São Paulo, segunda-feira, 12 de julho de 2010

Texto Anterior | Índice

ESCUTA AQUI

Alvaro Pereira Júnior - cby2k@uol.com.br

Ezequiel, um profeta pré-Ilustrada

É UM CLICHÊ da minha geração: recebemos uma influência muito forte da Ilustrada dos anos 80. Ela nos botou em sintonia com a produção pop de vanguarda. OK, verdade. Em parte.
Porque, antes da Ilustrada, houve outra influência profunda, pelo menos para quem morava na cidade de São Paulo: Ezequiel Neves, o crítico de rock do "Jornal da Tarde" nos anos 70/80. Ele morreu na semana passada, aos 74 anos.
Foi um gonzo "avant la lettre", muito antes que Hunter Thompson (1937-2005), o inventor do gênero, ficasse conhecido por aqui.
Eram quase contemporâneos (Zeca nasceu em 1935). Mas duvido que o brasileiro lesse o americano. Inventou por conta própria um estilo mesclado de crítica, fato e ficção.
Hoje, no Brasil, qualquer indie porco de chinelo e barba se diz gonzo. Mas Zeca era "the real deal", um mitômano genial.
Os dois primeiros discos de rock que comprei, "Exile on Main Street" (Rolling Stones) e "Aladdin Sane" (David Bowie), foram por indicação de Zeca no "JT".
Até hoje detesto bandas que ele malhava, como o Uriah Heep. No pós-punk, era fácil olhar para trás e ver como era ridículo o rock progressivo. Mas Zeca fez isso durante a tempestade "floydiana". Em plenos anos 70, apontava o ridículo daquela pretensão toda.
Quando eu era adolescente, meus amigos piravam na estética brega das capas do Yes. Meu primo doidão viajava para Maresias (estrada de terra na época), delirando com Rush. Eu via aquilo de longe e ria por dentro. Ezequiel Neves tinha me mostrado o caminho.
Há cerca de um mês, um amigo comum me contou que Zeca estava muito mal. Há semanas ensaio escrever sobre ele. Faço isso só agora, com Zeca morto. Pena.



OUÇA ON-LINE
"EST", White Lies
Proteja os pulsos antes ?de dar "play". Darkeira total: is.gd/dkFzY

OUÇA ON-LINE
"Release Me", The Like
O produtor, Mark Ronson, andou pelo Brasil, não? O CD é Jovem Guarda pura: is.gd/dkFnH

DELETE
Letras do While Lies
Se eu fosse o produtor, escondia os vocais. As letras são péssimas, infantis, lotadas de lugares-comuns


Texto Anterior: Londres a passeio
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.