Quadrinista do Folhateen, André Dahmer junta em livro suas tirinhas da dupla cínica "Malvados"

LUANA VILLAC
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Em 1984, eu tinha apenas dez anos e já havia sido reprovado duas vezes no colégio alemão. Correr, gritar, quebrar coisas e tocar fogo nelas eram meus esportes favoritos. Meus pais, preocupados, tentaram terapia sem sucesso.
Quando eu entrava numa salinha daquelas, olhava para o terapeuta e pensava: "Você está fodido hoje, vovô"."
Assim começa a apresentação de "Malvados", livro que reúne as famosas tirinhas da dupla cínica e hilária criada por André Dahmer e que está sendo lançado neste mês. A série começou a ser publicada pelo desenhista em 2001, no site www.malvados.com.
br, e foi conquistando adeptos no boca a boca. Em pouco tempo, já recebia dez mil visitas mensais. "Nada mal para um cara que sai na rua com as meias trocadas", brinca André.
A coletânea é uma seleção das tirinhas feita pelo próprio autor. Leia abaixo a entrevista que ele deu ao Folhateen.

 

FOLHA - Quando você começou a fazer tirinhas?
ANDRÉ DAHMER - Comecei por instinto. Estava tentando carreira em pintura.Também ralava nas agências de design e nos jornais, estava infeliz com minha carreira e com as relações de trabalho. Mas eu não tinha grandes ligações com quadrinhos, foi mesmo por acaso e sorte. Depois que fiz as primeiras tiras, eu me apaixonei.

FOLHA - De onde veio a inspiração para os "Malvados"?
ANDRÉ - Não sei ao certo, mas eu sentia uma necessidade de expressão que ia além do que o desenho e a pintura podiam dar. Eu estava de namoro com o texto há tempos. Acho que juntei as duas demandas.

FOLHA - Como a internet facilita a vida do quadrinista?
ANDRÉ - A internet tem sido importante para quem não tinha como mostrar seu trabalho. Mas não faz milagres. É preciso amor, vocação, organização e comprometimento.

FOLHA - Você continua no esquema independente?
ANDRÉ - Estou publicando com uma grande editora, mas furei o cerco da exploração do autor pela indústria do livro. Tudo graças ao site que mantenho na rede. Vendo e entrego através dele os livros que eu faço.

FOLHA - Você vai continuar publicando os "Malvados" no site?
ANDRÉ - Vou fazer muitas tirinhas na vida ainda, mas, se serão sobre "Malvados" ou não, eu não sei. Não trabalho com fórmulas. Trabalho para ter prazer, foi isso que aprendi logo cedo, com meus pais. Sou novo e tenho muita coisa para experimentar em quadrinhos.

FOLHA - Além das tirinhas, quais são seus outros trabalhos?
ANDRÉ - Pintura e jardinagem, duas paixões da minha vida. Ambas me tornaram uma pessoa melhor e me deram a paz de que tanto preciso.

FOLHA - Você odiava a escola quando era pequeno?
ANDRÉ - Na verdade, a escola é que me odiava. Por não conseguir me adaptar ao ensino tradicional, reprovei alguns anos e fui expulso de alguns colégios. Na época, meus pais viveram um inferno, os pedagogos diziam que eu não conseguiria nunca terminar os estudos. Só depois que ganhei espaço para as artes a coisa melhorou. Eu apenas não tinha orientação competente e compatível com minhas demandas na época.