UOL


São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESTANTE

O poeta que combinou o cotidiano com o melhor da tradição escrita

LUÍS AUGUSTO FISCHER
COLUNISTA DA FOLHA

Se você disser que poesia é difícil, eu lhe contradigo mostrando Manuel Bandeira. Poetaço maravilhoso, nascido em Recife em 1886 e morto no Rio em 1968, foi de todos os poetas de língua portuguesa (incluindo os portugueses) o que mais conseguiu captar o jeito de ser da linguagem cotidiana, mas combinou isso com o melhor da tradição escrita. Quer dizer, foi o cara que fez a síntese, como acontece de vez em quando na arte.
Sua vida foi bastante sofrida, pelo menos nas primeiras décadas. Teve tuberculose, o que, naquela época, anterior à penicilina, era quase mortal. Por isso morou na Suíça alguns meses, sobreviveu e, na volta, em 1917, publicou seu primeiro livro, um assombro chamado "A Cinza das Horas". Chorava sua tristeza assim: "Sou bem nascido. Menino, / fui, como os demais, feliz. / Depois, veio o mau destino / e fez de mim o que quis".
Era já moderno, com palavreado compreensível e temas cotidianos, mas com grande densidade semântica e amplo domínio das formas clássicas do verso. Um dos poemas do livro de estréia, "Três Idades", acompanha a passagem do tempo (o título do livro é já um comentário sobre isso mesmo) e diz: "Quanta mudança o tempo traz / em sua atroz monotonia". Simples e preciso.
E a boa notícia é que há uma belíssima antologia disponível para ler Bandeira. Trata-se de "Testamento de Pasárgada", coletânea organizada e apresentada competentemente por Ivan Junqueira, poeta e tradutor que teve grande sensibilidade na organização dos poemas por temas significativos.
Caso raro: é uma antologia que a gente lê como uma única história, composta por poemas vários.
Se pintar alguma dificuldade de entender certa passagem dos comentários, minha sugestão é passar adiante e voltar a ela depois de algum tempo, que vai valer a pena mais que tudo, porque a poesia de Bandeira vale tudo.


"Testamento de Pasárgada"
Autor: Manuel Bandeira
Organização: Ivan Junqueira
Editora: Nova Fronteira
Contato: www.novafronteira.com.br
Quanto: R$ 42



Texto Anterior: Game On: Expansão do game "Age of Mythology" deixa a desejar
Próximo Texto: Orelha
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.