São Paulo, segunda-feira, 15 de maio de 2006

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ESPORTES

O Brasil é campeão mundial de arremesso de aviões de papel, se você acha isso pouco, veja que outras maluquices as pessoas estão praticando

Chutes, saltos, vôos

JULIANA LOPES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Você tenta fazer esportes, mas quase nenhum é do seu agrado. Na escola, nunca foi campeão em nada. E você nem é uma pessoa preguiçosa. Já parou para pensar que, de repente, você se atrai por atividades incomuns? Subir pelas paredes, dobrar papel, jogar um futebol diferente e até participar de campeonatos de joquempô, vale tudo para quem quer fugir de atividades esportivas convencionais.
No começo do mês, por exemplo, o paulistano Diniz Nunes, 24, conquistou para o Brasil o título de campeão mundial na categoria tempo de vôo no campeonato mundial de aviões de papel, que rolou em Salzburgo, na Áustria.
Mas quem não se dá bem com as dobraduras pode tentar outras coisas. Gente com corpo bem preparado, bom senso e coragem pode arriscar o parkour.
O nome vem do francês "le parcour" ("o percurso"). Criado pelo parisiense David Belle, filho de um soldado vietnamita que inventou várias técnicas de se movimentar pelas trincheiras, é uma mistura do que você já viu em filmes de kung fu ou "Matrix".
No parkour, o praticante interage com o espaço à sua volta: pula de um prédio para outro, salta sobre carros, sobe escadas pelo corrimão, rola no chão, despenca de árvores... "A idéia é você saber lidar com o ambiente da melhor forma possível e ultrapassar seus medos com consciência", explica o traceur Jean Wainer, 23, representante no Brasil da Associação Mundial de Parkour (Pawa - Parkour Worlwide Association).
Comparado aos outros esportes chamados "radicais", o parkour é um dos mais simples: não é preciso dinheiro, equipamento, local específico, adversário nem competições. As exigências são internas. É preciso ter controle do corpo, da mente e noção do ambiente em que está.
Como acontece no skate ou nos patins, não é difícil se ralar, mas o perigo só aparece se for mal calculado. "Eu já olhei um muro uma vez e decidi que não ia pular. Quem se machuca não teve consciência nem do obstáculo nem do próprio corpo", diz Jean.
Menos "modinha", mas muito antigo, o sepaktakraw também está na lista das modalidades inusitadas praticadas pelos jovens. O nome é tão complicado que os envolvidos querem adaptá-lo para "takraw".
"Sepak" quer dizer chute, e "takraw", bambu, material do qual a bola era feita. O esporte surgiu na Malásia há 500 anos mas só na década de 20 passou a ser jogado como é hoje, misturando vôlei, futevôlei, habilidades do futebol e artes marciais.
Quem trouxe o esporte para o Brasil foi o arquiteto pernambucano Hilário Nóbrega da Cunha, presidente da Associação Brasileira de Sepaktakraw, em 1989. Em São Paulo, o professor de educação física Siderlei Costa Lopes é um dos mais envolvidos.
"Eu jogava badminton e descobri que uns esportistas estavam treinando com a nossa rede. Eram praticantes de sepaktakraw", conta Lopes, que também ensina o esporte para meninos da Febem.
Pode parecer um mundo à parte, mas há uma seleção brasileira de takraw que já foi quatro vezes disputar a "Copa do Rei" na Tailândia e é bicampeã da terceira divisão.
Motivos para jovens brasileiros se atraírem pelo takraw não faltam. "Todo menino, quando vê uma bola, quer chutar. Os brasileiros têm ginga, coisa que os asiáticos não têm", diz Lopes. No entanto é preciso muita disciplina para chegar aos pés dos tailandeses. "Brasileiro é mais largado, precisa ser mais sóbrio", avisa o professor.
Se o parkour e o sepaktakraw ainda estão numa escala de perigo muito além do que você procura, é melhor tentar esportes mais introspectivos.
Munidos de associações organizadoras e regras, o bilboquê e o joquempô, entre outros exemplos, atraem jovens do mundo todo. Chame de bizarro, precário, o que for, mas experimente ler as informações nos sites e até praticar um pouco para testar um possível friozinho na sua barriga.
Talvez um garoto da turma do parkour ache um absurdo alguém encarar joquempô. Mas, ainda bem, há opções para todos os gostos. Quer jogar o quê?


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