São Paulo, segunda-feira, 15 de março de 2004

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FOLHATEEN EXPLICA

Imagens do Telescópio Hubble revelam como era o cosmos "jovem"

O passado nada careta do Universo

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Se o Universo costumasse ser vítima das revistas de fofoca, a essa altura já estaria na boca do povo. O Telescópio Espacial Hubble, o maior dos paparazzi em matérias astronômicas, revelou na semana passada uma imagem chocante do passado do cosmos. Ao que tudo indica, ele era bem menos careta quando tinha apenas 400 milhões de anos de idade.
Hoje em dia um típico conservador, o Universo parece fabricar grandes galáxias principalmente em dois sabores: espirais e elipses. A Via Láctea mesmo, onde estão localizados o Sol e seus planetas, é uma espiral, como muitas outras espalhadas espaço afora.
No entanto, um quadro diferente surgiu na nova imagem do Hubble. Ela revela uma época em que o cosmos ainda dava seus primeiros passos de aprendiz na fabricação de modelos galácticos. Vêem-se objetos de todos os formatos e tamanhos. "Acredita-se que esses objetos tenham no final se chocado para produzir as espirais e elipses que vemos hoje", diz Laerte Sodré Júnior, pesquisador do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, comentando as revelações.
O telescópio espacial passou vários meses observando uma região diminuta do céu - com menos de um décimo do diâmetro aparente da Lua- para fazer a tal fotografia, batizada com o nome de "Campo Ultraprofundo do Hubble". Na imagem, os astrônomos estimam que sejam visíveis nada menos que 10 mil galáxias, todas da época em que o cosmos tinha de 400 milhões a 700 milhões de anos.
O Universo tem cerca de 13,7 bilhões de anos. Se fosse hoje um homem aos 70, a imagem mostraria suas traquinagens de quando ele tinha apenas de 2 a 4 anos de idade. Antes do Hubble, ninguém havia enxergado uma época tão remota da infância cósmica.
O segredo que permite aos astrônomos ver o passado é simplesmente olhar para longe. Esse truque não funciona com os fotógrafos de revistas de fofoca, mas faz maravilhas pelo Hubble, que costuma obter imagens dos longínquos rincões do espaço. Isso porque a luz viaja a uma velocidade fixa de 300 mil quilômetros por segundo. Quanto mais distantes estão sendo gerados os raios luminosos, mais tempo levam para chegar até o espelho do Hubble, localizado nas imediações da Terra.
Ao observar objetos localizados a bilhões de anos-luz daqui (um ano-luz equivale a 9,5 trilhões de quilômetros), o telescópio está vendo os raios de luz que foram emitidos de lá bilhões de anos atrás. Com isso, os cientistas podem perscrutar o passado do Universo, verificando se nossas idéias sobre sua origem estão corretas e entendendo como ele se tornou o que é hoje e o que ele deverá ser no futuro.



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