São Paulo, segunda, 10 de maio de 1999

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

eles tecem o futuro
"Não acredito mais em soluções políticas"

A estudante Alice Pinto, 16, envolveu-se em projetos de caráter social "porque é minha responsabilidade e me deixa feliz". Confira sua trajetória e idéias na série de reportagens sobre jovens com experiências solidárias da Reportagem Local

A estudante do terceiro colegial Alice Martins Villela Pinto, 16, sentia-se mal com o excesso de consumismo que via na sociedade. "Neste mundo de hoje tudo tem de ter finalidade, um produto, aí vem aquela coisa de números; a gente se preocupa muito com a quantidade, e pouco com a qualidade", diz.
Mas a garota não ficou parada esperando uma solução. Já participa há três anos do projeto Biblioteca Viva, iniciativa do Citibank e da Fundação Abrinq, como mediadora de leitura. Uma vez por semana, ela visita as instituições onde foram instaladas bibliotecas por meio do projeto e conta histórias para os frequentadores de 2 a 14 anos para estimular a leitura.
"Muitas crianças não tiveram como nós, de classe média, incentivo, uma mãe contando histórias na hora de dormir, por exemplo." O objetivo do trabalho é criar um vínculo entre as crianças e o livro e desenvolver a linguagem. "No final, há as histórias lidas, as contadas e as vividas", diz ela.
Alice conta que a experiência foi tão gratificante que "saí atrás de outras coisas para fazer". Acabou expandindo o trabalho. Ela vai integrar um projeto conjunto da Prefeitura de São Caetano do Sul, do Instituto Pólis e da Unicef (Fundo das Nações Unidas para as Crianças) com os moradores dos arredores do lixão da cidade. São 329 pessoas que vivem como catadores de lixo, mais da metade é de jovens e crianças que não têm oportunidade de estudar.
E mais: Alice também promove saraus em comunidades -da periferia, asilos, creches- "para criar um marco cultural e incentivar as pessoas do local a se mobilizar e manter o espaço de troca de poesia, música, pintura, arte em geral". Ela aproveita para levar tinta, livros e contar suas histórias para as crianças que aparecem por lá.
"Não acredito mais em soluções políticas para nossos problemas", diz. Estimular a leitura nas crianças, espaços de troca entre as pessoas nos saraus, "isso me deixa feliz, eu realizo meu sonho de mudar alguma coisa e me repenso também". (FÁTIMA GIGLIOTTI)



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.