São Paulo, segunda-feira, 09 de outubro de 2006

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comportamento

Fora de época

Conheça uma galera que aprecia as coisas bacanas de gente que tem até mais de cinco vezes a sua idade

LEANDRO FORTINO
LETICIA DE CASTRO

DA REPORTAGEM LOCAL

Jogo de bocha, partidas de golfe, discos de jazz em vinil, roupas que estavam na moda há mais de 50 anos são elementos do mundo de pessoas que têm pelo menos três vezes a sua idade, não? Na maioria dos casos, sim. Mas só se você não for da turma dos neovelhinhos, que prefere ouvir as vozes da experiência.
Muitos deles nem completaram 20 anos de idade, mas vivem cercados de pessoas de mais de 60 na hora de praticar esportes, por exemplo.
Estudante da oitava série, Tauan Marcondes da Silva, 14, divide suas atividades esportivas entre o futebol e o bocha, um esporte quase sempre praticado por pessoas mais velhas. O objetivo desse jogo é atirar bolas de madeira, tentando aproximá-las o máximo possível de outra, pequena, denominada bolim.
Influenciado pelo pai, Tauan joga bocha desde os três anos. "A maioria dos jogadores tem de 60 para cima. É todo mundo bem velhinho. Acho que é porque não tem tanta emoção e porque tem de ter paciência. O jovem hoje não tem paciência", explica Tauan. "As pessoas querem coisas mais emocionantes, com adrenalina, tipo futebol, que eu também jogo."
Tauan acha que, praticando bocha, ajuda a manter o esporte vivo. "Acho que o bocha está ficando mais popular, mas corre o risco de acabar, porque tem pouco moleque e muito velhinho jogando. O futuro do bocha é a gente, os mais novos, porque, senão, acaba. Eu até prefiro futebol, mas jogo os dois."
André Nogueira, 15, que pratica o bocha desde os dois anos, também sob influência familiar, gosta da convivência com pessoas mais velhas. "Comecei a vir com meu pai e hoje jogo com gente de até 79 anos", conta o estudante do primeiro ano do ensino médio.
Apesar de o bocha ser praticamente o único assunto que André conversa com seus parceiros mais velhos, ele acha que o convívio o fez amadurecer. "Eles têm experiência de vida."

Golfe
No campo do golfe está Karina Palmberg, 15, que joga esse esporte associado a tiozinhos de tênis engraçados desde os 5.
Ela não acha que conviver com gente das antigas só traga amadurecimento. De vez em quando, ela fica irritada com o tratamento que recebe dos anciões: "Alguns me tratam feito criança e eu não gosto", explica a pequena golfista.

"A gente já amadureceu, mas eles tratam a gente como criança; assim a gente não amadurece", completa a estudante do primeiro ano do ensino médio, que relaciona a falta de paciência ao baixo interesse dos jovens na prática de golfe.
"É um esporte difícil. Tem gente que pensa que é só jogar para a frente, mas não é. É um jogo de quem erra menos, e não de quem acerta mais", explica.
O assunto dela com os jogadores velhinhos é um só: "Falamos de golfe; não tenho nada em comum com eles", conta. "Mas é divertido. Eles adoram jogar com a gente. E eu quero jogar quando tiver a idade deles; eles são saudáveis."
Paciência de quem poderia ter muitos anos de idade é o que não falta em Karina, que suporta numa boa acompanhar as quatro horas que geralmente duram as partidas de golfe. "Assisto a jogos na TV. É meio cansativo, mas você nem vê o tempo passar."


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