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Fãs "dinossauros" lembram o início da mania no Brasil
Metaleiros da pedra lascada
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Foi no rádio de alta frequência do
pai que o lojista Orlando Kiyoshi
Oyama, 45, teve contato pela primeira vez com bandas "novas" como Black Sabbath, Led Zeppelin e
Deep Purple, em pleno vapor na
década de 70. "Eu me lembro até
hoje de quando ouvi o lançamento
de "Fireball", do Deep Purple, na
BBC de Londres. Nossa, não acreditei no som. Era demais", recorda
Oyama, que na época tinha 13 anos
e morava em Adamantina, no interior de São Paulo.
Como os lançamentos em LP
nunca chegavam à sua cidade,
Oyama dependia de um amigo lojista que comprava mensalmente
as últimas novidades do rock na
capital e levava para Adamantina.
"Quando ele chegava, era uma festa. Eu tinha de gravar fitas cassete
para todos os meus amigos com seleções do tipo "as dez mais'", afirma o fã de rock.
Hoje, Oyama é dono da loja de
CDs Mega Rock, na Galeria do
Rock, em São Paulo, e tem acesso a
todos os lançamentos do metal.
Mesmo assim, o lojista segue fiel
aos grupos das décadas de 70 e 80 e
não se interessa muito pelas novidades do gênero. "As bandas novas
usam muitos sintetizadores e você
não consegue identificar os timbres das guitarras", diz.
Pai de dois filhos que, segundo
ele, só gostam de MPB e tecno, o lojista ganhou recentemente uma
netinha. "Quando minha neta vir
me visitar só vai ouvir heavy metal", brinca.
Da mesma forma pensa o vendedor Rene Carlos Esquerdo, 37, que
trabalha na loja de discos Catedral
Rock Machine, na mesma galeria.
"Naquela época [nos anos 70 e 80]
você pegava dez bandas novas e todas eram boas e diferentes. Hoje, se
você ouvir 50 grupos novos com
sorte você pinça um. O heavy metal
foi muito descaracterizado e tem
muitos subgêneros", diz o metaleiro que, aliás, detesta este termo.
"Essa história de metaleiro foi inventada pela Rede Globo na época
do primeiro Rock in Rio. Antes a
gente costumava se chamar de
"headbanger'", afirma o vendedor
enquanto se atrapalha para dar informações sobre um CD do Jamiroquai a um cliente da loja. "Você
vê? Eu fico meio perdido com essas
bandas novas. A outra loja que eu
trabalhava só vendia discos de
heavy metal", diz.
Com um início de calvície, Esquerdo lembra dos seus 17 anos,
época em que ostentava uma bela
cabeleira e todo final de semana
"era uma aventura". Ao ser questionado sobre sua lembrança mais
marcante da época, o "headbanger" não titubeia, abaixa a cabeça e
mostra uma enorme cicatriz no lado direito do crânio. "Essa foi uma
machadada que eu tomei numa
briga com skinheads numa linha
de trem no Tatuapé. Levei sete
pontos", conta.
Segundo ele, naquela época os
metaleiros eram mais radicais e viviam em conflito com os punks.
Outro típico dinossauro, o instalador de som automotivo Alexandre dos Santos, 35, também recorda de "batalhas históricas" com os
skinheads. "Eu fazia parte de uma
gangue chamada Necrófagos. Uma
vez, brigamos com 15 punks dentro de um vagão do metrô. Era
paulada, coturnada e fivelada pra
todo lado. Terminamos tomando
um chá de cadeira na delegacia até
de manhã", lembra Santos, que frequentou todos os shows de heavy
metal da época, como o Kiss em 87,
no Pacaembu, o Venom em 85, no
ginásio do Corinthians, e o primeiro Rock in Rio também em 85, com
Judas Priest, Iron Maiden, AC/DC
e Scorpions. "Nunca vou esquecer
a bunda do guitarrista Angus
Young, que abaixou as calças no
show do Rock in Rio. Ficou na história", lembra. Até hoje, essas mesmas bandas não saem do aparelho
de som de Santos, que afirma gostar apenas de um grupo novo de
heavy metal. "É aquele... Hum...
Como é mesmo o nome?".
(MARCOS DÁVILA)
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