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comportamento
Fora de época
Conheça uma galera que aprecia as coisas bacanas de gente que tem até mais de cinco vezes a sua idade
LEANDRO FORTINO
LETICIA DE CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Jogo de bocha, partidas
de golfe, discos de jazz
em vinil, roupas que
estavam na moda há
mais de 50 anos são
elementos do mundo de pessoas que têm pelo menos três
vezes a sua idade, não? Na
maioria dos casos, sim. Mas só
se você não for da turma dos
neovelhinhos, que prefere ouvir as vozes da experiência.
Muitos deles nem completaram 20 anos de idade, mas vivem cercados de pessoas de
mais de 60 na hora de praticar
esportes, por exemplo.
Estudante da oitava série,
Tauan Marcondes da Silva, 14,
divide suas atividades esportivas entre o futebol e o bocha,
um esporte quase sempre praticado por pessoas mais velhas.
O objetivo desse jogo é atirar
bolas de madeira, tentando
aproximá-las o máximo possível de outra, pequena, denominada bolim.
Influenciado pelo pai, Tauan
joga bocha desde os três anos.
"A maioria dos jogadores tem
de 60 para cima. É todo mundo
bem velhinho. Acho que é porque não tem tanta emoção e
porque tem de ter paciência. O
jovem hoje não tem paciência",
explica Tauan. "As pessoas
querem coisas mais emocionantes, com adrenalina, tipo
futebol, que eu também jogo."
Tauan acha que, praticando
bocha, ajuda a manter o esporte vivo. "Acho que o bocha está
ficando mais popular, mas corre o risco de acabar, porque tem
pouco moleque e muito velhinho jogando. O futuro do bocha
é a gente, os mais novos, porque, senão, acaba. Eu até prefiro futebol, mas jogo os dois."
André Nogueira, 15, que pratica o bocha desde os dois anos,
também sob influência familiar, gosta da convivência com
pessoas mais velhas. "Comecei
a vir com meu pai e hoje jogo
com gente de até 79 anos", conta o estudante do primeiro ano
do ensino médio.
Apesar de o bocha ser praticamente o único assunto que
André conversa com seus parceiros mais velhos, ele acha que
o convívio o fez amadurecer.
"Eles têm experiência de vida."
Golfe
No campo do golfe está Karina Palmberg, 15, que joga esse
esporte associado a tiozinhos
de tênis engraçados desde os 5.
Ela não acha que conviver
com gente das antigas só traga
amadurecimento. De vez em
quando, ela fica irritada com o
tratamento que recebe dos anciões: "Alguns me tratam feito
criança e eu não gosto", explica
a pequena golfista.
"A gente já amadureceu, mas
eles tratam a gente como criança; assim a gente não amadurece", completa a estudante do
primeiro ano do ensino médio,
que relaciona a falta de paciência ao baixo interesse dos jovens na prática de golfe.
"É um esporte difícil. Tem
gente que pensa que é só jogar
para a frente, mas não é. É um
jogo de quem erra menos, e não
de quem acerta mais", explica.
O assunto dela com os jogadores velhinhos é um só: "Falamos de golfe; não tenho nada
em comum com eles", conta.
"Mas é divertido. Eles adoram
jogar com a gente. E eu quero
jogar quando tiver a idade deles; eles são saudáveis."
Paciência de quem poderia
ter muitos anos de idade é o que
não falta em Karina, que suporta numa boa acompanhar as
quatro horas que geralmente
duram as partidas de golfe. "Assisto a jogos na TV. É meio cansativo, mas você nem vê o tempo passar."
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