São Paulo, Segunda-feira, 10 de Julho de 2000
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ESTANTE

Livro conta a história oculta da Revolta da Chibata

LUÍS GUSTAVO FISCHER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Zumbi dos Palmares, o "Dragão do Mar", Luís Gama, João Cândido. Você sabe quem são? Os 111 mortos no massacre do Carandiru, os meninos da chacina da Candelária, o sequestrador do ônibus no Rio que foi assassinado no camburão? A sua turma já conversou sobre eles? Mano Brown, MV Bill. Você escuta esses caras? Um fio invisível une essas figuras todas. Esse fio é a história dos negros no Brasil. Deles, a gente só fica sabendo quando aparecem nos grandes times de futebol ou quando fazem um conjunto de pagode meloso. Então aqui vai: "Cisnes Negros - Uma História da Revolta da Chibata", de Mário Maestri. O livro traça a história daquele episódio medonho, que começou no dia 16 de novembro de 1910, no Rio, então capital federal. No convés do encouraçado Minas Gerais, os marinheiros são perfilados para assistir ao castigo do companheiro Marcelino Rodrigues de Menezes, que vai receber 250 chibatadas. Seu crime: haver machucado com uma navalha um cabo que o denunciara por entrar no navio com duas garrafas de cachaça. A desumanidade se consuma, e a rebeldia explode: os marinheiros tomam posse dos navios e exigem o fim dos castigos e mais umas coisinhas banais, como salário digno, comida decente, direito de ter descanso. Faça a conta: a escravidão já havia acabado mais de 20 anos antes. Só que, na Marinha, a coisa era diferente. Ali se podia oficialmente chicotear os marujos, que, claro, eram praticamente todos negros, ou, como diz a canção de Gil e Caetano, "quase pretos ou quase brancos tratados como pretos". Maestri conta a história a partir das impressões das testemunhas. Com fotos, croquis e ilustrações, o texto avança como reportagem, sem jargão de historiador. E aparecem nexos impressionantes, como a relação entre a revolta dos marujos brasileiros e a insurreição dos marinheiros russos do Potemkim, assunto que Serguei Eisenstein eternizou em filme. Depois de ler o livro, pelo menos uma daquelas figuras você vai conhecer: João Cândido, o Almirante Negro, que tem por monumento, segundo a canção de Aldir Blanc e João Bosco, as pedras pisadas do cais.


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