São Paulo, segunda-feira, 11 de outubro de 2004

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MÚSICA

O clássico "London Calling" comemora 25 anos e é relançado com CD extra, "The Vanilla Tapes", e DVD

Bandas disputam legado do Clash

LEANDRO FORTINO
DA REPORTAGEM LOCAL

O álbum "London Calling" fará 25 anos no próximo dia 14 de dezembro. Mas o disco mais importante do punk, obra da banda inglesa The Clash, poderia muito bem ter nascido hoje. Principalmente se levarmos em conta a influência que as suas 19 faixas ainda têm no rock produzido em todo o planeta.
Na Inglaterra, ele ganhou um relançamento luxuoso, que, segundo a gravadora Sony, chega ao Brasil no mês que vêm: além do disco remasterizado (que já havia sido lançado em 1999, em seus 20 anos), um CD extra, "The Vanilla Tapes", com as versões demo do que se tornaria "London Calling", e um DVD com documentários sobre a gravação desse clássico.
Enquanto os Beatles e os Rolling Stones disputavam a coroa do rock britânico, The Clash e Sex Pistols faziam o mesmo com o punk. De um lado, os Pistols, grupo fabricado pelo produtor Malcolm McLaren, atacavam impiedosamente a rainha; de outro, o Clash dava voz à classe operária e às minorias, afinal, vinha de Notting Hill Gate, comunidade multirracial londrina de onde a banda tomou emprestado estilos inéditos no rock, como o reggae e o ska negros.
São esses ritmos que dão tempero único a "London Calling" e tornam o disco uma obra saborosíssima e muito divertida de escutar ainda hoje. Aqui, o punk tem mais a ver com a idéia do "faça você mesmo" e com as letras politicamente engajadas do que com a barulheira que muitos associam ao estilo. O suingue funk de "Train in Vain" divide o mesmo teto com o reggae de "Guns of Brixton"; o rock revolucionário de "London Calling", a música, engata no rock à la anos 50 de "Brand New Cadillac".
Nas letras, atacavam a revolução industrial e até a beatlemania na faixa-título, o consumismo, em "Lost in the Supermarket", e as grandes corporações, em "Koka Kola". Ainda anteciparam o "spanglish" (mistura de inglês com espanhol), em "Spanish Bombs", e fizeram declarações de amor, em "Lovers Rock".
Boatos sobre uma possível reunião do Clash circularam durante toda a década de 90. Não passaram de especulação. Hoje, seria algo impossível. Em 22 de dezembro de 2002, o guitarrista Joe Strummer sofreu um ataque cardíaco fulminante e morreu, aos 50 anos de idade. Ele chegou a afirmar, em entrevista à Folha, que, por pouco, o Clash não veio ao Brasil, em uma turnê mundial que percorria o mundo entre 1985 e 1986. O motivo: a banda acabaria antes conseguir de rodar o planeta.
Hoje o legado desse quarteto londrino pode ser ouvido em dezenas de bandas que surgiriam, principalmente nos anos 90 e nesta década. O grunge não teria colocado o Nirvana no topo das paradas. A cena hardcore não teria existido. Nem mesmo a Legião Urbana e o rock de Brasília teriam invadido o Brasil.
Uma chance de ver algo parecido com o Clash será possível, quando, no início de novembro, a banda Libertines fará shows no Rio e em São Paulo. Saiba por que no primeiro texto da página ao lado. É, no mínimo, um bom consolo.

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