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ESCUTA AQUI
Prodígio de 21 anos quer dominar o mundo
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA
Você que fica em casa de bobeira, brigando
com os pais e reclamando da comida feita
pela empregada, preste muita atenção na história que "Escuta Aqui" vai contar hoje. É a
trajetória de um jovem de 21 anos que ganhou
prêmios de prodígio da ciência, fazia pesquisa
contra câncer numa idade em que a maioria
das pessoas nem sabe qual faculdade vai seguir e que agora é dono e editor-chefe de uma
revista que ele mesmo criou.
O nome da figura é Adam Bly. Conheci o rapaz na semana passada, quando ele dava uma
palestra no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).
A platéia era de jornalistas, na maioria americanos, especializados em ciência (o que "Escuta Aqui" fazia lá é uma longa história, que
deixo para depois). E, no contexto americano,
jornalista especializado é especializado mesmo, do tipo que sabe tudo, por exemplo, sobre a descoberta do RNA mensageiro ou sobre a reatividade das moléculas organometálicas. Pois foi na frente dessa audiência "hardcore" que apareceu Adam Bly. Paletó justo,
cabelo penteado para frente, fixado com gel,
na linha roqueiro yuppie de Nova York. Gestos sutis, discurso incisivo.
Bly falou com todas as letras: seu sonho é
construir um império. E o começo é a revista
"Seed", fundada por ele. A publicação trata de
ciência, mas de modo glamouroso, diferente.
Na capa do número mais recente, o quinto,
aparece James Watson, o descobridor da dupla hélice do DNA. Para dar charme, Watson
está acompanhado de uma bela modelo.
Há reportagens sobra a interface entre arte e
ciência. Há artigos futuristas. Há tudo, menos
tédio.
Bly é um menino-prodígio. Ainda estudante de segundo grau, ganhou um prêmio para
jovens cientistas dado por uma grande empresa de informática. Depois, na faculdade,
largou tudo para fundar a revista.
"Seed" não tem nada a ver com as publicações científicas tradicionais. Do projeto gráfico ao tipo de anúncios que atrai, lembra em
tudo a "Vanity Fair", revista de moda e estilo
que definiu os anos 90.
O menino é o capitalismo em pessoa. Só fala
em anúncios, circulação, em dominar o mundo. E adora citar nomes de personalidades da
indústria editorial, como se fossem amigos
próximos. "Graydon", de que ele fala a toda
hora, é ninguém menos que o cabeludão Gaydon Carter, editor-chefe da "Vanity Fair".
Se Adam Bly demostra algum tipo de autocrítica, escrúpulos ou respeito ao próximo,
bem, isso só o futuro dirá. O que não se pode
negar é que ele sabe
o que quer.
Veja só esse diálogo durante a palestra no MIT:
Jornalista de ciência - Ao folhear sua
revista, vi reportagens que têm tanto
a ver com ciência
quanto com a série
de TV "CSI".
Adam Bly - "CSI" é
vista por 30 milhões de pessoas.
Algum problema
nisso?
Álvaro Pereira Júnior,40, é editor-chefe, do "Fantástico" em São Paulo
E-mail: cby2k@uol.com.br
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