São Paulo, segunda-feira, 11 de outubro de 2004

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Clash, mitos e verdades

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR

Clash, a única banda que importa. O grupo punk com mais credibilidade de rua. O primeiro a injetar revolta política nas veias sujas do punk rock.
Tudo isso é mito ou realidade? Mito, segundo o principal biógrafo da banda, o jornalista inglês Marcus Gray, autor de "Last Gang in Town", um livro de 1995 reeditado há pouco na Inglaterra.
Em 512 páginas de pura obsessão detalhística, Gray dedica-se a esmagar cada átomo do que ele chama de "mitologia Clash". O autor revela que a trajetória musical de Mick Jones, um dos fundadores da banda, não tinha nada de punk -ele era um ex-fã de rock progressivo que só pensava em roupas e penteados e cujo maior orgulho era ser quase sósia de Keith Richards, o guitarrista dos Rolling Stones.
O agressivo Joe Strummer, a face mais visível do Clash, era filho de diplomata e ex-aluno de colégios particulares. Fanático por música caipira americana, adotou o nome artístico de Woody, em homenagem a Woody Guthrie (1912-1967), herói folk dos EUA.
O baixista Paul Simonon não sabia tocar. Nos primeiros álbuns do grupo, quem segurava o baixo nas versões finais era Mick Jones, tentando encobrir a mediocridade técnica de Simonon.
Topper Headon, baterista, só tinha um mérito: compôs a música e arranjou, sozinho, "Rock the Casbah", maior sucesso comercial do Clash. De resto, era um drogado que enlouquecia os colegas com seu comportamento errático.
Será que todas essas revelações de Gray fazem do Clash uma banda menos importante? Será que "London Calling" deixa de ser um dos maiores discos de todos tempos? Será que a importância e a influência do Clash ficam menores?
É claro que não. Por mais bem pesquisado e honesto que seja "Last Gang in Town", sua premissa é ingênua: achar que revelações de bastidores podem tornar uma banda musicalmente menos fundamental.
Ironicamente, o autor, Marcus Gray, é um superfã declarado do Clash. Ninguém da banda quis falar no livro, obrigando Gray a uma pesquisa em jornais e revistas, além de entrevistas com pessoas próximas à banda.
O autor diz que tentou, sem sucesso, se aproximar da banda. Mas as explicações não convencem. Fica a impressão de que teve medo do contato com seus ídolos, os mesmos que ele, com toda a ingenuidade do mundo, tentava destruir.


Álvaro Pereira Júnior, 41, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo E-mail: cby2k@uol.com.br

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