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ESCUTA AQUI
Festival de besteiras inglesas assola o Brasil
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA
A região mais próspera do Brasil é o vale do
Itajaí, em Santa Catarina. "Señorita" é uma
palavra da língua portuguesa. O idioma falado pelos descendentes germânicos de Santa
Catarina é o mais puro alemão. A empresa aérea que liga São Paulo ao sul do país chama-se
Rio du Sol. É comum mulheres bem-arrumadas pegarem avião em São Paulo só para almoçar em Joinville (SC), voltando no mesmo
dia. O nome do compositor brasileiro de "O
Guarani" é Carlos Gomez. Um restaurante de
Blumenau fica encravado na selva.
Calma, "Escuta Aqui" ainda não enlouqueceu de vez. Todas as maluquices do parágrafo
acima foram extraídas de uma reportagem
sobre a imigração alemã em Santa Catarina,
publicada na edição de janeiro/fevereiro de
2003 da ultraluxuosa revista inglesa "Wallpaper". Dá para acreditar?
A "Wallpaper", para quem não sabe, é uma
daquelas revistas que ditam o que é ou não
bacana, cool, hip, mundo afora. Imagine a
coisa menos cool do mundo -"Escuta
Aqui", por exemplo. Pois bem: se sair na
"Wallpaper" que "Escuta Aqui" é legal, passa
a ser legal, e ponto.
A última edição traz o que a "Wallpaper"
chama de "The Hot 100", ou seja, a lista de
"cem coisas bacanas", escolhidas pelo corpo
editorial da revista.
A "coisa bacana" número um é nada menos
que a imigração alemã no Brasil. Para nós,
brasileiros, fenômeno manjado. Mas só aqui.
Aos olhos dos ingleses da "Wallpaper", alemães vivendo no país tropical desde o século
19 são exotismo puro.
Como "homenagem" aos teuto-tiozinhos
de SC, a "Wallpaper" traz reportagem de seis
páginas sobre o assunto. O pequeno texto
-as fotos ocupam a maior parte do espaço-
é assinado por William Hodgkinson, jornalista inglês descrito como um "apaixonado pela
América do Sul". Imagine se não fosse...
Mas o objetivo de "Escuta Aqui" de hoje não
é uma defesa "patriótica" do Brasil, fulminado pela desinformação da "Wallpaper". Na
verdade, o Brasil é mesmo um país exótico,
estranhíssimo e muito pouco conhecido lá fora. Acaba sendo normal um artigo tão impreciso sobre nossa terra -por mais desconfortável que a gente se sinta ao lê-lo.
Antes que você se veja tomado de ímpeto
verde e amarelo e mande uma carta xingando
a "Wallpaper", pense bem. O que nós sabemos, por exemplo, sobre o México, para ficar
em um caso de país de projeção mundial e
grandeza econômica semelhantes à do Brasil?
Nada, claro.
Se os ingleses que editaram a reportagem
sobre SC são ignorantes, então a gente não fica muito atrás.
"Escuta Aqui" pede desculpas a quem escreveu para a coluna entre os dias 20/12/ 2002 e
6/1/2003. Pane na caixa postal mandou as
mensagens do período para o ciberespaço,
sem chance de recuperação.
Desculpas também pela coluna da semana
passada, que:
1) Não falava de Joe Strummer, do Clash,
morto no fim de 2002;
2) Citava como novidade o gerador de letras
tribalistas na internet.
É que o texto foi entregue com muuuita antecedência, quando o grande Strummer ainda
estava vivo, e quando o gerador ainda não tinha sido objeto de reportagem até no diário
oficial de Bagdá.
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