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Meninas fumam mais que garotos
João Wainer/Folha Imagem
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Meninas são mais propensas a sentir dependência de nicotina e têm mais dificuldade de largar o vício |
RENATA AFFONSO
free-lance para a Folha
Em países como Dinamarca,
Alemanha e Estados Unidos, as
meninas de 14 a 19 anos já fumam
mais que os meninos da mesma
idade. O alerta vem da Organização Mundial de Saúde (OMS), em
documento divulgado em Kobe,
Japão, durante a Conferência Internacional sobre Tabaco ou Saúde, realizada no mês passado.
Para quem participou do evento, essa afirmação revela aparente
vitória da indústria do fumo na
guerra por novos consumidores,
no caso, consumidoras.
As pesquisas pelo mundo afora
indicam o constante crescimento
no consumo de tabaco pelas garotas. Nos EUA, por exemplo, em
apenas seis anos (de 1991 a 1997),
o número de alunas do ensino
médio que fumavam passou de
27% para 34,7%, segundo o Jornal
Americano de Saúde Pública, espécie de Conselho Federal de Medicina.
O Brasil não fica atrás. O Centro
Brasileiro de Informações sobre
Doenças Psicotrópicas da Universidade Federal de São Paulo pesquisou durante dez anos (1987 a
1997) o consumo de cigarro entre
estudantes de 10 a 18 anos de dez
capitais brasileiras. O resultado
não é nada animador, especialmente para as jovens do Rio, de
São Paulo e Porto Alegre, capitais
onde só cresce o número de mulheres jovens fumando.
Por que as garotas?
Em 50 anos, as mulheres conseguiram transformar, em velocidade vertiginosa, várias situações de
desigualdade. Valores, comportamentos, direitos legais, muita coisa mudou. Começaram a adquirir
hábitos até então masculinos, como dirigir, trabalhar fora de casa
e... fumar! Os fabricantes de cigarro, antenados às conquistas femininas, voltaram suas miras para
esse público novo que faria suas
margens de lucro darem um salto.
Reforço de identidade e auto-estima, busca de aparência mais
adulta e atraente, aprovação de
amigos, glamour. "Essa é a estratégia de propaganda e venda de
cigarros voltada para o público jovem feminino. Isso é o que eles
tentam vender desde o início do
século", alerta Renata Bloem, presidente do Comitê sobre a Situação da Mulher, com sede na Suíça,
que trabalha contra o tabagismo
entre mulheres e jovens.
Para quem pensa que isso é papo de antitabagista ou ex-fumante, muitas dessas informações foram tiradas, há aproximadamente duas décadas, começando em
1972, de documentos internos das
indústrias de cigarro que analisam maneiras de inserir o hábito
de fumar na adolescência.
Documento da indústria canadense Imperial Tobacco, datado
de 1982, descreve o chamado Projeto 16, disponível no site do jornal "Washington Post". A fabricante observa que muitas jovens
começam a ser fumantes entre os
14 e 16 anos "porque experimentam e não acreditam que se viciarão. Uma vez que o vício ocorre,
será necessário para a fumante
apaziguá-lo", indica o projeto.
Em 1991, a americana Philip
Morris já despertava para o público juvenil. "Jovens de hoje são
consumidores (as) fiéis de amanhã, e a maioria esmagadora de
fumantes começa quando ainda é
adolescente... A fatia de fumantes
adolescentes é particularmente
importante para a Philip Morris",
diz documento interno.
"O objetivo do Projeto AA é desenvolver uma marca de cigarro
atraente para potenciais fumantes
femininas de 18 a 24 anos. A seguir, segue análise do mercado
dessa faixa etária e a oportunidade que temos de endereçar uma
nova marca para elas", afirma outro documento, de 1992 da indústria RJ Reynolds.
Um memorando de consultores
da indústria americana Brown &
Williamson recomenda à companhia a criação de cigarros com sabor de Coca-Cola, maçã ou outro
tipo de "cigarro com sabor doce...
É fato conhecido que adolescentes adoram produtos doces. Mel
deve ser considerado".
A jornalista Renata Affonso viajou ao Japão
a convite da organização do evento
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