São Paulo, segunda-feira, 12 de março de 2007

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educação

Outros mundos

Fugindo da língua inglesa, jovens fazem intercâmbio cultural em lugares menos comuns, como a Holanda e o Japão

LEANDRO FORTINO
DA REPORTAGEM LOCAL

Inglaterra, EUA, Nova Zelândia e Austrália têm sido os destinos mais comuns para quem quer encarar um intercâmbio cultural, seja fazendo high school (ensino médio) ou curso de idioma.
Mas como o ensino de inglês é obrigatório nos colégios, muitos jovens preferem o desafio de enfrentar outras línguas e acabam indo viver em cidades da Alemanha, da Itália e até mesmo da Holanda e do Japão.
E junto com as aulas em outro país vêm também algo que não ensinam na escola: os costumes e os hábitos de culturas bem menos conhecidas.
A mineira Marina Heringer Lisboa de Almeida, 16, deixou Belo Horizonte há sete meses para estudar na nanica Houten, na Holanda. Ela fica por lá até agosto. "Minha família daqui estranha que eu tome banho todo dia. Eles não tomam muito; só umas duas ou três vezes por semana. E só tem um chuveiro na casa."
Marina queria viver em um país europeu, olhou as possibilidades e gostou da Holanda. Mas, antes de embarcar, estudou quatro meses de holandês.
Além de ir à escola todos os dias, ela tem de desempenhar tarefas que nunca fez no Brasil. "Ajudo a tirar a mesa e a passear com cachorro e arrumo meu quarto. Aqui eles não limpam muito a casa, não. A cada 20 dias vem uma mulher. Falei que temos empregada no Brasil, e eles ficaram chocados."
Por ser fluente em inglês, a santista Fernanda Natario, 18, resolveu tentar intercâmbio na Rússia, mas não conseguiu visto. Resolveu então ir mais longe e hoje estuda em Chigasaki, no Japão. "Optei pelo Japão por ter uma cultura totalmente diferente e uma história muito interessante. Os choques culturais existem e poder entendê-los (ou ao menos tentar) é uma experiência muito valiosa", diz.
Segundo ela, a maior dificuldade é obedecer aos rigorosos horários japoneses. "Não era uma pessoa pontual, mas, aqui, os trens têm horários como 8h23 e, se você não estiver na hora exata, ele vai embora. E tenho de estar em casa às 22h, quando, no Brasil, muitos estão se preparando para a balada."
Na cidade de Efurt, na Alemanha, vive, desde agosto de 2006, Arthur Matoso Morato Dias, 17. "Agora eu sei falar alemão bem, o que facilita muito. Mas, quando cheguei, é lógico que foi difícil", conta.
"Aqui ninguém tem empregada, não importa se é rico ou pobre. Não tem quem limpe, mas tudo bem. Já sabia que não teria a mesma vida."
Nos países latinos, como a Espanha, a situação não é muito diferente. "Usou um prato, lava; molhou o banheiro, seca", explica Isabela Cerci Martins, 20, que estudou espanhol em Valência. Filha única, a paranaense viu uma oportunidade de viver com pessoas desconhecidas. "Achei estranho que, em vez de beijo no rosto, eles apertam a mão", conta.
Também atrás da língua espanhola esteve a paulista Barbara Pires, 15. Mas ela não foi tão longe assim: optou por Buenos Aires, na Argentina. "É um país mais similar ao nosso. Só o fato de estar na rua com a língua ao seu redor faz você aprender, querendo ou não."
A arte da cidade de Florença, na Itália, despertou o interesse de Lis Parisi Sérvulo da Cunha, 16, no italiano. "Florença é linda, e queria uma cidade nem grande nem pequena. Se fosse grande seria perigoso, então fui na opção mais segura."
Segundo ela, a cultura italiana é engraçada. "O almoço dura umas três horas, mas o estranho é que a refeição mais importante deles é o jantar."
Camila Correia Pereira, 18, deixou Santos (SP) para finalizar o ensino médio em Rodez, França, onde vive há seis meses. "Já estou começando a esquecer o português. A gente está muito afundado na cultura; a França quer que você aprenda tudo. Até sonho em francês."
Para ela, a pior parte da viagem é estar longe da família. "Em datas como o Natal, fico pensando que toda a minha família está reunida, e eu aqui."


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