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educação
Outros mundos
Fugindo da língua inglesa, jovens
fazem intercâmbio cultural em lugares
menos comuns, como a Holanda e o Japão
LEANDRO FORTINO
DA REPORTAGEM LOCAL
Inglaterra, EUA, Nova
Zelândia e Austrália
têm sido os destinos
mais comuns para
quem quer encarar um
intercâmbio cultural, seja fazendo high school (ensino médio) ou curso de idioma.
Mas como o ensino de inglês
é obrigatório nos colégios, muitos jovens preferem o desafio
de enfrentar outras línguas e
acabam indo viver em cidades
da Alemanha, da Itália e até
mesmo da Holanda e do Japão.
E junto com as aulas em outro país vêm também algo que
não ensinam na escola: os costumes e os hábitos de culturas
bem menos conhecidas.
A mineira Marina Heringer
Lisboa de Almeida, 16, deixou
Belo Horizonte há sete meses
para estudar na nanica Houten,
na Holanda. Ela fica por lá até
agosto. "Minha família daqui
estranha que eu tome banho
todo dia. Eles não tomam muito; só umas duas ou três vezes
por semana. E só tem um chuveiro na casa."
Marina queria viver em um
país europeu, olhou as possibilidades e gostou da Holanda.
Mas, antes de embarcar, estudou quatro meses de holandês.
Além de ir à escola todos os
dias, ela tem de desempenhar
tarefas que nunca fez no Brasil.
"Ajudo a tirar a mesa e a passear com cachorro e arrumo
meu quarto. Aqui eles não limpam muito a casa, não. A cada
20 dias vem uma mulher. Falei
que temos empregada no Brasil, e eles ficaram chocados."
Por ser fluente em inglês, a
santista Fernanda Natario, 18,
resolveu tentar intercâmbio na
Rússia, mas não conseguiu visto. Resolveu então ir mais longe
e hoje estuda em Chigasaki, no
Japão. "Optei pelo Japão por
ter uma cultura totalmente diferente e uma história muito
interessante. Os choques culturais existem e poder entendê-los (ou ao menos tentar) é uma
experiência muito valiosa", diz.
Segundo ela, a maior dificuldade é obedecer aos rigorosos
horários japoneses. "Não era
uma pessoa pontual, mas, aqui,
os trens têm horários como
8h23 e, se você não estiver na
hora exata, ele vai embora. E tenho de estar em casa às 22h,
quando, no Brasil, muitos estão
se preparando para a balada."
Na cidade de Efurt, na Alemanha, vive, desde agosto de
2006, Arthur Matoso Morato
Dias, 17. "Agora eu sei falar alemão bem, o que facilita muito.
Mas, quando cheguei, é lógico
que foi difícil", conta.
"Aqui ninguém tem empregada, não importa se é rico ou
pobre. Não tem quem limpe,
mas tudo bem. Já sabia que não
teria a mesma vida."
Nos países latinos, como a
Espanha, a situação não é muito diferente. "Usou um prato,
lava; molhou o banheiro, seca",
explica Isabela Cerci Martins,
20, que estudou espanhol em
Valência. Filha única, a paranaense viu uma oportunidade
de viver com pessoas desconhecidas. "Achei estranho que,
em vez de beijo no rosto, eles
apertam a mão", conta.
Também atrás da língua espanhola esteve a paulista Barbara Pires, 15. Mas ela não foi
tão longe assim: optou por Buenos Aires, na Argentina. "É um
país mais similar ao nosso. Só o
fato de estar na rua com a língua ao seu redor faz você
aprender, querendo ou não."
A arte da cidade de Florença,
na Itália, despertou o interesse
de Lis Parisi Sérvulo da Cunha,
16, no italiano. "Florença é linda, e queria uma cidade nem
grande nem pequena. Se fosse
grande seria perigoso, então fui
na opção mais segura."
Segundo ela, a cultura italiana é engraçada. "O almoço dura
umas três horas, mas o estranho é que a refeição mais importante deles é o jantar."
Camila Correia Pereira, 18,
deixou Santos (SP) para finalizar o ensino médio em Rodez,
França, onde vive há seis meses. "Já estou começando a esquecer o português. A gente está muito afundado na cultura; a
França quer que você aprenda
tudo. Até sonho em francês."
Para ela, a pior parte da viagem é estar longe da família.
"Em datas como o Natal, fico
pensando que toda a minha família está reunida, e eu aqui."
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