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São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 2003

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ESCUTA AQUI

Prodígio de 21 anos quer dominar o mundo

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA

Você que fica em casa de bobeira, brigando com os pais e reclamando da comida feita pela empregada, preste muita atenção na história que "Escuta Aqui" vai contar hoje. É a trajetória de um jovem de 21 anos que ganhou prêmios de prodígio da ciência, fazia pesquisa contra câncer numa idade em que a maioria das pessoas nem sabe qual faculdade vai seguir e que agora é dono e editor-chefe de uma revista que ele mesmo criou.
O nome da figura é Adam Bly. Conheci o rapaz na semana passada, quando ele dava uma palestra no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).
A platéia era de jornalistas, na maioria americanos, especializados em ciência (o que "Escuta Aqui" fazia lá é uma longa história, que deixo para depois). E, no contexto americano, jornalista especializado é especializado mesmo, do tipo que sabe tudo, por exemplo, sobre a descoberta do RNA mensageiro ou sobre a reatividade das moléculas organometálicas. Pois foi na frente dessa audiência "hardcore" que apareceu Adam Bly. Paletó justo, cabelo penteado para frente, fixado com gel, na linha roqueiro yuppie de Nova York. Gestos sutis, discurso incisivo.
Bly falou com todas as letras: seu sonho é construir um império. E o começo é a revista "Seed", fundada por ele. A publicação trata de ciência, mas de modo glamouroso, diferente.
Na capa do número mais recente, o quinto, aparece James Watson, o descobridor da dupla hélice do DNA. Para dar charme, Watson está acompanhado de uma bela modelo.
Há reportagens sobra a interface entre arte e ciência. Há artigos futuristas. Há tudo, menos tédio.
Bly é um menino-prodígio. Ainda estudante de segundo grau, ganhou um prêmio para jovens cientistas dado por uma grande empresa de informática. Depois, na faculdade, largou tudo para fundar a revista.
"Seed" não tem nada a ver com as publicações científicas tradicionais. Do projeto gráfico ao tipo de anúncios que atrai, lembra em tudo a "Vanity Fair", revista de moda e estilo que definiu os anos 90.
O menino é o capitalismo em pessoa. Só fala em anúncios, circulação, em dominar o mundo. E adora citar nomes de personalidades da indústria editorial, como se fossem amigos próximos. "Graydon", de que ele fala a toda hora, é ninguém menos que o cabeludão Gaydon Carter, editor-chefe da "Vanity Fair".
Se Adam Bly demostra algum tipo de autocrítica, escrúpulos ou respeito ao próximo, bem, isso só o futuro dirá. O que não se pode negar é que ele sabe o que quer.
Veja só esse diálogo durante a palestra no MIT:

Jornalista de ciência - Ao folhear sua revista, vi reportagens que têm tanto a ver com ciência quanto com a série de TV "CSI".
Adam Bly -
"CSI" é vista por 30 milhões de pessoas. Algum problema nisso?



Álvaro Pereira Júnior,40, é editor-chefe, do "Fantástico" em São Paulo
E-mail: cby2k@uol.com.br



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