São Paulo, segunda-feira, 13 de agosto de 2007

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carreira

Vida de artista

O que pensam os jovens que rejeitam as velhas profissões "caretas"

Fernando Donasci/Folha Imagem
"É uma vida difícil, você ouve muito 'não' e tem a impressão de que nunca vai ser bom o suficiente"
DANIEL NUNES, 19


DOLORES OROSCO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A idéia de trabalhar em um escritório, usando roupas formais e cumprindo o horário comercial de olho numa tela de computador chega a provocar calafrios em alguns adolescentes.
Com a proximidade do vestibular, esses garotos se sentem numa sessão de tortura, pois nem lhes passa pela cabeça disputar uma vaga para cursos convencionais como administração, direito ou engenharia.
Para essa turma, a imagem da profissão perfeita é em cima de um palco soltando a voz para uma platéia ou expondo suas obras de arte em uma galeria. Poderia ser também atuando no cinema ou recebendo o prêmio Jabuti de melhor escritor. O que esses jovens querem mesmo é seguir a carreira artística e, quem sabe um dia, distribuir autógrafos.

Estrelato
A estudante Thais Narkevitz, 17, assume que tem alma de artista porque sente "necessidade de se expressar". Na escola, sempre chamou a atenção dos professores de educação artística por seu talento e empenho nos desenhos. "É libertador passar sentimentos para uma tela", diz a menina, que se inspira nos mangás japoneses.
Aluna aplicada do curso de artes plásticas da Escola Panamericana de Arte, Thais tem consciência de que o mercado para uma pintora não oferece garantias, muito menos carteira assinada. "Vou acabar optando por comunicação visual, pois assim posso desenvolver técnicas comerciais. Se não der certo como pintora, posso ser contratada por uma empresa".
Escolher uma faculdade similar à carreira sonhada é uma saída que esses artistas adolescentes encontram para continuar exercendo o ofício do coração -sem deixar de pagar as contas. É o caso da estudante Luísa de Freitas Pollo, 15, que cursará jornalismo para o caso de não alcançar o estrelato como escritora.
Sua curtição é passar horas em livrarias buscando inspiração para seus contos. "Ainda não escrevi um livro. Minha especialidade são os contos", afirma Luísa, que é fã de Rubem Fonseca, de J.R.R. Tolkien e de José Saramago. "Escrevo desde os dez anos", diz a contista, que espera ter sua cadeira na Academia Brasileira de Letras.

Desde pequena
Uma das características que esses candidatos a artista costumam ter em comum é o fato de manifestarem suas vontades assim que largam as fraldas. A estudante Luiza Americano Grillo, 16, garante que nasceu cantora. "Aos 3 anos eu sabia a letra da música "Debaixo dos Caracóis dos seus Cabelos" [de Roberto Carlos] inteirinha!", conta Luiza, que é fã de Cássia Eller e toca violão "superbem".
Quer deixá-la desconcertada? É só perguntar o que quer ser "quando crescer". "Queria mesmo é ser cantora. É tão difícil escolher outra coisa...", lamenta.
Idealizar a carreira é uma armadilha para esses adolescentes. A vida de um artista não é feita apenas de aplausos. "A gente ouve muito "não", a concorrência é enorme e você sente que nunca será bom o suficiente", explica o bailarino Daniel Nunes, 19, que faz parte do "time reserva" de atores/dançarinos do musical "Miss Saigon", em cartaz em São Paulo.
"Estou estudando para ser um artista completo: faço aulas de canto, dança e interpretação. Quando fico sabendo dos testes para os espetáculos, dobro as horas de treino", conta.
"A maior dificuldade dessa área é entrar no meio artístico e conhecer as pessoas certas. Quando você consegue uma chance, tem que se esforçar, ter responsabilidade e "fazer um nome". Mas acho que toda profissão é assim, não é?", questiona Daniel.


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