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São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 2003

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Proteja seu bolso

Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
Marina Jobes detonou o cartão de crédito da mãe no Natal de 2002 e, agora, tem de se controlar na hora das compras


Com a renda em baixa e o desemprego em alta, comprar com cautela é a palavra de ordem neste Natal

DA REPORTAGEM LOCAL

Salvo aqueles que pertencem às classes mais abastadas, o jovem é tradicionalmente um sujeito que tem pouca grana. Ou estuda e ganha mesada, ou trabalha e ganha pouco, ou ainda estagia, não ganha nada e se vira com uns bicos. Em um ano de taxa de juros alta, inflação e desemprego recorde, a situação desse grupo fica ainda mais apertada. Junte isso ao apelo por consumo voraz típico da época de Natal e pronto. O tamanho dos desejos quase nunca equivale ao tamanho do bolso e aí é frustração na certa.
"A renda real do consumidor nunca esteve tão baixa", afirma Cláudio Felisoni de Ângelo, coordenador do Programa de Administração de Varejo da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP. "As condições atuais são desfavoráveis ao consumo", explica. "E, com isso, a mesada ou o salário perderam poder de compra."
Quem saiu a campo, em shoppings e centros comerciais, já percebeu isso na prática. "Está tudo muito caro, não vai dar para presentear todo mundo. Para os amigos, vou dar uma coisa bem de promoção ou um cartãozinho", queixa-se Henrique Lourenzo, 17, que trabalha e, mesmo assim, está com pouco dinheiro para o Natal. "Como não gosto de ficar com dívida em loja, pego dinheiro emprestado com a minha mãe e, depois, devolvo tudo em parcelas", conta.

Desmedida
"No Natal, sempre tenho uma lista de coisas que quis durante o ano inteiro e que não pude comprar com a minha mesada. O problema é que tudo está caro. E ainda tem a mídia, que faz a gente querer várias coisas. Sei que a propaganda influencia muito, mas, mesmo assim, caio nessa", admite Marina Rosas, 14.
"O jovem é muito afetado pelos estímulos do consumo e acaba se sentindo compelido a comprar", explica Aron Belinky, do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente. "O consumidor é quem tem o controle. Ele não é o objeto e pode exercer suas decisões com autonomia."
No caso de Marina, essa autonomia bate de frente com a realidade numa conversa com sua mãe. "Ela é quem me questiona. Vê de que eu preciso de verdade e o que eu realmente vou usar."

No vermelho
Quem não tem um bom radar para reconhecer o que é realmente necessário, o que está com valor superestimado e o que pode ser uma boa alternativa aos presentes caros pode cair numa roubada e acabar entrando no ano novo com uma porção de dívidas do Natal anterior.
Foi isso o que aconteceu com Marina Jobes, 18. No Natal de 2002, munida de um cartão de crédito vinculado à conta bancária da mãe, Marina fez a festa -e um belo estrago nas finanças familiares. "Ela detonou. Gastou duas vezes mais do que havíamos combinado. Não tive dúvidas. Tirei o cartão dela", conta a mãe, Tânia, 40. "Agora, tenho de segurar a minha onda. Mesmo assim, gastei cerca de R$ 550 em presentes até agora. Isso porque ainda falta a família, o amigo-secreto... A grana está curta, não tem jeito. Aí, fico passando vontade", diz Marina.
Para Christina Hajaj Gonzalez, 33, coordenadora do Ambulatório de Transtornos Obsessivo-Compulsivos da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), "a ansiedade por comprar e por querer presentear e o fato de não ter grana para isso é algo universal". "E o jovem, é claro, não foge à regra."
"Quanto maior a oferta de compras, maior a incidência de pessoas com problemas em relação àquilo", explica Juliana Bizeto, coordenadora do setor de compras compulsivas do Proad (Programa de Orientação e Atendimento a Dependente). "Já vivemos em uma sociedade de consumo; com esse apelo de Natal, então, os jovens possivelmente se tornam mais vulneráveis."
Belinky aposta na via alternativa. "Há muitas coisas que se podem dar de presente e que não são caras e, às vezes, não custam nada. Fitas ou CDs gravados, desenhos, comidas e poesias sempre funcionam." (FERNANDA MENA)


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