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COMPORTAMENTO
Eles não são homossexuais, mas usam lápis para os olhos, batom e esmalte para montar seu visual; influência vem de ícones da música
A face maquiada do rock
Sidinei Lopes/Folha Imagem
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Ronaldo Ceron, 20, que é dono de um bar freqüentado por garotos maquiados |
ANA PAULA DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Em meio a piercings, tatuagens, cintos de rebite e camisetas de banda,
lápis para os olhos, esmalte e até batom. É cada vez mais comum encontrar
meninos que se pintam para ir a lugares até
então tidos essencialmente como "machistas" -como shows de punk e rock.
"O jovem sempre está à procura de novos
estilos para moldar a personalidade. Foi
por isso que passei a
me pintar. Não sou
gay, mas acredito que
fica bonito. E até atrai
mulheres, pelo menos
as que são do rock",
diz o estudante Bruno
Andrade Sá Rocha,
20, que faz um borrão
sob os olhos com a
ajuda da irmã. "Meus
pais entendem, mas
não simpatizam."
Uma vez, Rocha esqueceu de remover a
maquiagem. "Uma
amiga me disse que
minhas olheiras estavam terríveis", brinca.
A maquiagem se limita às baladas e
shows de rock. "Durante o dia, uso roupa
social. O problema é conseguir tirar toda a
maquiagem e o esmalte, para não ir trabalhar com resquícios", confessa Marcos
Paulo Villa, 25, assistente fiscal.
Achou moderninho? Usar maquiagem
não é tão novo assim. Na verdade, o punk,
na sua origem, abusava de lápis de olho, esmalte e até de vestidos femininos.
De certa forma, trata-se de um "revival"
da estética exagerada do glam rock. Bandas
nacionais, como Daniel Belleza e os Corações em Fúria, Cansei de Ser Sexy e Vera
Fisher, entre outras, comprovam que os
meninos devem continuar se pintando.
As influências são muitas. Vão de ícones
da música (leia ao lado) a personagens como Alex, do filme "Laranja Mecânica"
(Stanley Kubrick, 1971). "Sempre me inspirei nele antes de me pintar. Agora, quero
até comprar cílios postiços para ficar mais
parecido ainda", diz o estudante de jornalismo Bruno Rodrigues Marcondes Machado, 19. Ele pinta as
unhas de preto desde
os 15 -técnica que
aprendeu com a mãe,
apesar de ainda ficar
borrado. "Tremo
muito, não tenho
muita coordenação."
Há um ano, decidiu
que o alargador nas
orelhas e o piercing
no rosto não chocavam suficientemente. "Resolvi pintar os
olhos. Peguei um lápis emprestado de uma amiga, que me ajudou a passar." Só que, por ora, Machado teve de dar um tempo. "Peguei tersol."
A maneira mais comum de começar a
pintar os olhos é usar maquiagem emprestada de amigas. Às vezes, pedir ajuda a elas
pode ser pretexto para rolar um clima.
"Mulher adora essas coisas e é uma situação bem íntima. Já rolou até beijo", conta o
estudante Maurício Arturo, 18.
Entretanto, como maquiagem ainda é
um assunto essencialmente feminino, o
preconceito existe. "Já me perguntaram se
eu era gay. Sinto que as pessoas me olham
com esse julgamento, mas não ligo. Eu e
minha namorada sabemos", diz o vocalista
da banda Lazy Sundays, Tiago Archela, 21,
cuja namorada quase o matou de vergonha
uma vez, dentro de uma loja de maquiagem, quando perguntou se ele não ia querer comprar aquele lápis que ele gostava
para pintar o olho. "Foi sem querer, mas as
pessoas me olharam de um jeito esquisito."
E, se o punk dos anos 70 tinha pitadas de
glitter, lápis nos olhos e experimentação sexual, esse "revival" glam também tem. "A
questão não é ser ou não homossexual. Essa intimidade maior com os meninos acredito ser reflexo dessa tendência metrossexual, em que os homens se cuidam mais",
diz Willian Cavagnolli, 20, que faz cursinho
para artes plásticas.
Mas comentários são inevitáveis, ainda
mais quando os garotos ficam parecidos
com personagens como Boy George ou Robert Smith, do The Cure -ambos ícones
dos anos 80. "É só escolher os lugares certos
e não sentir tanto preconceito", conta Ronaldo Rinaldi Ceron, 20, que decidiu, há
quase um ano, abrir o bar Atari.
Flogs
Ser um fotologger (criar um diário de fotos em www.fotolog.net) é indispensável
para quem quer estar antenado na cena
glam-rock-punk-moderna. Não basta só se
mostrar na noite. É preciso dividir com o
mundo esse visual. E há até quem registre o
passo-a-passo da "montagem" do visual.
"As pessoas esperam que o mundo todo
comente suas fotos e suas poses. Quer ver
alguém ficar chateado é quando ninguém
escreve nenhum comentário sobre a foto
do dia", diz Bruno Rodrigues.
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