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Clash, mitos e verdades
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
Clash, a única banda que
importa. O grupo punk
com mais credibilidade
de rua. O primeiro a injetar revolta política nas
veias sujas do punk rock.
Tudo isso é mito ou realidade? Mito, segundo o principal biógrafo da
banda, o jornalista inglês Marcus
Gray, autor de "Last Gang in Town",
um livro de 1995 reeditado há pouco
na Inglaterra.
Em 512 páginas de pura obsessão
detalhística, Gray dedica-se a esmagar cada átomo do que ele chama de
"mitologia Clash". O autor revela
que a trajetória musical de Mick Jones, um dos fundadores da banda,
não tinha nada de punk -ele era
um ex-fã de rock progressivo que só
pensava em roupas e penteados e
cujo maior orgulho era ser quase sósia de Keith Richards, o guitarrista
dos Rolling Stones.
O agressivo Joe Strummer, a face
mais visível do Clash, era filho de diplomata e ex-aluno de colégios particulares. Fanático por música caipira americana, adotou o nome artístico de Woody, em homenagem a
Woody Guthrie (1912-1967), herói
folk dos EUA.
O baixista Paul Simonon não sabia
tocar. Nos primeiros álbuns do grupo, quem segurava o baixo nas versões finais era Mick Jones, tentando
encobrir a mediocridade técnica de Simonon.
Topper Headon, baterista, só tinha um mérito: compôs a música e arranjou,
sozinho, "Rock the Casbah", maior sucesso comercial do Clash. De resto, era um
drogado que enlouquecia os colegas com seu comportamento errático.
Será que todas essas revelações de Gray fazem do Clash uma banda menos importante? Será que "London Calling" deixa de ser um dos maiores discos de todos tempos? Será que a importância e a influência do Clash ficam menores?
É claro que não. Por mais bem pesquisado e honesto que seja "Last Gang in
Town", sua premissa é ingênua: achar que revelações de bastidores podem tornar uma banda musicalmente menos fundamental.
Ironicamente, o autor, Marcus Gray, é um superfã declarado do Clash. Ninguém da banda quis falar no livro, obrigando Gray a uma pesquisa em jornais e
revistas, além de entrevistas com pessoas próximas à banda.
O autor diz que tentou, sem sucesso, se aproximar da banda. Mas as explicações não convencem. Fica a impressão de que teve medo do contato com seus
ídolos, os mesmos que ele, com toda a ingenuidade do mundo, tentava destruir.
Álvaro Pereira Júnior, 41, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo E-mail: cby2k@uol.com.br
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