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COMPORTAMENTO
Alugam-se príncipes
Eles têm de 17 a 21 anos e levam até R$ 70 para valsar com debutantes
Adriano Vizoni/Folha Imagem
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Os Príncipes de Honra fazem a valsa das espadas, na Mooca
CHICO FELITTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Se no conto de fadas o
príncipe chega a cavalo branco, na Mooca
ele chega de Gol 1.0 e
em Pinheiros vem de van escolar, em patota. No mundo real,
a realeza não chega por amor, e
sim por cachês de até R$ 70.
Esses cavalheiros são garotos
que, por grana ou por farra,
dançam em festas de 15 anos.
O Folhateen acompanhou o
trabalho de dois grupos desses
estagiários em farda de cadete.
Por terem de 17 a 21 anos e
serem quase todos universitários, estão cansados na noite de
sexta, a menos nobre do ofício.
Quando, às 22h, Leandro
Nobre, 19, chega ao bufê na
Mooca (zona leste de SP) com
os Príncipes de Honra, já passou pela faculdade de engenharia ambiental e pelo estágio.
Também já passou de carro
para conduzir três amigos. Motorista dessa trupe é obrigado a
transportar os colegas pedestres -e embolsa R$ 60 por isso.
O valor é três vezes o cachê
pela festa, de R$ 20. "É pouco,
mas trampo na sexta só para
sair no sábado", diz André Moreira, 19, um ano de mercado.
Apesar de frequentador voraz de baladas na Vila Olímpia,
Moreira diz não dançar bem.
Como todos os entrevistados,
fala que não fez aula de valsa.
Aprendem nas festas as coreografias, inclusive a complexa do túnel de espadas, que
apresentam à 0h40. "Da primeira vez, dá nervoso. Depois,
é fácil", garante Moreira.
Nem um príncipe infante
precisava ter medo de errar e
ficar mal nessa valsa. O trono
de príncipe-maior já era do namorado de 1,90 m da aniversariante, Leticia Napolitano. O
casal se fez há três meses, em
uma festa de debutante.
Depois da dança, eles voltam
às roupas civis no carro. Alguns
fumam antes de tornar à festa.
Na noite seguinte, 14 garotos
da Cavalheiros de Honra já se
secaram ao chegar de smoking
e de van escolar a um dos bufês
mais chiques da cidade, em Pinheiros -zona oeste de SP.
É que um toró havia surpreendido o grupo (não confunda com os Príncipes de
Honra) no metrô Tatuapé, onde todos se encontram para pegar o coletivo para ir trabalhar.
A festa de hoje é no salão servido por 30 garçons em que
uma vez eles tiveram de usar
"ponto" eletrônico para ouvir
ordens do diretor de cena.
Só que, dessa vez, vão sem
tecnologia e sem a tradição das
espadas -escolha da aniversariante, que também pode selecionar "seus" príncipes, entre
fotos de mais de 40 opções.
Além de desarmada, a comitiva real vai sem líder: o par da
debutante Gabriela Camilo
Teixeira na festa com tema "A
Bela e a Fera" será o pai, vestido
como o monstro da Disney.
Mas o desfalque não baixou o
pagamento de R$ 70, mais
transporte, para cada um deles.
Nada perto dos R$ 2.500 que
uma mãe diz ter pago pelo "pacote" de 15 garotos, para a festa
da filha, no mês passado.
E raspar a cabeça?
Como entrar no mercado?
Não há olheiros vasculhando a
rua atrás de príncipes, conta
Nelson Neto, 17. Ele diz que indicação de alguém do grupo é
coroação certa, pois "mais do
que bonito, tem que ter índole".
Por ter índole, entenda-se
respeitar as regras: príncipe
não bebe, não fuma e não está
no baile para "pegar" mulher
-a reportagem viu 11 "ficadas"
de príncipes e convidadas.
Há mais interdição: príncipe
não pode ter cabelo colorido.
Nem piercing. Brinco, às vezes.
E raspar a cabeça... não pode.
Um descumprimento basta
para a expulsão. Mas nunca rolou, garantem eles. "A aposentadoria é por aparência: você
deixa de ser chamado para dançar, até desistir", conta Caio
Barril, 21, o ancião da turma.
O truque, então, é parecer
mais novo. "É bom fazer a barba logo antes da festa, para não
arranhar o rosto das "minas'",
diz Leandro Nobre, 19.
Seguindo o sobrenome, Nobre diz que não vai largar a lida:
"Só saio dessa vida quando me
arrumar uma princesa".
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