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São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 2003

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FOLHATEEN EXPLICA

Repressão à oposição choca o mundo e divide artistas e intelectuais

A perseguição política promovida em Cuba por Fidel Castro

Adalberto Roque - 01.mai.03/France Presse
Fidel Castro discursa contra os EUA na comemoração do Dia do Trabalho, em Cuba


MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

No auge da ofensiva da coalizão anglo-americana contra o regime de Saddam Hussein, outro ditador, o cubano Fidel Castro, viu uma oportunidade para dar início a uma onda de repressão à oposição. Esta resultou na prisão de 75 dissidentes e na execução sumária de três homens acusados de sequestrar uma embarcação para tentar fugir do país.
Além de chocar boa parte do planeta, que detectou uma tentativa desesperada de manter-se no poder nessas violações aos direitos humanos, as ações de Fidel confundiram os estrategistas políticos dos EUA, esvaziaram a causa dos grupos americanos que lutavam pela atenuação do embargo que pesa sobre a ilha e provocaram uma forte controvérsia entre artistas e intelectuais de esquerda, que, tradicionalmente, defendiam o regime cubano.
Até agora, mais de um mês depois das prisões arbitrárias e das execuções sumárias, Washington ainda não tomou atitudes concretas em relação aos fatos. O problema é que o governo americano, como a comunidade cubano-americana de Miami, está dividido quanto à medida mais apropriada a tomar.
Por um lado, a linha dura defende a aplicação de sanções unilaterais a Cuba ainda mais severas que as atuais. Por outro lado, os moderados argumentam que essas punições só afetam a população da ilha, não minando o poder de Fidel. Eles acreditam que tenha chegado o momento de estimular a oposição interna e de buscar um consenso internacional sobre as medidas a serem tomadas.
"Pensamos que Cuba está isolada e que [seu regime" é um anacronismo que será alcançado pela história", afirmou o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, um dos maiores representantes da ala moderada da administração americana, lembrando que Fidel é o último ditador da América Latina.
Fidel, que chegou ao poder em 1959, afirma que suas ações são necessárias para combater uma campanha de desestabilização orquestrada por Washington. Por enquanto, contudo, suas medidas só serviram para dar um banho de água fria nos grupos que lutavam pelo fim do embargo. Por exemplo, a diretoria da Cuba Policy Foundation, que fazia lobby no Congresso dos EUA contra o embargo, renunciou em protesto contra o ditador.
Finalmente, a onda de repressão pôs em pé de guerra artistas e intelectuais de esquerda. Nomes de peso, como o Premio Nobel de Literatura de 1998, José Saramago, romperam com o regime cubano. Outros, como o escritor uruguaio Eduardo Galeano, criticaram tanto Cuba quanto os EUA. Já o Nobel de Literatura de 1982, Gabriel García Márquez, se manteve fiel a seu amigo pessoal Fidel Castro.



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