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Internet
Deixem minha internet em paz
O mundo dos adolescentes caiu quando o YouTube foi bloqueado pela Justiça na semana passada; estaria a rede ameaçada?
Ricardo Nogueira/Folha Imagem
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Luiz Octavio, 19, descobriu no YouTube
a banda The Good the
Bad and the Queen |
LEANDRO FORTINO
LETICIA DE CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL
O tempo fechou na
semana passada, e
milhares de internautas brasileiros
tomaram um susto.
Entre segunda e terça, o acesso
ao YouTube foi bloqueado para
os usuários de servidores como
a Telefônica e a Brasil Telecom.
O "apagão" do mais popular
site de compartilhamento de
vídeos do mundo foi causado
por uma decisão judicial que
beneficiava Daniela Cicarelli e
Tato Malzoni, numa ação que
pedia a retirada do ar do vídeo
que flagrava o casal transando
numa praia espanhola.
Ainda que momentânea, a
proibição revoltou os fãs do site, fazendo com que a decisão
fosse revertida no dia seguinte.
"Bloquear um site com milhões de usuários simplesmente por causa de duas pessoas é
demais. Acho que o juiz percebeu isso. Não acho que vá acontecer mais", torce Karen Rocha
Alves, 18, que vê no site um lugar para bandas independentes
divulgarem seus trabalhos.
Estudante de cinema e usuário do site, Luiz Guilherme Dubiela, 18, achou a proibição absurda. Ele acessa o YouTube
atrás de sátiras e de animações.
"Fiquei preocupado. Achei
que poderia começar um novo
tipo de censura, que, se alguém
quisesse proibir o Orkut, conseguiria com mais facilidade.
Poderia ser o começo de uma
espécie de cibercensura."
Para a estudante Mariana Alves Rueda Mion, 18, apenas sites ilegais deveriam ser censurados, como os dedicados a
pornografia infantil. Mas ela
teme o bloqueio do YouTube:
"Acho que pode virar moda".
Segundo os entrevistados pelo Folhateen, as utilidades do
site estão mais relacionadas a
assistir a vídeos de música de
novos artistas, a esportes e a
cenas de programas de TV, ou
seja, imagens que dificilmente
ofenderiam alguém.
Um exemplo é Luiz Octavio
Soares Aires, 19, estudante de
marketing. Ele descobriu no
YouTube a banda The Good
the Bad and the Queen, nova
aposta do vocalista do Gorillaz,
Damon Albarn, com o ex-baixista do Clash, Paul Simonon.
"Sites não devem ser bloqueados. E sites como o YouTube são muito difíceis de serem controlados. Acho complicado fechar o site", diz Luiz.
Outra opinião unânime entre os prejudicados pelo bloqueio é: se bloquear o YouTube, tem que bloquear a internet
inteira. "YouTube é um site onde não há censura, talvez um
dos poucos onde você tinha liberdade de expressão para colocar os vídeos que desejar e assisti-los", explica Frank Kuroda, 16, que colocou apenas um
vídeo de dança no YouTube.
Mais contido -e chateado-
está Diego E. Lores Piran da
Silva, 18: "Sou apenas contra a
atitude de Daniela Cicarelli,
pois ela errou quando mostrou
ao público sua intimidade com
o namorado. Penso que a Daniela poderia guardar sua imagem ao máximo em vez de exibi-la com futuras acusações a
mídia", sustenta Diego.
Para o advogado Attilio Gorini, especialista em direito de
tecnologia, o bloqueio não chega a ser uma censura, mas é
uma punição desproporcional.
"Não se justifica, porque o vídeo da Cicarelli é muito pequeno dentro do universo do YouTube. Esse tipo de caso deve ser
resolvido com indenização, não
com o bloqueio, que prejudica
milhões de usuários", diz.
Já Guilherme de Almeida, especialista em direito das novas
tecnologias, avalia que a decisão abriu precedente para que
mais sites sejam fechados.
"Interromper um serviço de
internet é algo possível. Ficou
claro que existe um caminho
radical, porém que pode funcionar, para evitar abusos. Mas
a decisão foi prejudicial para o
site, para os milhões de usuários e para a própria internet."
Ele concorda que, nesse tipo
de caso, a indenização é a punição mais comum. "Uma vez no
ar, o vídeo pode ser reproduzido por outros usuários, e é quase impossível garantir que ele
não ficará mais disponível."
A mobilização dos usuários é,
na opinião dos especialistas,
um ponto positivo. "A repercussão foi tanta que equilibrou
a situação. Aumentou o poder
dos que vigiam e o dos usuários,
que conseguiram reverter a decisão", diz Guilherme.
"A reversão da decisão e o
clamor da sociedade podem
funcionar para impedir novas
medidas do tipo", opina Attilio.
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