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teatro
Woody Allen faz
piada com "Deus"
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
Woody Allen, tão conhecido do
cinema, de produções como "Poderosa Afrodite", não é nenhum
iniciante no teatro. Muito antes de
dirigir seu primeiro filme,
"What's New, Pussycat?", já era
nome respeitado, por assim dizer,
no teatro nova-iorquino.
É um autor de comédias que
apareceu e se desenvolveu nos
anos 60, com temas de então, em
peças como "Don't Drink the
Water" (66) e "Play It Again
Sam" (69), levada depois ao cinema. Nas décadas seguintes, até hoje, deixou de escrever regularmente para o palco, mas sempre volta.
Escreveu há pouco "Central
Park West", peça de um ato, curta, montada no Rio. Nos anos 70,
quando já se dedicava mais ao cinema, escreveu também "Deus",
comédia "metalinguística" em
cartaz em São Paulo.
É um Woody Allen que lembra
muito o cineasta/ator hilariante
-e irresponsável- de "Bananas" e outros filmes, os seus primeiros. Filmes em que a ambição
psicológica posterior, da "obra"
cinematográfica de Allen, ainda
não se havia anunciado.
É uma farsa caótica, que usa e
abusa comicamente do recurso da
peça-dentro-da-peça -se se procurar bem, há na verdade duas ou
três peças-dentro-da-peça. No enredo que se sobressai, um ator
grego (Murilo Benício) busca junto com um autor (Amir Haddad)
um final decente para a tragédia
que ambos estão ensaiando.
Na tragédia, um escravo entrega
uma mensagem com a resposta à
mais recorrente das perguntas do
homem: Deus existe? Para encontrar um final para a tragédia, a
montagem busca respostas na platéia, nos próprios deuses gregos e,
suprema ironia metalinguística,
no próprio Woody Allen.
Ele faz uma participação especial, gravada para a produção brasileira, "dialogando" pelo telefone. A criação do homem por Deus,
assim, confunde-se com a criação
em arte. Não se pode dizer que seja
uma investigação metafísica ou
estética das mais rigorosas.
Trata-se de uma farsa. Mas arranha bem as questões que propõe e
é entretenimento dos melhores.
Murilo Benício, o protagonista, se
revela ótimo comediante, sem veleidades de imagem, disposto ao
ridículo -está sempre a imitar
uma estátua grega, por exemplo-
em troca de uma boa risada.
Peça: Deus
Quando: sex., às 21h, sáb., às 21h30, e
dom., às 18h
Onde: teatro Hilton (av. Ipiranga, 165, tel.
011/259-6508)
Quanto: R$ 25 (sex. e dom.) e R$ 30 (sáb.)
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