São Paulo, Segunda-feira, 09 de Agosto de 1999
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Gravadoras abrem caminho para rappers

free lance para a Folha

São Paulo acabou de ter um fim-de-semana dedicado ao hip hop. O festival Dulôco, que aconteceu no Sesc Itaquera e no Sesc Belenzinho, não foi só uma oportunidade de conferir feras internacionais, como Grandmaster Flash e Afrika Bambataa, ao vivo, mas uma prova de que o movimento vem conquistando seu espaço e o respeito do público.
Antenadas na tendência, as gravadoras Trama e Sony Music abrem espaço para o rap e outros ritmos de música black.
A Trama vai lançar o próximo CD de Thaíde e DJ Hum. O primeiro single deve sair em setembro, pelo selo Brava Gente, comandado pelo próprio DJ Hum. O selo já lançou a coletânea "Rima Forte", que reúne 11 bandas de vários lugares de São Paulo (como Aliados do Gueto, de Guarulhos, e Mandamentos, de Heliópolis).
Nas lojas desde a semana passada, a coletânea também traz, de bônus, uma faixa com batidas que podem ser usadas pelos DJs em suas próprias músicas. De olho nas pick-ups, o selo lança uma tiragem da coletânea em vinil.
"Rima Forte é o nome de um projeto nosso, que tem funcionado como um laboratório de som, em que a gente troca idéias com várias pessoas do rap. Essa coletânea é um resumo do material que eu e o Thaíde recebemos de 96 até o final do ano passado e mostra 11 maneiras diferentes de fazer rap, seja nas rimas ou nas batidas", explica DJ Hum.
A Trama já lançou as bandas de rap Câmbio Negro (de Brasília) e Da Guedes (de Porto Alegre), pelo selo Matraca. A gravadora -que existe há sete meses e, desde o começo, aposta nos rappers por convicção artística- contratou também as bandas de rap Camorra, Resumo do Jazz, Potencial 3 e Criminal D e Gangue de Rua.
"Hoje, o rap divide com a música eletrônica a preferência dos novos artistas, mas sempre esteve presente na MPB, desde os tempos de Tim Maia. De dez demos que eu recebo, cinco são de rap e cinco são de música eletrônica. Está na hora de as gravadoras refletirem o que acontece nas ruas. Só em São Paulo, existem 200 bandas de rap", diz João Marcello Bôscoli, diretor da gravadora.
Na Sony Music, o novo selo dedicado à black music é o Black Groove, comandado por Paulo Brandão. O primeiro lançamento foi o single "Men's", da banda carioca Nocaute (o álbum deve chegar às lojas em setembro).
Outra banda já contratada pelo Black Groove é o Z'Áfrika Brasil. O single sai no fim do ano e o álbum está prometido para o ano que vem, com produção de Théo Werneck (do programa "H").
Brandão, que é mais conhecido como Primo Preto, é uma figura bem conhecida no universo black: foi apresentador da primeira versão do "Yo!", programa de rap na MTV. Primo organizava o Class, um dos mais tradicionais bailes hip hop de São Paulo.
Para Primo, a abertura de uma gravadora do porte da Sony para o rap é uma conquista. "É mais um espaço para a cultura alternativa. O apoio da Sony significa colocar discos de boa qualidade nas prateleiras, produzir clipes legais. As gravadoras estão vendo que realmente se consome rap, que esse é o ritmo que movimenta as pistas de dança atualmente."
Entre os projetos que o selo pretende implantar, está o de ter um estúdio que funcione como laboratório de som, para que os rappers possam produzir suas próprias batidas. "Essa é uma das maiores dificuldades de quem faz rap, montar as bases para as músicas", diz. O laboratório deve estar em funcionamento até o final deste ano. (LF)


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