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CINEMA
Produções nacionais batem recorde no 11ª Anima Mundi
O Brasil fica mais animado
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
Dois manos da periferia
de São Paulo mandam
ver um sanduíche do tipo
"Jesus me chama" nas
ruas do centro da cidade.
O que não mata engorda,
certo? Só que os dois morrem mesmo, mas não se
dão conta, e embarcam
em uma lotação para o inferno conduzida por um
capeta com camiseta do
Corinthians que é a cara
do veterano jogador de
futebol Biro-Biro.
Que animação não é diversão exclusiva de crianças, todo mundo já sabe.
A nova descoberta é o barato que há além dos badalados animes japoneses
e das megaproduções
americanas. Trata-se da
crescente produção nacional que toma conta do
Anima Mundi já há quatro anos e que inicia o público brasileiro no prazer
da identificação direta
com os personagens e
com as situações presentes na tela.
O enredo descrito no
primeiro parágrafo é o do
curta "Crássicos da Periferia: Lotação pro Inferno", do estúdio Pointblank, formado por jovens de São Paulo. Ele é
uma das 101 animações
feitas por mãos, mentes e
mouses brasileiros que estarão no 11º Anima Mundi -que rola até domingo (20/7), no Rio, e que
tem início, em São Paulo,
no dia 23. Veja a programação e os locais de exibição no site
www.animamundi.com.br.
"O festival contribuiu muito na formação de público, no incentivo à produção
nacional e na informação tecnológica
dos animadores brasileiros através de
oficinas que promove", reconhece Marcos Magalhães, um dos diretores do Anima Mundi, que já organizou pacotes de
curtas brasileiros para festivais na Bélgica, no Japão, na França, nos EUA, na Espanha e em Portugal.
Mercado
Todo o entusiasmo em torno das produções nacionais, no entanto, morre na
praia depois de surfar nas ondas do Anima Mundi. Fora do festival, o mercado
local de animação praticamente inexiste
fora dos limites da publicidade. Há brasileiros envolvidos em grandes produções
internacionais, mas seus talentos não são
explorados na criação de séries para TV
ou de longas nacionais.
"É mais na raça que a produção cresceu. Não existe mercado que remunere
esse tipo de trabalho no Brasil. A maioria
dos animadores trabalha em produtoras
e cria curtas pessoais como forma de expandir as fronteiras de seu trabalho", explica Arnaldo Galvão, animador brasileiro responsável pela série "Castelo Rá-Tim-Bum". Ele participa do Anima
Mundi desde a sua primeira edição e,
neste ano, recebe homenagem do festival. Galvão é um dos diretores da recém-criada Associação Brasileira Cinema de
Animação, que pretende procurar saídas
para as animações daqui.
"A informação técnica ficou muito democratizada
com a Internet e, hoje, os softwares permitem a um jovem
formar-se em sua própria casa. Mas o mercado só vai
crescer quando houver uma
parceria com as TVs", avalia.
Rafael Ambrósio, 23, autor
do curta "O Mímico e a Caixa" -que fez sozinho ao longo de dois anos e que será exibido no Anima Mundi
2003-, faz animações desde
os 17 anos, aprendeu tudo em
cursos, em experimentações
e em oficinas do festival e
acredita que não há um mercado confiável no Brasil.
"Existem profissionais excelentes, cursos muito bons,
mas não existe demanda para
esse trabalho. Os EUA e o Japão têm uma indústria que
vende para o mundo inteiro."
Marcos Roque, 23, animador da série "Crássicos da Periferia", acredita que os investidores estejam bobeando ao
não apostar em animações
nacionais. "Quem for pioneiro nesse investimento, vai ganhar um bom destaque e a
simpatia do público, que gosta e consome animação."
O diretor do festival confirma: "Animação é o primeiro
produto cultural que as pessoas consomem na infância.
E, se houver uma reviravolta
no Brasil, ficará evidente que
é um bom negócio porque há
um movimento espontâneo
tanto dos animadores como
do público."
Formação
Assim como a grande
maioria dos animadores daqui, Roque é autodidata. Só
que, além de aulas técnicas,
há opções de cursos superiores na UFMG
(Universidade Federal de Minas Gerais),
na ECA/ USP (Escola de Comunicação e
Artes da Universidade de São Paulo) e na
Faap (Fundação Armando Álvares Penteado), por exemplo, que oferecem aulas
de animação. Agora, a formação dos animadores ganha força extra com a primeira pós-graduação em animação do Brasil,
que será inaugurada em 2004 na PUC
(Pontifícia Universidade Católica) do Rio
de Janeiro e que conta, no corpo docente,
com diretores do próprio Anima Mundi.
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