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MEU ADIDAS
Assassinato de DJ põe fim ao Run-DMC, um dos nomes mais inventivos do hip hop
Helen Valentine - 21.jul.2001/France Presse
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Jam Master Jay durante show do Run-DMC |
GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL
"Jam Master Jay não era um assassino. Jam Master Jay não era um
gângster. Jam Master Jay era um indivíduo único. De forma simples e direta,
Jam Master Jay era um b-boy. Ele era a
personificação do hip hop." Esse trecho
do discurso de despedida feito por
Darryl McDaniels -o DMC do veterano
trio de rap Run-DMC- durante o funeral do DJ na última terça-feira assume
um tom claro de defesa pública.
Jam Master Jay, 37, cujo nome verdadeiro era Jason Mizell, foi morto em seu
estúdio, no bairro do Queens, em Nova
York, no último dia 30 de outubro, com
um tiro à queima-roupa. Na semana passada, a polícia divulgou a descrição do
atirador, mas, até o fechamento desta
edição, não tinha pistas que levassem ao
assassino ou ao motivo do crime.
O assassinato chocou a comunidade
do hip hop e reacendeu a discussão sobre
os laços entre rap e violência.
Essa relação se intensificou a partir dos
anos 90, quando o gangsta rap, com letras que faziam a apologia da violência,
se transformou no filão mais lucrativo da
indústria. Com a morte de dois dos principais artistas do gênero (2Pac e The Notorious B.I.G.) e com o envolvimento real
de alguns rappers com o crime (um
exemplo é Ol" Dirty Bastard, do Wu-Tang Clan), a imagem do rap e dos rappers ficou cada vez mais colada à criminalidade para a opinião pública.
Contudo essa não deixa de ser uma visão distorcida do rap, que nasce na virada dos anos 70 para os 80 como música
de festa. E se firma no começo dos anos
80 com um forte componente de crítica
social, sempre calcada na realidade das
comunidades negras urbanas.
O Run-DMC, um dos pioneiros do estilo, que sempre teve como emblema as
roupas pretas e os tênis Adidas ("homenageados" na faixa "My Adidas", do álbum "Raising Hell"), nunca fez apologia
do crime. Ao contrário, os membros do
grupo sempre tiveram um discurso pacifista e um comportamento exemplar
tanto no que diz respeito a rixas com outros rappers quanto em relação ao modo
como atuavam junto à comunidade do
Queens, de onde nunca saíram.
Daí vêm o sentido do discurso de DMC
sobre o seu parceiro morto e a dificuldade da polícia em encontrar um motivo
para o crime.
"Jay era um dos pais fundadores do hip
hop, uma pessoa maravilhosa, que representava tudo de bom no rap. É um
absurdo pensar que a sua morte tenha a
ver com rixas entre rappers. Para mim, o
motivo deve estar relacionado a um negócio malfeito ou a alguma dívida, que
poderia não ser nem dele. Hoje, vivemos
uma realidade muito triste, e as pessoas
se matam por causa de US$ 10", disse
Rich "Balewa" Manson, 29, agente de
grupos de rap como Dead Prez e 50 Cent,
à Folha por telefone, de Nova York.
Um dos agenciados por "Balewa", 50
Cent, figura em uma das hipóteses da polícia para o crime. Protegido de Jay, ele
teve seu último sucesso produzido pelo
DJ. A faixa "Wanksta", bem tocada nas
rádios de hip hop, tira sarro do mundo
gangsta e pode ter gerado em alguns rappers a vontade de vingança.
Embora essa não seja a principal suspeita, 50 Cent tem ficado esperto. Na semana passada, a polícia foi chamada ao
hotel onde o rapper estava hospedado
por causa de reclamações de barulho e o
encontrou com seguranças armados,
vestindo um colete à prova de balas.
A tese relacionada ao dinheiro é a que
tem mais força. "Não sei o que aconteceu, mas suspeito que, quando a polícia
chegar ao fundo da investigação, verá
que é uma questão de dinheiro", disse
Randall Sullivan, 49, jornalista da revista
"Rolling Stone", em entrevista à Folha
por e-mail.
Para Russell Simmons, irmão de Run,
o motivo da morte de Jay pode nunca vir
a ser conhecido, mas as causas são claras.
"Sou do Queens e, nos últimos dez anos,
houve tantos assassinatos... As condições e a economia pioram; isso causa ignorância e falta de oportunidades e traz
mais armas para a comunidade", diz.
Seja qual for o motivo, a morte de Jay
tem mais uma consequência triste: calar
as vozes de Run e de DMC depois de
quase 20 anos de carreira, em que o trio
praticamente inventou a fusão de hip
hop com rock'n'roll (para quem não tem
idade para se lembrar, basta ouvir a fantástica versão de "Walk This Way", que
ressuscitou, em 1986, os então esquecidos roqueiros do Aerosmith).
Na quarta-feira passada, em entrevista
coletiva, Run (Joseph Simmons) anunciou o fim do grupo. "Run-DMC está oficialmente aposentado." "Não conseguiremos nos apresentar mais. Não conseguiremos fazer isso sem os três membros", completou DMC.
Com agências internacionais
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