São Paulo, segunda-feira, 12 de junho de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

escuta aqui

Hoje também é dia de Roberto Carlos, o mais romântico dos brasileiros

Álvaro Pereira Júnior
Colunista da Folha

Roberto Carlos é o cantor mais romântico da música brasileira, e nenhuma trilha sonora para o dia dos Namorados pode ser mais perfeita do que as canções do Rei.
Falo do Roberto de voz triste de "Nossa Canção" (1966), do renegado sem rumo de "As Curvas da Estrada de Santos" (1969), do homem sem esperanças em "De Tanto Amor" (1971).
Roberto é um intérprete maior que as próprias canções, um intuitivo minimalista que representa um certo espírito romântico brasileiro melhor do que qualquer outro artista jamais sonhou.
Antes de abraçar mensagens religiosas e fazer músicas para romances sem interesse, como hoje, Roberto foi compositor e intérprete de canções desesperadamente solitárias. Seus personagens estavam sempre fugindo de um passado em pedaços, ou tentando reconstruí-lo, em busca de redenção. Como em "Sua Estupidez", de 1969: "Meu bem, meu bem/ Você tem de acreditar em mim/ Ninguém pode destruir assim/ Um grande amor."
Ele cantou também o amor distante, em diversos graus de saudade. Com Erasmo, compôs "Palavras" (1973): ". Não, não vá me dizer palavras que venham/ Me fazer chorar depois/ Eu sei que vou viver / Por muito tempo ainda/ Das lembranças de nós dois".
Mesmo em canções de outros compositores, Roberto se apropria dos versos, e empresta sentimento até aos trechos mais simples. Em "Como Vai Você" (Antônio Marcos-Mário Marcos), de 1972, a letra diz: "Como vai você/ Eu preciso saber da sua vida/ Peça a alguém para me contar sobre o seu dia/ Anoiteceu e eu preciso só saber/ Como vai você". Nesse instante, Roberto é o último dos rejeitados, e só encontra conforto ao desabafar seu infortúnio para nós, ouvintes.
O grande crítico de música americano Greil Marcus costuma dizer que não gosta de bandas que piscam para ele. Ou seja, músicos que posam de simples e despojados, mas depois picam de leve, como se dissessem: "Estamos tocando assim para curtir e ganhar dinheiro, mas na verdade somos grandes intelectuais cheios de proietos artísticos".
Analista experiente, Marcus ainda sonha com a sinceridade e o acaso que forjam os grandes nomes da música popular, sem que seja necessariamente possível explicar por quê.
Greil Marcus não entende nada de música brasileira, e precisou pensar alguns segundos para lembrar que no Brasil não se fala espanhol. Pena, porque Roberto é exatamente o que ele procura: um autêntico gênio pop, nosso brasileiro mais romântico..

EMOÇÕES

Capa preta é a melhor
Em homenagem ao Rei, a seção "Gringas" muda só hoje de nome e recomenda aos jovens roqueiros o álbum que Roberto gravou em 1966. A capa, preta, é o máximo do cool. Dentro, só pedradas: "Eu Te Darei o Céu", "Querem Acabar Comigo", "Não Precisas Chorar", "Esqueça" , "É Papo Firme". Clássico total, e o CD está em catálogo.

Tentaram matar o Rei
Vários outros nomes da música brasileira fizeram o possível para assassinar a obra de Roberto Carlos, gravando covers grosseiros e/ou inexpressivos. Em meio a Jota Quest, Marisa Monte e Simone, o destaque negativo é para Maria Bethânia, que transforma até doces baladas, como "Olha", em boleros elefantinos.

Em espanhol é mais fácil
Os latinos de língua espanhola saíram na frente e, na Internet, é muito mais comum encontrar o Rei em castelhano do que português. Com a vantagem de que muitos fãs são mexicanos, moram nos EUA e têm conexões rápidas com a Internet. Assim, fica fácil e rápido baixar sua música favorita. Pena que em outra língua.

Tem tudo na Internet
Justiça se faça ao site orei.com.br. Tem simplesmente todas as letras, todas as músicas, todos os discos e todas as relações de faixas de tudo o que o Roberto já gravou. Os comentários que vêm acompanhando são simplórios, mas o trabalho de compilação é ótimo e só merece elogios. O áudio, sem qualidade de CD, serve para matar saudade. (APJ)


CD Player - Especial Rei

PLAY
"Eu te Amo, Eu te Amo"
(1968) Roberto e Erasmo, no auge da forma, escreveram os versos que ficaram famosos: "Cartas já não adiantam mais/Quero ouvir a sua voz". A voz de Roberto aparece alterada no refrão, como se tivesse passado por um megafone.

PAUSE
"Amada Amante" (1971)
A dupla Roberto e Erasmo dá os primeiro sinais de que está a ponto de substituir o romântico pelo meloso. "Amada Amante" ainda mantém a velha chama, mas já começa a tomar o caminho fácil que leva à porta do motel.

EJECT
"Cavalgada" (1977)
"Vou cavalgar por toda a noite/Por uma estrada colorida/Usar meus beijos como açoite/E minha mão mais atrevida." Assim começa esta canção, e, daí para a frente, as coisas não melhoram muito. Não tem jeito: é brega.



Álvaro Pereira Júnior, 37, é jornalista e mora em San Francisco. E-mail: cby2k@uol.com.br



Texto Anterior: Demorou
Próximo Texto: Garotos nacionais: Skank finalmente faz golaço
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.