São Paulo, segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

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Internet

Deixem minha internet em paz

O mundo dos adolescentes caiu quando o YouTube foi bloqueado pela Justiça na semana passada; estaria a rede ameaçada?

Ricardo Nogueira/Folha Imagem
Luiz Octavio, 19, descobriu no YouTube a banda The Good the Bad and the Queen


LEANDRO FORTINO
LETICIA DE CASTRO

DA REPORTAGEM LOCAL

O tempo fechou na semana passada, e milhares de internautas brasileiros tomaram um susto. Entre segunda e terça, o acesso ao YouTube foi bloqueado para os usuários de servidores como a Telefônica e a Brasil Telecom.
O "apagão" do mais popular site de compartilhamento de vídeos do mundo foi causado por uma decisão judicial que beneficiava Daniela Cicarelli e Tato Malzoni, numa ação que pedia a retirada do ar do vídeo que flagrava o casal transando numa praia espanhola.
Ainda que momentânea, a proibição revoltou os fãs do site, fazendo com que a decisão fosse revertida no dia seguinte.
"Bloquear um site com milhões de usuários simplesmente por causa de duas pessoas é demais. Acho que o juiz percebeu isso. Não acho que vá acontecer mais", torce Karen Rocha Alves, 18, que vê no site um lugar para bandas independentes divulgarem seus trabalhos.
Estudante de cinema e usuário do site, Luiz Guilherme Dubiela, 18, achou a proibição absurda. Ele acessa o YouTube atrás de sátiras e de animações.
"Fiquei preocupado. Achei que poderia começar um novo tipo de censura, que, se alguém quisesse proibir o Orkut, conseguiria com mais facilidade. Poderia ser o começo de uma espécie de cibercensura."
Para a estudante Mariana Alves Rueda Mion, 18, apenas sites ilegais deveriam ser censurados, como os dedicados a pornografia infantil. Mas ela teme o bloqueio do YouTube: "Acho que pode virar moda".
Segundo os entrevistados pelo Folhateen, as utilidades do site estão mais relacionadas a assistir a vídeos de música de novos artistas, a esportes e a cenas de programas de TV, ou seja, imagens que dificilmente ofenderiam alguém.
Um exemplo é Luiz Octavio Soares Aires, 19, estudante de marketing. Ele descobriu no YouTube a banda The Good the Bad and the Queen, nova aposta do vocalista do Gorillaz, Damon Albarn, com o ex-baixista do Clash, Paul Simonon.
"Sites não devem ser bloqueados. E sites como o YouTube são muito difíceis de serem controlados. Acho complicado fechar o site", diz Luiz.
Outra opinião unânime entre os prejudicados pelo bloqueio é: se bloquear o YouTube, tem que bloquear a internet inteira. "YouTube é um site onde não há censura, talvez um dos poucos onde você tinha liberdade de expressão para colocar os vídeos que desejar e assisti-los", explica Frank Kuroda, 16, que colocou apenas um vídeo de dança no YouTube.
Mais contido -e chateado- está Diego E. Lores Piran da Silva, 18: "Sou apenas contra a atitude de Daniela Cicarelli, pois ela errou quando mostrou ao público sua intimidade com o namorado. Penso que a Daniela poderia guardar sua imagem ao máximo em vez de exibi-la com futuras acusações a mídia", sustenta Diego.
Para o advogado Attilio Gorini, especialista em direito de tecnologia, o bloqueio não chega a ser uma censura, mas é uma punição desproporcional.
"Não se justifica, porque o vídeo da Cicarelli é muito pequeno dentro do universo do YouTube. Esse tipo de caso deve ser resolvido com indenização, não com o bloqueio, que prejudica milhões de usuários", diz.
Já Guilherme de Almeida, especialista em direito das novas tecnologias, avalia que a decisão abriu precedente para que mais sites sejam fechados.
"Interromper um serviço de internet é algo possível. Ficou claro que existe um caminho radical, porém que pode funcionar, para evitar abusos. Mas a decisão foi prejudicial para o site, para os milhões de usuários e para a própria internet."
Ele concorda que, nesse tipo de caso, a indenização é a punição mais comum. "Uma vez no ar, o vídeo pode ser reproduzido por outros usuários, e é quase impossível garantir que ele não ficará mais disponível."
A mobilização dos usuários é, na opinião dos especialistas, um ponto positivo. "A repercussão foi tanta que equilibrou a situação. Aumentou o poder dos que vigiam e o dos usuários, que conseguiram reverter a decisão", diz Guilherme.
"A reversão da decisão e o clamor da sociedade podem funcionar para impedir novas medidas do tipo", opina Attilio.


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