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São Paulo, segunda-feira, 14 de julho de 2003

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CINEMA

Produções nacionais batem recorde no 11ª Anima Mundi

O Brasil fica mais animado

FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois manos da periferia de São Paulo mandam ver um sanduíche do tipo "Jesus me chama" nas ruas do centro da cidade. O que não mata engorda, certo? Só que os dois morrem mesmo, mas não se dão conta, e embarcam em uma lotação para o inferno conduzida por um capeta com camiseta do Corinthians que é a cara do veterano jogador de futebol Biro-Biro.
Que animação não é diversão exclusiva de crianças, todo mundo já sabe. A nova descoberta é o barato que há além dos badalados animes japoneses e das megaproduções americanas. Trata-se da crescente produção nacional que toma conta do Anima Mundi já há quatro anos e que inicia o público brasileiro no prazer da identificação direta com os personagens e com as situações presentes na tela.
O enredo descrito no primeiro parágrafo é o do curta "Crássicos da Periferia: Lotação pro Inferno", do estúdio Pointblank, formado por jovens de São Paulo. Ele é uma das 101 animações feitas por mãos, mentes e mouses brasileiros que estarão no 11º Anima Mundi -que rola até domingo (20/7), no Rio, e que tem início, em São Paulo, no dia 23. Veja a programação e os locais de exibição no site www.animamundi.com.br.
"O festival contribuiu muito na formação de público, no incentivo à produção nacional e na informação tecnológica dos animadores brasileiros através de oficinas que promove", reconhece Marcos Magalhães, um dos diretores do Anima Mundi, que já organizou pacotes de curtas brasileiros para festivais na Bélgica, no Japão, na França, nos EUA, na Espanha e em Portugal.

Mercado
Todo o entusiasmo em torno das produções nacionais, no entanto, morre na praia depois de surfar nas ondas do Anima Mundi. Fora do festival, o mercado local de animação praticamente inexiste fora dos limites da publicidade. Há brasileiros envolvidos em grandes produções internacionais, mas seus talentos não são explorados na criação de séries para TV ou de longas nacionais.
"É mais na raça que a produção cresceu. Não existe mercado que remunere esse tipo de trabalho no Brasil. A maioria dos animadores trabalha em produtoras e cria curtas pessoais como forma de expandir as fronteiras de seu trabalho", explica Arnaldo Galvão, animador brasileiro responsável pela série "Castelo Rá-Tim-Bum". Ele participa do Anima Mundi desde a sua primeira edição e, neste ano, recebe homenagem do festival. Galvão é um dos diretores da recém-criada Associação Brasileira Cinema de Animação, que pretende procurar saídas para as animações daqui.
"A informação técnica ficou muito democratizada com a Internet e, hoje, os softwares permitem a um jovem formar-se em sua própria casa. Mas o mercado só vai crescer quando houver uma parceria com as TVs", avalia.
Rafael Ambrósio, 23, autor do curta "O Mímico e a Caixa" -que fez sozinho ao longo de dois anos e que será exibido no Anima Mundi 2003-, faz animações desde os 17 anos, aprendeu tudo em cursos, em experimentações e em oficinas do festival e acredita que não há um mercado confiável no Brasil. "Existem profissionais excelentes, cursos muito bons, mas não existe demanda para esse trabalho. Os EUA e o Japão têm uma indústria que vende para o mundo inteiro."
Marcos Roque, 23, animador da série "Crássicos da Periferia", acredita que os investidores estejam bobeando ao não apostar em animações nacionais. "Quem for pioneiro nesse investimento, vai ganhar um bom destaque e a simpatia do público, que gosta e consome animação."
O diretor do festival confirma: "Animação é o primeiro produto cultural que as pessoas consomem na infância. E, se houver uma reviravolta no Brasil, ficará evidente que é um bom negócio porque há um movimento espontâneo tanto dos animadores como do público."

Formação
Assim como a grande maioria dos animadores daqui, Roque é autodidata. Só que, além de aulas técnicas, há opções de cursos superiores na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), na ECA/ USP (Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo) e na Faap (Fundação Armando Álvares Penteado), por exemplo, que oferecem aulas de animação. Agora, a formação dos animadores ganha força extra com a primeira pós-graduação em animação do Brasil, que será inaugurada em 2004 na PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio de Janeiro e que conta, no corpo docente, com diretores do próprio Anima Mundi.



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