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LIVROS
Há cem anos, morria Júlio Verne, escritor tido como
profético, mas que, na verdade, era só um bom observador
20 mil léguas e 100 anos depois
Divulgação
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O escritor Júlio Verne, autor de "Vinte Mil Léguas Submarinas" |
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele é uma figura tão conhecida que
seu nome foi até aportuguesado.
Quem nunca leu um livro do francês
Júlio Verne ou viu um dos muitos filmes
baseados em sua obra? O centenário da
morte do escritor, comemorado neste ano,
pode ser uma oportunidade para entrar em
contato com sua obra.
Jules Verne (1828-1905) é um dos pais da
ficção científica. É costume dizer que ele foi
"profético" em seus livros, antecipando
coisas como o submarino, as viagens espaciais ou o avião. É mais correto dizer que ele
era um bom observador.
Verne não era cientista ou aventureiro.
Passava um bom tempo em bibliotecas e
fazendo perguntas. Assim, pôde construir
roteiros, personagens e objetos possíveis.
Tome-se o caso do submarino, retratado
em um dos seus livros mais famosos, "Vinte Mil Léguas Submarinas", de 1870. Era algo que já tinha existido de forma rudimentar e que logo se tornaria realidade. O submarino de propulsão elétrica do capitão
Nemo tinha a mais lógica tecnologia para
uma embarcação submersível. Um motor a
combustão tomaria o ar dos tripulantes.
Na Guerra Civil americana foi usado um
submarino movido por força humana. Os
tripulantes do submarino "Hunley" pedalaram para ir ao combate. O submarino de
Nemo, batizado "Nautilus", tinha o mesmo
nome de um submarino a vapor inventado
pelo americano Robert Fulton no século 19.
Em homenagem tanto a Fulton como a
Verne, o primeiro submarino elétrico, de
1886, se chamou "Nautilus", assim como o
primeiro de propulsão nuclear, de 1955.
Verne respirava a atmosfera do século 19,
na qual o conhecimento científico deslanchou e era considerado sinônimo de progresso. Foi a época das últimas grandes explorações, como a busca das nascentes do
rio Nilo. Viagens pelo então misterioso interior da África começavam a ser feitas.
"Cinco Semanas em Balão", de 1863, foi o
primeiro best-seller de Verne, descrevendo
justamente uma viagem de exploração pela
África. Verne viajou muito de navio -chegou a ter um iate próprio-, mas só andou
de balão uma vez na vida e por meros 24
minutos. Ele previa que um dia se fariam
máquinas mais pesadas que o ar, como a
utilizada pelo personagem principal de
"Robur, o Conquistador", de 1886.
Vários inventores estavam ocupados
com o tema no fim do século. Os primeiros
vôos aconteceriam não muito tempo depois, no começo do século 20, pelos irmãos
americanos Orville e Wilbur, e pelo brasileiro Santos-Dumont, entre outros.
Verne queria contar histórias, por isso às
vezes cometia certas licenças científicas. É o
caso de "Viagem ao Centro da Terra", de
1864, muito falho no quesito geologia. O
"foguete" de "Da Terra à Lua", de 1865, é
um gigantesco canhão.
Verne sabia que a pólvora não era o combustível ideal para tal viagem e que o impacto do disparo mataria os astronautas.
Mas ainda não havia alternativa, e ele preferiu usar um recurso conhecido do que inventar algo radical.
Suas opiniões sobre ciência evoluíram,
acompanhando o espírito da época. Nos
seus últimos livros há mais reflexão e pessimismo sobre o impacto da ciência no aperfeiçoamento da tecnologia militar. Outra
previsão? Não, apenas boa observação.
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