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Hoje também é dia de Roberto Carlos, o mais romântico dos brasileiros
Álvaro Pereira Júnior
Colunista da Folha
Roberto Carlos é o cantor mais romântico da
música brasileira, e nenhuma trilha sonora para
o dia dos Namorados pode ser mais perfeita do
que as canções do Rei.
Falo do Roberto de voz
triste de "Nossa Canção"
(1966), do renegado sem
rumo de "As Curvas da
Estrada de Santos" (1969),
do homem sem esperanças em "De Tanto Amor"
(1971).
Roberto é um intérprete
maior que as próprias
canções, um intuitivo minimalista que representa
um certo espírito romântico brasileiro melhor do
que qualquer outro artista
jamais sonhou.
Antes de abraçar mensagens religiosas e fazer
músicas para romances
sem interesse, como hoje,
Roberto foi compositor e
intérprete de canções desesperadamente solitárias. Seus personagens estavam sempre fugindo de
um passado em pedaços,
ou tentando reconstruí-lo, em busca de redenção.
Como em "Sua Estupidez", de 1969: "Meu bem,
meu bem/ Você tem de
acreditar em mim/ Ninguém pode destruir assim/ Um grande amor."
Ele cantou também o
amor distante, em diversos graus de saudade.
Com Erasmo, compôs
"Palavras" (1973): ". Não,
não vá me dizer palavras
que venham/ Me fazer
chorar depois/ Eu sei que
vou viver / Por muito
tempo ainda/ Das lembranças de nós dois".
Mesmo em canções de
outros compositores, Roberto se apropria dos versos, e empresta sentimento até aos trechos mais
simples. Em "Como Vai
Você" (Antônio Marcos-Mário Marcos), de 1972, a
letra diz: "Como vai você/
Eu preciso saber da sua vida/ Peça a alguém para
me contar sobre o seu dia/
Anoiteceu e eu preciso só
saber/ Como vai você".
Nesse instante, Roberto é
o último dos rejeitados, e
só encontra conforto ao
desabafar seu infortúnio
para nós, ouvintes.
O grande crítico de música americano Greil Marcus costuma dizer que
não gosta de bandas que
piscam para ele. Ou seja,
músicos que posam de
simples e despojados, mas
depois picam de leve, como se dissessem: "Estamos tocando assim para
curtir e ganhar dinheiro,
mas na verdade somos
grandes intelectuais
cheios de proietos artísticos".
Analista experiente,
Marcus ainda sonha com
a sinceridade e o acaso
que forjam os grandes nomes da música popular,
sem que seja necessariamente possível explicar
por quê.
Greil Marcus não entende nada de música brasileira, e precisou pensar alguns segundos para lembrar que no Brasil não se
fala espanhol. Pena, porque Roberto é exatamente
o que ele procura: um autêntico gênio pop, nosso
brasileiro mais romântico..
EMOÇÕES
Capa preta é a melhor
Em homenagem ao Rei, a seção "Gringas"
muda só hoje de nome e recomenda aos jovens roqueiros o álbum que Roberto gravou
em 1966. A capa, preta, é o máximo do cool.
Dentro, só pedradas: "Eu Te Darei o Céu",
"Querem Acabar Comigo", "Não Precisas
Chorar", "Esqueça" , "É Papo Firme". Clássico
total, e o CD está em catálogo.
Tentaram matar o Rei
Vários outros nomes da música brasileira fizeram o possível para assassinar a obra de
Roberto Carlos, gravando covers grosseiros
e/ou inexpressivos. Em meio a Jota Quest,
Marisa Monte e Simone, o destaque negativo é para Maria Bethânia, que transforma
até doces baladas, como "Olha", em boleros
elefantinos.
Em espanhol é mais fácil
Os latinos de língua espanhola saíram na
frente e, na Internet, é muito mais comum
encontrar o Rei em castelhano do que português. Com a vantagem de que muitos fãs
são mexicanos, moram nos EUA e têm conexões rápidas com a Internet. Assim, fica fácil
e rápido baixar sua música favorita. Pena
que em outra língua.
Tem tudo na Internet
Justiça se faça ao site orei.com.br. Tem simplesmente todas as letras, todas as músicas,
todos os discos e todas as relações de faixas
de tudo o que o Roberto já gravou. Os comentários que vêm acompanhando são
simplórios, mas o trabalho de compilação é
ótimo e só merece elogios. O áudio, sem
qualidade de CD, serve para matar saudade.
(APJ)
CD Player - Especial Rei
PLAY
"Eu te Amo, Eu te Amo"
(1968) Roberto e Erasmo, no auge da forma, escreveram os versos que ficaram famosos:
"Cartas já não adiantam mais/Quero ouvir a sua voz". A voz
de Roberto aparece alterada no refrão, como se tivesse passado por um megafone.
PAUSE
"Amada Amante" (1971)
A dupla Roberto e Erasmo dá os primeiro sinais
de que está a ponto de substituir o romântico
pelo meloso. "Amada Amante" ainda mantém a velha chama, mas já começa a tomar o caminho fácil que leva à porta
do motel.
EJECT
"Cavalgada" (1977)
"Vou cavalgar por toda a noite/Por uma estrada colorida/Usar meus beijos como açoite/E minha mão
mais atrevida." Assim começa esta canção, e, daí para a frente, as coisas não melhoram muito. Não tem jeito: é brega.
Álvaro Pereira Júnior, 37, é jornalista e mora em San Francisco.
E-mail: cby2k@uol.com.br
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