São Paulo, segunda, 11 de maio de 1998

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teatro
Woody Allen faz piada com "Deus"

NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

Woody Allen, tão conhecido do cinema, de produções como "Poderosa Afrodite", não é nenhum iniciante no teatro. Muito antes de dirigir seu primeiro filme, "What's New, Pussycat?", já era nome respeitado, por assim dizer, no teatro nova-iorquino.
É um autor de comédias que apareceu e se desenvolveu nos anos 60, com temas de então, em peças como "Don't Drink the Water" (66) e "Play It Again Sam" (69), levada depois ao cinema. Nas décadas seguintes, até hoje, deixou de escrever regularmente para o palco, mas sempre volta.
Escreveu há pouco "Central Park West", peça de um ato, curta, montada no Rio. Nos anos 70, quando já se dedicava mais ao cinema, escreveu também "Deus", comédia "metalinguística" em cartaz em São Paulo.
É um Woody Allen que lembra muito o cineasta/ator hilariante -e irresponsável- de "Bananas" e outros filmes, os seus primeiros. Filmes em que a ambição psicológica posterior, da "obra" cinematográfica de Allen, ainda não se havia anunciado.
É uma farsa caótica, que usa e abusa comicamente do recurso da peça-dentro-da-peça -se se procurar bem, há na verdade duas ou três peças-dentro-da-peça. No enredo que se sobressai, um ator grego (Murilo Benício) busca junto com um autor (Amir Haddad) um final decente para a tragédia que ambos estão ensaiando.
Na tragédia, um escravo entrega uma mensagem com a resposta à mais recorrente das perguntas do homem: Deus existe? Para encontrar um final para a tragédia, a montagem busca respostas na platéia, nos próprios deuses gregos e, suprema ironia metalinguística, no próprio Woody Allen.
Ele faz uma participação especial, gravada para a produção brasileira, "dialogando" pelo telefone. A criação do homem por Deus, assim, confunde-se com a criação em arte. Não se pode dizer que seja uma investigação metafísica ou estética das mais rigorosas.
Trata-se de uma farsa. Mas arranha bem as questões que propõe e é entretenimento dos melhores. Murilo Benício, o protagonista, se revela ótimo comediante, sem veleidades de imagem, disposto ao ridículo -está sempre a imitar uma estátua grega, por exemplo- em troca de uma boa risada.

Peça: Deus Quando: sex., às 21h, sáb., às 21h30, e dom., às 18h Onde: teatro Hilton (av. Ipiranga, 165, tel. 011/259-6508)
Quanto: R$ 25 (sex. e dom.) e R$ 30 (sáb.)



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