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O escroque "do bem"
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
Se eu fosse documentarista,
faria um documentário sobre Michael Moore, diretor
de "Farenheit 9/11" e "Tiros
em Columbine". Meu documentário, assim como os de Moore,
defenderia uma tese. No caso, a de que
Michael Moore é um escroque, ainda
que "do bem".
Meu filme abordaria a relação de
Moore com seus empregados. Daria
closes nos contracheques de seus funcionários e compararia os salários
com a média do mercado americano.
Também acompanharia a rotina de
trabalho do pessoal. Mostraria se são
bem tratados, se almoçam, se têm folgas. Eu perguntaria a Michael Moore,
na lata, como ele faz em seus filmes, se
ele permite que seus funcionários se
sindicalizem.
Meu documentário daria especial
atenção aos seus métodos de trabalho.
Deixaria as câmeras grudadas em
Moore durante a edição de um filme
dele. Para explicar, por exemplo, como Moore trata áudio e vídeo. Será
que, fiel à realidade, ele só usa áudio
que corresponde à imagem gravada?
Ou, às vezes, mistura áudio e vídeo de
situações diferentes, só pelo efeito
dramático?
Filmagens de planos e contraplanos
também seriam dissecadas em meu documentário. Quando Moore saísse para
uma entrevista, eu e meu cinegrafista iríamos junto. Sabe para quê? Para ver se
ele realmente faz aquelas perguntas cara a cara com os entrevistados, ou se primeiro Moore grava a entrevista e, depois que o entrevistado vai embora, filma os
chamados contraplanos, em que ele, Moore, agora sozinho, formula as questões
como bem entende (e depois a edição finge que se trata de uma única situação).
Meu documentário traria uma longa entrevista com Moore. Eu perguntaria
que tipo de formação política ele tem. Que livros leu, qual pensador mais o influenciou. Imagino que Moore tenha posições políticas muito mais profundas
do que o presidente Bush, que ele adora mostrar como um completo imbecil.
Por fim, eu faria uma investigação sobre um recente episódio envolvendo Michael Moore e o guitarrista Pete Towshend, do The Who. Segundo o jornal escocês "The Scotsman", Moore anda espalhando que Towshend é a favor da invasão do Iraque, só porque o músico se negou a ceder a canção "Won't Get Fooled
Again" (nunca mais vão me enganar) para a trilha de "Farenheit 9/11".
No "Scotsman", Towshend chama Moore de "provocador" e fulmina: "Parece-me que esse aspecto de seu caráter não o faz diferente daquele homem poderoso e teimoso que está no centro de seu novo documentário".
Ou seja: Towshend compara Michael Moore a George Bush. Como eu faria no
meu documentário.
Álvaro Pereira Júnior, 41, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo
E-mail: cby2k@uol.com.br
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