São Paulo, segunda-feira, 14 de junho de 2010

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Nem aí pro Brasil

SAIBA POR QUE HÁ JOVENS QUE NÃO VÃO VESTIR A CAMISA DA SELEÇÃO NESTA COPA

Rodrigo Capote/Folhapress
Leticia Saraboline, 23, vai torcer para a Argentina

DIOGO BERCITO
IURI DE CASTRO TÔRRES

DE SÃO PAULO

Amanhã, na estreia do Brasil na Copa do Mundo, se a seleção canarinho marcar pontos contra a Coreia do Norte, nem todos os jovens do país vão gritar "goooool".
Enquanto multidões sintonizam a televisão para torcer pelo Brasil, outros vão fazer torcida contrária -ou simplesmente ignorar os jogos.
"Eu torço é para a Argentina", confessa a estudante Letícia Saraboline, 19. "As pessoas querem me matar!"
Silvana Gonçalves, 19, é outra que encontra má recepção quando diz que vai vibrar pelos "hermanos", maiores rivais do Brasil nos gramados. "Meus amigos dizem que eu não entendo nada de futebol!", brinca, falando da predileção pelo país vizinho.
Preferência, aliás, que não vem de sangue. Silvana e Letícia apontam a prepotência dos brasileiros como o principal motivo para torcerem contra a própria seleção.
"Os brasileiros têm muita certeza de que vão ganhar. Isso me irrita", diz Silvana.
Nara Macedo, 17, também vai torcer para outro país como forma de protesto. Escolheu a Alemanha "só porque não é o Brasil". Mas a garota aponta outros motivos.
"A Copa não é tão importante. Não deveria mobilizar tanta gente!", desabafa. "É muita hipocrisia reclamar do país durante o ano e agora pendurar bandeiras verde-amarelas por todo lado."

FALSO PATRIOTISMO
"Tentei criar uma campanha para o Dia Mundial do Meio Ambiente na firma, mas ela foi ignorada por conta de outra sobre a Copa", reclama o publicitário Bruno Figueiredo, 23, um dos donos da comunidade "Odeio Copa do Mundo!" no Orkut -que tem mais de 2.100 inscritos.
"Nunca gostei desse patriotismo falso", diz Bruno. "O país para, tudo fecha, as ruas ficam desertas!"
As ruas vazias são justamente o motivo pelo qual o estudante Vinícius de Mello, 18, não vai assistir à partida de amanhã -em vez disso, decidiu andar de bicicleta pelas avenidas de São Paulo.
"Quero sentir como é pedalar sem ser atacado por vários motoristas", explica o corintiano. "Além do mais, tenho certeza de que o Brasil passa da primeira fase, então nem vou me preocupar."
Essa mesma sensação de isolamento irritou o estudante Felipe Vignon, 21, em 2006, quando quis sair durante os jogos da Copa e não encontrou nada aberto.
"Eu até gosto da cidade vazia, mas você não pode ir a lugar nenhum!", reclama.

LIVROS
Já Gabriel Sousa, 18, de Brasília, vai aproveitar os momentos de ufanismo para estudar. Ele vai prestar vestibular. "Vários concorrentes vão assistir aos jogos, então vou aproveitar", afirma.
Os livros também vão substituir a TV no caso de Natália Betti, 18, que tem prova na quarta-feira. Mas ela não veria os jogos nem que estivesse livre. "Prefiro as partidas de tênis de Wimbledon!"
Ela não torce contra. "Se o Brasil perder, vai ser pior, todo o mundo vai ficar irritado!", brinca.
Não gostar de futebol, por outro lado, não é o problema de Wellington Costa, 15. A questão é justamente ser apaixonado pelo esporte. "Não gostei foi da convocação da seleção!", explica.
Wellington conta que, nas últimas Copas, torceu a favor. "Mas nesta não dá! Grafite? Felipe Melo? Não jogam nada! Não quero que ganhem de jeito nenhum."


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