São Paulo, segunda-feira, 11 de abril de 2005

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LIVROS

Há cem anos, morria Júlio Verne, escritor tido como profético, mas que, na verdade, era só um bom observador

20 mil léguas e 100 anos depois

Divulgação
O escritor Júlio Verne, autor de "Vinte Mil Léguas Submarinas"


RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ele é uma figura tão conhecida que seu nome foi até aportuguesado. Quem nunca leu um livro do francês Júlio Verne ou viu um dos muitos filmes baseados em sua obra? O centenário da morte do escritor, comemorado neste ano, pode ser uma oportunidade para entrar em contato com sua obra.
Jules Verne (1828-1905) é um dos pais da ficção científica. É costume dizer que ele foi "profético" em seus livros, antecipando coisas como o submarino, as viagens espaciais ou o avião. É mais correto dizer que ele era um bom observador.
Verne não era cientista ou aventureiro. Passava um bom tempo em bibliotecas e fazendo perguntas. Assim, pôde construir roteiros, personagens e objetos possíveis.
Tome-se o caso do submarino, retratado em um dos seus livros mais famosos, "Vinte Mil Léguas Submarinas", de 1870. Era algo que já tinha existido de forma rudimentar e que logo se tornaria realidade. O submarino de propulsão elétrica do capitão Nemo tinha a mais lógica tecnologia para uma embarcação submersível. Um motor a combustão tomaria o ar dos tripulantes.
Na Guerra Civil americana foi usado um submarino movido por força humana. Os tripulantes do submarino "Hunley" pedalaram para ir ao combate. O submarino de Nemo, batizado "Nautilus", tinha o mesmo nome de um submarino a vapor inventado pelo americano Robert Fulton no século 19. Em homenagem tanto a Fulton como a Verne, o primeiro submarino elétrico, de 1886, se chamou "Nautilus", assim como o primeiro de propulsão nuclear, de 1955.
Verne respirava a atmosfera do século 19, na qual o conhecimento científico deslanchou e era considerado sinônimo de progresso. Foi a época das últimas grandes explorações, como a busca das nascentes do rio Nilo. Viagens pelo então misterioso interior da África começavam a ser feitas.
"Cinco Semanas em Balão", de 1863, foi o primeiro best-seller de Verne, descrevendo justamente uma viagem de exploração pela África. Verne viajou muito de navio -chegou a ter um iate próprio-, mas só andou de balão uma vez na vida e por meros 24 minutos. Ele previa que um dia se fariam máquinas mais pesadas que o ar, como a utilizada pelo personagem principal de "Robur, o Conquistador", de 1886.
Vários inventores estavam ocupados com o tema no fim do século. Os primeiros vôos aconteceriam não muito tempo depois, no começo do século 20, pelos irmãos americanos Orville e Wilbur, e pelo brasileiro Santos-Dumont, entre outros.
Verne queria contar histórias, por isso às vezes cometia certas licenças científicas. É o caso de "Viagem ao Centro da Terra", de 1864, muito falho no quesito geologia. O "foguete" de "Da Terra à Lua", de 1865, é um gigantesco canhão.
Verne sabia que a pólvora não era o combustível ideal para tal viagem e que o impacto do disparo mataria os astronautas. Mas ainda não havia alternativa, e ele preferiu usar um recurso conhecido do que inventar algo radical.
Suas opiniões sobre ciência evoluíram, acompanhando o espírito da época. Nos seus últimos livros há mais reflexão e pessimismo sobre o impacto da ciência no aperfeiçoamento da tecnologia militar. Outra previsão? Não, apenas boa observação.


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