minha primeira briga de rua, aliás, foi por causa disso. Um valentão começou a bater nele no meio de um futebolzinho, aí eu fui defender meu irmão dando socos. E gostei, esse que foi o problema, né?
Tinha também que minha escola era bastante controladora. O diretor inventou uma vez que precisava usar avental para ir à aula. Aquilo era ridículo, rasguei o avental.
Por essas e outras, começaram a me chamar de nazista. Nazi era o jeito carinhoso. Mas eu não gostava. Então mudei, para tirar a carga do nazismo. Virei Nasi, com "s".
Eu queria cursar veterinária, mas só passei em universidades particulares. Meus pais não podiam pagar, fui fazer história na USP.
Foi quando o Ira! começou a tomar forma. Eu fui desistindo aos poucos da faculdade para me dedicar à música.
E sabe como é vida de músico, né? Muda tudo. Cigarro, álcool, drogas. Ser roqueiro doidinho faz parte do kit, é até charmoso. A gente começa a procurar garotas lindas na plateia. Afinal, você está em cima do palco, sua imagem fica iluminada, a voz amplificada. Gera atração.
Acabei, em 1997, em uma clínica de reabilitação por causa das drogas. Mas, nessa época, eu já era um adulto.


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