São Paulo, segunda-feira, 15 de junho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SEXO & SAÚDE

Jairo Bouer - jbouer@uol.com.br

Barrar maconha na universidade adianta?

NA ÚLTIMA semana, a direção da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo resolveu adotar uma posição linha-dura na questão do uso de maconha pelos alunos dentro do seu campus, na região do bairro de Perdizes, em São Paulo, conhecida por ser uma área da cidade mais tolerante com a maconha. A medida dividiu os alunos. Os seguranças foram orientados a abordar, identificar e até encaminhar à reitoria os alunos que forem pegos fumando.
A maconha, como você sabe, é uma droga ilícita e, portanto, proibida por lei. Desde 2006, a nova Lei das Drogas do Brasil, mais moderna, não prevê prisão para o usuário, e sim, orientação e eventual prestação de serviço comunitário ou encaminhamento para o serviço de saúde. Com o traficante, a lei é severa e prevê penas mais pesadas.
A maconha não é exclusividade da PUC. Em pesquisa feita na USP em 2001, com cerca de 3.000 alunos, quase 40% deles já tinham experimentado algum tipo de droga ilícita pelo menos uma vez na vida. Dessas, a mais frequente foi a maconha (a droga ilícita mais comum no ambiente universitário e também fora dele).
Atenção para mais alguns números: 40% relataram uso frequente de maconha por parte dos amigos, 35% já usaram maconha pelo menos uma vez na vida, 23% usaram maconha nos 12 meses anteriores à pesquisa e 17% fumaram maconha nos 30 dias anteriores à pesquisa. Só para efeito de comparação: o uso de cigarro comum (tabaco) nos 30 dias anteriores à pesquisa foi de 20%, ou seja, muito parecido com o de maconha.
Mais um detalhe revelado pela pesquisa: 28% dos jovens que já haviam feito uso de drogas pelo menos uma vez na vida começaram antes de entrar na universidade e outros 10% iniciaram o consumo depois de ingressar na USP. Trocando em miúdos, apesar de o contato com as substâncias ilícitas aumentar na universidade, a maior parte de quem já experimentou começou antes mesmo de passar no vestibular.
Moral da história: a maconha não é só uma questão da USP, da PUC ou das universidades brasileiras, e sim da nossa própria sociedade. Medidas isoladas para tentar diminuir o consumo de maconha tiveram pouco impacto em diversas experiências feitas mundo afora.
Fazer linha dura para evitar que o consumo aconteça dentro dos muros de uma ou de outra instituição pode ter efeito limitado, se não for feito um trabalho mais profundo de discussão, orientação e prevenção. É isso!


Texto Anterior: Jovem internado dá aula de judô para crianças
Próximo Texto: Carreira: Trainee de diplomata
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.