A nova e a velha Inglaterra

))) Duas cantoras, a veterana Siouxsie e a novata Kate Nash, lançam seus primeiros discos solos

DA REPORTAGEM LOCAL

Dez dias depois de Siouxsie completar 30 anos, nascia, em junho de 1987, Kate Nash. Ambas são cantoras de Londres. A primeira, veterana e sobrevivente do punk e do pós-punk ingleses e musa dos góticos do mundo todo, só lança em 2007, aos 50 anos, seu primeiro disco solo- mesmo ano em que a carreira da segunda, aos 20, se inicia.
E assim a Inglaterra oferece para os fãs de pop e de rock a chance de comparar dois talentos de épocas bem distintas que se refletem no som e nos temas criados por ambas cantoras.
"MantaRay" traz a velha Siouxsie cheia de vigor, como ela mesma canta em "Into a Swan" ("Sinto uma força que nunca havia sentido antes") na gloriosa abertura do álbum.
Ecos do passado, em letras niilistas, como a da triste "Loveless", ainda estão na obra dela, entoados pela voz rouca e inconfundível dessa dama gótica.
Mas ela abre as janelas em "MantaRay"; até a foto da capa traz Siouxsie cercada de borboletas coloridas. Assim, com cores por todo lado, ela canta faixas pop rock sobre o amor e a beleza da natureza. Faz uma referência à música "Don't Rain on My Parade", do filme "Funny Girl - A Garota Genial" (1968), na melhor música do disco, "Here Comes That Day", cheia de detalhes, como o uso do esquecido teremim, de metais e de cordas.

Nova Inglaterra
Nascida em uma época de jovens conformistas e apolíticos, totalmente contrários ao pensamento punk de questionar e não aceitar regras e valores sociais estabelecidos, vem a novata Kate Nash, que estréia com o simpático "Made of Bricks".
Ela integra a onda de mulheres que invade a parada britânica com seus discos e atitudes fortes, como Lily Allen, Amy Winehouse e Beth Ditto, vocalista da excelente banda Gossip.
Boas baladinhas dançantes, um pouco de folk, um tanto mais de puro pop, e Kate Nash despeja suas letras sobre relacionamentos, encontros amorosos e indecisões da adolescência. Muitas vezes ela soa como uma versão inglesa da canadense Alanis Morissette, o que soa irritante.
Mas no quesito experiência de vida, que só chega com a idade e pesa bastante nas letras, Kate fica realmente 30 anos atrás de Siouxsie.
Na melhor música do disco, "Foundations", ela canta para o namorado: "Você me olha daquele jeito quando eu estou contando uma história e você acha um tédio". O problema é que, no fim do disco, você acaba entendendo o porquê daquele tal olhar. (LEANDRO FORTINO)